11 agosto 2025
Notas fiscais apreendidas pela força-tarefa da Lava Jato São Paulo identificaram que o Hotel Giprita, da família do ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, recebeu R$ 1,3 milhão por reservas feitas em nome do próprio hotel. Os depósitos teriam sido realizados entre 2016 e 2019 e apontavam para situações suspeitas, como uma reserva de apenas oito minutos que custou R$ 4,3 mil e foi paga em dinheiro.
As acusações constam na denúncia apresentada nesta quinta, 3, pela Lava Jato bandeirante contra Paulo Vieira de Souza, apontado como operador de propinas do PSDB. O ex-diretor da Dersa é acusado de lavagem de dinheiro por meio de depósitos que inflavam artificialmente o caixa do hotel da família com objetivo de ocultar a origem de vantagens ilícitas. O estabelecimento, então, quitava despesas pessoais e familiares de Paulo Vieira de Souza, como a compra e manutenção de veículos de luxo e reforma de imóveis.
De acordo com as investigações, o Hotel Giprita, localizado em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, emitiu notas fiscais no valor de R$ 1,3 milhão no período de 25 meses (agosto a dezembro de 2016, janeiro a junho de 2017 e dezembro de 2018 a agosto de 2019). As reservas eram feitas em nome do próprio hotel, como se ele fosse o hóspede do estabelecimento. Em média, era como se o hotel recebesse R$ 50 mil de si próprio por mês.
“Os valores indicados nessas notas de hospedagem em que figura o próprio hotel como hóspede, aliás, são não apenas muito superiores à média observável em estabelecimentos similares na mesma região em que localizado o hotel Giprita mas, também, muito superiores àqueles que constam em notas correspondentes a hóspedes pessoas físicas (clientes efetivos), o que reforça a percepção de que tais registros tinham como objetivo dar aparência de licitude, como se decorrentes de atividade hoteleira fossem, a valores recursos oriundos de práticas criminosas”, aponta a Lava Jato.
Segundo os procuradores, a coordenação dos depósitos ficava por conta da ex-mulher de Paulo Vieira de Souza, Ruth Arana de Souza, que coordenava o melhor momento de ‘lançar’ as reservas com um gerente do estabelecimento. Ela também foi denunciada pela Lava Jato.
Em diálogo obtido pela força-tarefa, Ruth discute com o funcionário sobre a melhor data para fazer o registro das reservas. Ela pede ao gerente que lançasse no dia 23 de fevereiro os registros de pagamentos de reserva nos valores de R$ 1.650, R$ 2.100 e R$ 1.800. As notas fiscais elaboradas indicam que o próprio hotel teria ocupado, como hóspede, três unidades do estabelecimento no mesmo dia, com pagamento em dinheiro.
“Chama a atenção o fato de que os registros de entrada e saída, em cada uma das três diárias, indicam um intervalo entre o check-in e o check-out não superior a 40 minutos em cada uma delas, e em horários que integralmente coincidem”, aponta a Lava Jato SP.
Buscas na residência da ex-mulher de Paulo Vieira de Souza descobriram anotações de depósitos com valores e datas que batem com notas fiscais suspeitas emitidas em nome do próprio estabelecimento.
Além disso, outras atividades suspeitas foram descobertas pela Procuradoria, como o fato do Hotel Giprita ter recebido R$ 4,3 mil em dinheiro por uma hospedagem para si próprio de apenas oito minutos. Em outro caso, o estabelecimento recebeu R$ 8 mil em espécie pela ocupação de três quartos durante uma única tarde – mas cobrou duas diárias de cada quarto.
Estadão