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Num grupo político amplo, a major Denice só tem o apoio de Rui, do PT e do PSB 24 de setembro de 2020 | 09:12

A estratégia negativa da aposta no segundo turno, por Raul Monteiro*

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Bem apresentada enquanto discurso, a defesa do PT – e naturalmente do governo Rui Costa – em favor da realização do segundo turno nas eleições de Salvador mal esconde a desconfiança em relação às chances reais de sua candidata, a major Denice Santiago, se viabilizar. Pode ser mesmo encarada como uma estratégia negativa, que aposta na possibilidade de um conjunto de variáveis se articularem de forma harmônica e ajudarem na consecução final do objetivo, a vitória na eleição ao Palácio Thomé de Souza, cuja única certeza, no entanto, é exatamente a dificuldade de controlá-las.

Mas a proposta de mexer as peças do tabuleiro em favor de uma disputa que se resolva em dois confrontos ao invés de apenas em um turno traz ainda um elemento que deveria ser pelo menos encarado como um dilema por quem a defende e tem responsabilidade: ela é absolutamente onerosa para o país num momento de crise profunda que deve se prolongar na medida que o descontrole sobre a pandemia continue enquanto não emerge, dos círculos alvejados da ciência, uma vacina com a qual, independentemente dos incentivos em contrário de algumas autoridades, a grande maioria dos cidadãos do país ache por bem se imunizar.

A aposta num segundo turno é também motivo de insegurança, ciúme e cizânia nem sempre reveladas entre os aliados do governo, que a vêem sendo defendida como forma de atingir a meta de eleger a candidata do PT em detrimento dos demais postulantes. Entre aqueles que, exclusivamente como ela, não têm a preferência do governador para se eleger sobram críticas à idéia e mesmo ao nome do PT e do petista na sucessão. Não é difícil pegar a maioria dizendo que a major vai acabar ficando pela estrada, enquanto eles assumirão a dianteira, o que significaria impor uma derrota mesmo, em primeiro lugar, ao líder maior do grupo.

Parte da discórdia, que deverá ficar contida mesmo depois da eleição, se levada em conta a tradição do movimento de forças que orbitam em torno de todo poder, foi atiçada pelo próprio governador ao avisar que, por força da legislação eleitoral, não teria como participar do programa de televisão de nenhum dos outros quatro candidatos do grupo – Bacelar (Podemos), Celsinho Cotrim (PROS), Isidório (Avante) e Olívia Santana (PCdoB) -, o que confirma a previsão de que a vinculação de seu nome, forte em Salvador, com o de outros que não o de Denice ficou mesmo no passado, no momento das convenções.

É um cenário em que, naturalmente, Denice não contará com a colaboração de mais ninguém, além da do PSB, que indicou sua companheira de chapa, do seu partido e do governador, e que mostra aquele que seus articuladores apontam como seu maior adversário, o democrata Bruno Reis, candidato do prefeito ACM Neto (DEM), numa ampla vantagem que o confirma como favorito. É uma condição construída ao longo de anos, sob um grande grau de previsibilidade e planejamento político – em tudo diferente do que aconteceu com os adversários – para suceder um prefeito bem avaliado cuja qualidade da gestão e seus efeitos sobre a cidade estarão em julgamento pelos eleitores.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

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