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Entidade do setor telecomunicações divulgou carta pedindo transparência no leilão 5G no Brasil 06 de dezembro de 2020 | 09:27

Tentativa de barrar Huawei vira novo conflito com China

economia

O setor de telecomunicações é o mais recente a tentar limitar políticas do governo Bolsonaro. Há pouco mais de uma semana, a Conexis Brasil Digital (que reúne empresas como Claro, Oi, TIM e Vivo, entre outras) divulgou uma carta em que pedia “transparência de todo o processo (de implantação do 5G no País), prezando assim pelo princípio fundamental da livre iniciativa presente em nossa Constituição Federal”. De acordo com o presidente da entidade, Marcos Ferrari, no entanto, o documento era apenas “um convite para se dialogar sobre o tema”.

Ferrari afirma que a agenda do setor com o governo é “bastante positiva e intensa”. “Temos conseguido marcar reuniões. Já falamos com os ministérios da Economia, da Casa Civil e das Comunicações, mas, a cada dia, fica mais perto do possível edital (para o leilão do 5G). Aí precisamos dialogar com mais intensidade”, diz.

A Conexis e a Federação Nacional de Infraestrutura de Redes e Telecomunicações (Feninfra) defendem a participação da chinesa Huawei no leilão, dado que, se ela for excluída, restariam apenas duas fornecedoras no mercado, a sueca Ericsson e a finlandesa Nokia, o que encareceria a tecnologia. Mas uma ala do governo, da qual fazem parte o presidente Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, gostaria de banir a empresa do processo, alinhando o País aos EUA na guerra comercial contra a China.

Enquanto esse trio mantém uma postura de embate contra Pequim, o empresariado tem procurado o vice-presidente do País como interlocutor, dado que Mourão é presidente da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban). As conversas com Mourão têm tido um tom mais propositivo, com os empresários destacando a importância de uma relação de longo prazo com a China, que se tornou protagonista no desenvolvimento de tecnologias e tem rivalizado com os EUA o papel de maior investidor no Brasil, segundo uma fonte.

O presidente da Câmara Brasil-China, Charles Tang, diz estar preocupado com essa situação e que o “Brasil deveria pensar mais em seus interesses”. “Não adianta prejudicar o Brasil para agradar um presidente que está de saída”, afirma, em referência à troca na Casa Branca, com Joe Biden no lugar de Donald Trump. Segundo Tang, a competição entre China e EUA será dura sob o novo governo, mas a guerra fria instaurada por Trump não existirá.

Tang diz que a guerra comercial entre China e Austrália deveria colocar o Brasil em alerta. O conflito começou depois que australianos defenderam investigar a origem do coronavírus. Uma das consequências foi a China impor medidas antidumping ao vinho australiano, criando um imposto de importação de mais de 200% ao produto, que tem no país asiático seu principal mercado.

Apesar de o setor privado estar se movimentando, ele não está tocando no cerne do problema, avalia Marcelo Seraphim, representante do Principles for Responsible Investment (PRI) no Brasil, organização criada com apoio da ONU. Segundo ele, seria necessário, na questão da Amazônia, por exemplo, fazer pressão para a reestruturação de órgãos fiscalizadores, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “Isso é um equívoco. Está se correndo um risco grande de se perder investimentos.”

Estadão
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