11 de setembro de 2020 | 07:33

Presidente do Peru enfrenta crise política após pedir que assessoras mintam em inquérito do Congresso

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O presidente peruano, Martín Vizcarra, enfrenta uma grave crise política, que pode causar sua destituição, após a divulgação no Congresso nesta quinta-feira (10) de áudios em que ele pede a assessoras que mintam em um inquérito parlamentar sobre sua relação com um ex-colaborador investigado por contratos irregulares.

Após a reprodução dos áudios durante uma sessão legislativa, o presidente do Congresso, Manuel Arturo Merino de Lama, convocou uma reunião com representantes dos partidos para avaliar se os parlamentares pediriam a abertura de uma comissão de inquérito ou se iniciariam o processo de destituição do presidente por incapacidade moral.

“Primeiro você tem que ver o que é, e depois o que vai ser dito”, diz Vizcarra a duas de suas colaboradoras no áudio. Ele pede a elas que mintam ao Congresso sobre a quantidade de vezes que o ex-assessor sob investigação esteve palácio do governo.

As interlocutoras do presidente são Miriam Morales e Karem Roca —elas dizem a Vizcarra que o suspeito foi ao local cinco vezes. “É preciso dizer que ele entrou duas vezes”, pede o presidente.

“O que é claro é que estamos todos envolvidos nesta investigação”, acrescenta.

O pivô do episódio que levou Vizcarra à beira do impeachment é Richard Cisneros, um cantor contratado pelo governo como orador e apresentador.

O caso explodiu em maio, quando a imprensa descobriu que o Ministério da Cultura havia oferecido contratos supostamente irregulares de US$ 10 mil (R$ 53 mil) a Cisneros, um artista pouco conhecido na mídia local, em plena pandemia do novo coronavírus.

Os áudios vêm a público em meio a embates constantes entre Legislativo e Executivo por causa da votação de uma reforma política proposta pelo governo. Uma das novas regras proibiria que condenados pela Justiça disputassem cargos eletivos.

As gravações de Vizcarra foram divulgadas pelo deputado Edgar Alarcón, presidente da comissão que investiga as suspeitas de irregularidades na Cultura. “Podem ver que há uma falha moral. O presidente não pode mentir”, disse ele, que pertence ao partido de centro-esquerda Unión por el Peru.

“Há rumores de que a cadeira ficará vaga”, afirmou o deputado Moisés Gonzáles, da populista Aliança para o Progresso (APP). “É claro que o presidente Vizcarra mentiu para o país”, disse o deputado Omar Chehade, também da APP.

A crise irrompe enquanto o Peru é um dos países mais afetados pela Covid-19 no mundo, com mais de 700 mil infecções e 30 mil mortes.

Folha de S.Paulo
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