Foto: Wilton Júnior/Estadão
Jair Bolsonaro 24 de fevereiro de 2021 | 06:35

Intervenção de Bolsonaro na Petrobras afugenta investidores estrangeiros

economia

A intervenção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no comando da Petrobras foi o golpe mais forte na confiança do investidor estrangeiro desde o início deste governo e provocou novas dúvidas sobre o tamanho do poder que o ministro Paulo Guedes (Economia) ainda exerce sobre a política econômica do Brasil.

Os donos do dinheiro no exterior já estavam bastante cautelosos quanto a fazer aportes no Brasil, que tem perdido relevância global por causa da piora de seus indicadores econômicos e não possui grau de investimento há algum tempo. Assim, o impacto da interferência do presidente brasileiro na estatal do petróleo causou temor de um efeito cascata em outras empresas públicas e deve ter reflexos a longo prazo no mercado externo.

Muitos dos investidores nos EUA não acreditam que Guedes deixará o cargo em breve. Dizem que o ministro —que sempre afirmou ter sido rechaçado pelos intelectuais da economia— agora se sente aceito no poder.

As perguntas que fazem, porém, são sobre a influência que ele terá como fiador de uma agenda liberal daqui para frente, diante da postura intervencionista de Bolsonaro.

No fim da semana passada, o presidente brasileiro anunciou a troca no comando da Petrobras, com a indicação do general Joaquim Silva e Luna no lugar de Roberto Castello Branco, economista ligado a Guedes.

A reação do mercado foi histórica, com reflexos negativos na Bolsa, câmbio, risco-país, juros futuros, e a revisão generalizada nas avaliações de bancos e agência de classificação de risco em relação às estatais do país —agora vistas com mais pessimismo.

As ações da Petrobras caíram mais de 21,5% só na segunda-feira (22) e a companhia chegou a perder R$ 102,5 bilhões em valor de mercado desde sexta-feira (19), quando Bolsonaro anunciou a troca do comando na estatal.

Em Nova York, as ADRs (certificados de ações negociados nos Estados Unidos) da Petrobras caíram 21% na segunda. Esses papéis, que geralmente estão na 34ª posição entre os mais negociados, ficaram em 5º lugar na data, movimentando US$ 1,64 bilhão, contra média diária de US$ 400 milhões.

A reação negativa do mercado arrefeceu na terça-feira (23) após Bolsonaro aliviar o discurso intervencionista e o governo sinalizar, ao longo do dia, que iria destravar a processo de privatização da Eletrobras. Ainda assim, a petroleira acumulava perda de R$ 73,5 bilhões no Brasil.

Em NY os papéis subiram 6,68% nesta terça.

Investidores e analistas ouvidos pela Folha afirmam que a interferência de Bolsonaro causou preocupação no mercado estrangeiro, que vê nas ações da Petrobras o principal termômetro da economia do Brasil, e pode ter afugentado os poucos investimentos que entravam no país.

“A reação do mercado diz tudo sobre a reação de investidores. Sem dúvida, o que aconteceu não ajuda a convencer estrangeiros a voltarem a investir no Brasil”, diz Will Landers, chefe de renda variável para a América Latina do BTG Pactual. “Começou a entrar um pouco de dinheiro estrangeiro [no Brasil] em novembro. [Esse movimento] tinha continuado nos primeiros 45 dias do ano, mas a Petro caindo 20% em um dia não ajuda ninguém.”

Desde o início do governo Bolsonaro, investidores estrangeiros têm esperado o que chamam de melhor momento para colocar dinheiro no país, mas isso ainda não aconteceu de maneira efetiva e em grande escala.

Folhapress
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