Foto: Reprodução/GloboNews
Reprodução de vídeo de reunião ministerial do governo Bolsonaro liberado pelo ministro do STF 22 de maio de 2020 | 21:40

Em reunião, Bolsonaro chama Folha de ‘bosta’ e diz que demitirá quem for elogiado pelo jornal

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Na reunião ministerial do dia 22 de abril, o presidente Jair Bolsonaro chamou o jornal Folha de S. Paulo de “bosta” e disse que seria demitido o integrante de sua equipe que recebesse elogios no jornal.

As declarações foram registradas em vídeo do encontro gravado pelo Palácio do Planalto e cujo conteúdo foi disponibilizado nesta sexta-feira (22) pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello.

Nos primeiros minutos da reunião, o presidente reclamou de reportagem da Folha, publicada em abril, segundo a qual Renato Bolsonaro, irmão do presidente, foi barrado em um açougue por se recusar a cumprir medidas de segurança determinadas pela Prefeitura de Registro (SP) para prevenir o contágio do coronavírus.

“Aí a bosta da Folha de S.Paulo diz que meu irmão foi expulso de um açougue em Registro, que estava comprando carne sem máscara. Comprovou no papel, estava em São Paulo esse dia. O dono do açougue falou que ele não estava lá. E fica por isso mesmo. Eu sei que é problema dele, né? Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família”, disse.

O episódio foi confirmado à Folha por duas pessoas, segundo as quais o irmão do presidente tentou burlar a regra, e pela própria dona do açougue, Andréia Brites, em depoimento gravado pela reportagem.

Um dia depois, Andréia mudou de versão, admitiu ter feito o relato à Folha, mas disse ter sido levada a erro por funcionários que teriam confundido Renato com outro cliente.

No decorrer da reunião, o presidente citou novamente a Folha. Ele disse que “perde o ministério” o auxiliar presidencial que for elogiado pela publicação. Ele fez a mesma referência ao jornal O Globo e ao site O Antagonista.

“Aqui eu já falei: perde o ministério quem for elogiado pela Folha ou pelo Globo. Pelo Antagonista, né? Então, tem certos blogs aí que só tem notícia boa de ministro. Eu não sei como. O presidente leva porrada, mas o ministro é elogiado. A gente vê por aí. ‘O ministério está indo bem, apesar do presidente’. Vai pra puta que o pariu, porra. Eu que escalei o time, porra. Trocamos cinco. Espero trocar mais”, disse.

Na reunião, o presidente também criticou o vazamento de informações sobre seu governo e disse que é necessário ignorar 100% os veículos de imprensa, a quem se referiu como “pulhas”.

“Não pode falar nada. Tem que ignorar esses caras 100%. Senão, a gente não vai para frente. A gente está sendo pautado por esses pulhas. O tempo todo jogando um contra o outro”, disse. “Então, se a gente puder falar zero com a imprensa, é a saída”, acrescentou.

No decorrer do encontro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse ainda que o governo federal deveria aproveitar que as atenções dos meios de comunicação estão focadas na crise do coronavírus para aprovar reformas infralegais de flexibilização ambiental.

“Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, disse.

O ministro citou mudanças de desregulamentação e simplificação também no Ministério da Agricultura e no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

“Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada”, disse.

No encontro, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que teve uma conversa no dia da reunião com representantes da TV Bandeirantes que lhe pediram dinheiro. Ele relatou que, na conversa, passou “meia hora levando porrada” e criticou o fato de funcionários da empresa trabalharem em esquema de home office durante a pandemia do novo coronavírus.

“Hoje de manhã, o pessoal da Band queria dinheiro. O ponto é o seguinte, vai ou não vai dar dinheiro pra Bandeirantes? Não vai dar dinheiro pra Bandeirantes? Passei meia hora levando porrada, mas repliquei. E falei: ‘Olha, vocês estão em casa? Eu tenho 30 mil funcionários na rua. Não tem esse negócio, essa frescurada de home office'”, afirmou.

Folhapress
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