Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Banco Central 19 de março de 2021 | 09:12

BC não considera riscos da alta de juros na nova crise da Covid e divide economistas

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O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central surpreendeu o mercado ao elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, a 2,75% ao ano, patamar considerado agressivo por alguns especialistas.

O comunicado da decisão, divulgado na quarta-feira (17), minimizou o risco do agravamento recente da pandemia de Covid-19 na atividade econômica e dividiu analistas.

Antes da reunião, era praticamente consenso no mercado que o BC elevaria os juros em 0,5 ponto percentual.

O Copom afirmou que indicadores recentes como a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) do quarto trimestre “continuaram indicando recuperação consistente da economia”.

O texto reconhece que o cenário analisado pela autoridade monetária ainda não reflete o avanço recente da pandemia e menciona incertezas sobre o crescimento no primeiro e no segundo trimestres.

A avaliação dividiu analistas consultados pela Folha. Parte enxergou como exagerada a alta de 0,75 ponto percentual diante da iminente queda da atividade com as novas medidas de restrição. Outros economistas, no entanto, consideraram a decisão adequada em meio à escalada de preços.

O economista-chefe da consultoria Análise Econômica, André Galhardo, ressalta que o BC não considerou o encerramento do auxílio emergencial e justificou a decisão em dados de atividade econômica anteriores ao agravamento da pandemia.

“Fazer essa leitura olhando para trás é problemático. No comunicado não levaram em consideração o encerramento do auxílio emergencial e que a pandemia ficou muito pior especialmente a partir do fim de fevereiro. Essas questões deveriam ser melhor exploradas no texto”, considera.

Para ele, o comunicado foi contraditório ao dizer que o choque de preços é temporário e ao mesmo tempo aumentar em 0,75 ponto percentual a taxa Selic, patamar que considerou superior ao necessário, como resposta à inflação.

“Não faz muito sentido. Em outra análise, parece estranho o BC usar uma política monetária menos expansionista [aumentar juros] para controlar uma inflação cuja principal contribuinte é a taxa de câmbio. Não é suficiente para frear a desvalorização do Real, mas é muito elevada na questão fiscal, que o próprio BC menciona como preocupante. Quando aumenta a Selic, a dívida pública é elevada e, por consequência, aumenta o prêmio de risco”, avalia.

José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, mantém sua posição expressa logo após a divulgação do Copom de que a decisão foi um erro. “[O comunicado] desconsiderou a atividade econômica em queda, a piora da pandemia e o fim do auxílio emergencial. O ritmo sinalizado não é compatível com a realidade da economia”, disse.

Larissa Garcia e Fábio Pupo/Folhapress
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