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O governador da Bahia e sua candidata, Denice Santiago: derrota fragorosa e anunciada 15 de novembro de 2020 | 22:50

Culpa solitária: Rui Costa pode compartilhar derrota de Denice, no máximo, com o PT

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Na primeira oportunidade que teve para se mostrar um articulador político, o governador Rui Costa (PT) fracassou. Feio. O resultado das eleições em Salvador hoje, onde a major Denice Santiago (PT) teve menos de 20% dos votos, dez pontos a menos do que a fatia tradicional do petismo na capital baiana, é a prova de sua derrota.

Uma derrota que, aliás, só pode ser compartilhada com o PT.

Submisso ao poder de Rui, o partido em Salvador encampou, sem contestação, a opção que o governador fez, praticamente sozinho, em defesa da candidatura de uma ex-comandante de um Batalhão especial da PM e acabou tragado pelo mesmo retumbante fracasso.

A ‘invencionice’ de lançar um nome sem vinculação com a sigla, sua militância e inserção na sociedade, escolhido e filiado de última hora, com trajetória política zero e, o mais grave, inexperiente na vida pública, na expectativa de que galvanizasse os militantes e conquistasse o eleitorado, se mostrou um fiasco.

Não foi por falta de aviso. Nem de respeito a alguns ditados que se prestam também às decisões políticas: o que começa errado, muito raramente é concluído de forma correta. Mas Rui não se equivocou apenas na escolha da candidatura.

Talvez o resultado de hoje pudesse ter sido minimizado se, pelo menos, tivesse conseguido corrigir a opção ousada (ou insensata) por meio de uma estratégia política que visasse minimizar suas dificuldades natas. Foi o contrário do que se viu.

Na expectativa de jogar a decisão eleitoral para o segundo turno, o que já era uma temeridade, ou, para alguns, o recibo de que a estratégia se movia em torno de uma derrota anunciada, o governador achou por bem pulverizar o número de candidaturas de seu lado.

Lançou pelo menos quatro delas na esperança de se concentrar na de Denice e permitir que os os outros crescessem sozinhos, sem seu carinho e atenção, sovando um bolo que lhe permitiria supostamente tirar a vantagem, na campanha, do favorito que as urnas consagraram, Bruno Reis (DEM). Os fatos, no entanto, se impuseram à sua ideia.

Aliás, o principal resultado do plano foi ter encurtado o tempo de TV da candidata petista, que, ao invés de crescer para fora, sugou os votos dos concorrentes do mesmo campo. As principais vítimas foram Olívia Santana, do PCdoB, e o Pastor Sargento Isidório, do Avante.

A tal ponto que a perigosa aventura da extrema-direita, personalizada na figura do vereador Cézar Leite, do PRTB, quase chega na terceira posição, praticamente deixando, à exceção do “Doido”, o restante do time de Rui todo para trás.

A suposição de que o governo do Estado foi o que mais fez por Salvador nos últimos anos, explorada pela propaganda governista, de que tudo fora obra do governador e o prestígio decorrente das intervenções seria transferido para a candidata, se mostrou outra falácia.

Mas o processo todo andou de forma tão desencontrada no campo do governo e dos seus artífices que nem a candidata preferencial, do peito, logrou desfrutar, no grupo, de qualquer privilégio que pudesse resultar numa melhor performance eleitoral.

A falta de generosidade política que atribuem a Rui e se tornou a marca do petismo, pelo menos na Bahia, a atingiu também em cheio. Não se via volume de sua campanha nas ruas, seu programa eleitoral foi um vexame, assim como o trabalho daqueles que deveriam ter lhe dado suporte na disputa.

A coordenadora dos trabalhos era de Itamaraju, município longíquo do Extremo Sul, cujas semelhanças com a complexa Salvador deverão ainda, provavelmente, depois deste resultado, ser estudadas. Para completar, Denice teve que se ver com, como disse um importante petista, um time do quinto escalão.

Tanto no governo quanto em seu próprio partido. Uma medida da prioridade real, verdadeira de sua candidatura. O desespero dos candidatos a vereador petistas no dia de hoje pela manhã, quando a votação já havia sido iniciada, demonstrava o grau da devastação e, ao mesmo tempo, a irrealidade da tese do segundo turno.

Se faltariam vagas para quem se imaginava, concretamente, eleito, como haveria segundo turno? Termo que é um tabu na esquerda brasileira, o fracasso de Rui e do PT em Salvador pode ser, no entanto, colocado na conta do autoritarismo que presidiu suas escolhas desde o princípio.

Opções que, com o consentimento da legenda, privaram de espaço, respeito e oportunidade quadros que, se poderiam ser questionados do ponto de vista da viabilidade eleitoral, teriam permitido hoje à legenda encerrar este ciclo no município com muito mais dignidade.

Pelo menos há dois anos pela frente para se aprender algo com a dura lição de hoje na capital baiana. A menos que o plano do governador, como as teorias da conspiração que florescem no próprio petismo estimam, aludindo a um longíquo sonho seu, fosse exatamente este: deixar o terreno limpo para ser candidato a prefeito em 2024.

O que –  vamo combinar! – não deixaria de ser um golpe extremamente baixo.

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