9 julho 2025
Por qualquer lado que se olhe, são claros os sinais de que começou de forma estranha a campanha da candidata do PT à Prefeitura de Salvador. E isso, naturalmente, está repercutindo nos seus primeiros passos, com possibilidade de influir negativamente no seu desempenho eleitoral e, aliás, na eleição da bancada do partido na Câmara Municipal. Depois das peripécias que acompanharam o surgimento de seu nome, o tempo que lhe restou de propaganda na TV e Rádio é mais uma evidência de que, apesar de sua garra, entre outras qualidades, muito pouco tem sido feito no sentido de potencializá-las.
Pelo contrário, a idéia do improviso predomina, deixando-a, para alguém que representa tão diretamente o governador Rui Costa (PT) na disputa, em situação muitas vezes de desvantagem em relação a outros candidatos do mesmo grupo liderado pelo petista. Não faltam apenas experiência e vivência políticas à major Denice Santiago, o que abunda em Olívia Santana, candidata do PCdoB, e em Bacelar, nome do Podemos, embora para alguns esta talvez seja a maior deficiência da candidata, ainda mais porque muito difícil de ser superada no espaço curto de uma campanha, sobretudo por alguém que nunca disputou um cargo eletivo.
Contar com pouco mais de um minuto de tempo para se apresentar e às suas propostas ao eleitorado não deixa de ser um problema para uma candidatura que foi projetada para polarizar a disputa com um candidato que é favorito nas pesquisas, o democrata Bruno Reis, que tem quatro vezes mais espaço para fazê-lo e tem sabido aproveitá-lo inteligentemente tanto do ponto de vista de conteúdo quanto esteticamente. Não se esperava nada diferente do grupo do prefeito ACM Neto (DEM), seu padrinho político, mas a superioridade da campanha do democrata termina sendo indiscutível.
Abrir mão da possibilidade de um confronto mais igualitário do ponto de vista de tempo na propaganda foi uma opção do governador e do seu partido. Não se sabe se pela lei do menor esforço ou outro motivo, preferiu-se investir no lançamento de várias candidaturas à sucessão no seu grupo a concentrar os aliados em torno da chapa petista, em busca da idéia de forçar a realização de um segundo turno improvável, ainda mais por um eleitorado bastante desanimado e talvez ainda mais resistente ao pleito, por causa do clima de insegurança causado pela pandemia do novo coronavírus.
O resultado é o que se assiste agora, em que nem tempo major Denice e os adversários possuem para acusar Bruno de não querer ir a debates e de não ser ACM Neto, como se ele fosse o dono das emissoras que desistiram de realizá-los ou se pudesse mesmo fugir da obviedade de que um candidato e seu padrinho são duas personalidades distintas e têm CPF políticos diferentes, apesar de pertencerem ao mesmo grupo, muito mais coeso, por sinal, do que o do governo. Acusações, aliás, gravíssimas, capazes, pelo menos na concepção de quem as faz, de virar a cabeça do eleitor. É o que se supõe.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.