Foto: Marcos Corrêa/PR
Jair Bolsonaro e Ciro Nogueira 21 de julho de 2021 | 22:08

Em plano de governo de Bolsonaro, ‘lotear’ ministério era ‘corrupção’ e ‘toma lá, dá cá’

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A decisão do presidente Jair Bolsonaro de nomear o senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI) para o Ministério da Casa Civil e recriar a pasta do Trabalho, que será batizada de Emprego e Previdência, para abrigar Onyx Lorenzoni contraria, em forma e conteúdo, todas as promessas de campanha oficializadas pelo chefe do Poder Executivo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na eleição de 2018.

O plano de governo que Bolsonaro enviou ao TSE contém críticas pesadas a um elevado número de ministérios, algo que ele classificou como “loteamento do Estado”. No papel, Bolsonaro disse que “um número elevado de ministérios é ineficiente, não atendendo os legítimos interesses da Nação”.

O então candidato também afirmou que a prática de acomodar políticos em estruturas da máquina pública em troca de apoio é algo “pernicioso”, “corrupto” e um “toma lá, dá cá”.

“O quadro atual deve ser visto como o resultado da forma perniciosa e corrupta de se fazer política nas últimas décadas, caracterizada pelo loteamento do Estado, o popular toma lá dá cá”, afirma Bolsonaro, em seu plano de governo. Então candidato em 2018, ele cravava que o “País funcionará melhor com menos ministérios”.

A aproximação de Bolsonaro com o Centrão, como é chamado o grupo de partidos que se aliam a governos em troca de cargos e poder, se acentuou no ano passado, após o presidente sofrer sucessivas derrotas no Congresso e se ver ameaçado pela abertura de um processo de impeachment. Desde então, Bolsonaro passou a entregar cargos no segundo e terceiro escalão do governo a nomes indicados pelo grupo. Mas não ficou por aí.

Agora, com Ciro Nogueira na Casa Civil e a deputada Flávia Arruda (PL-DF) na Secretaria de Governo, serão quatro os ministérios ocupados por partidos que integram o grupo político – que também tem os deputados João Roma (Republicanos-BA) na Cidadania e Fábio Faria (PSD-RN) nas Comunicações.

Além de contrastar com o plano de governo, a aliança com o Centrão contraria o discurso efusivo de Bolsonaro durante a campanha eleitoral, quando tocava no assunto. Por diversas ocasiões, ele afirmou que não “lotearia” o governo em troca de apoio político e que não negociaria ministérios com partidos, relacionando essa prática aos episódios de corrupção nas gestões petistas.

Eleito com um discurso de enxugamento da máquina pública, Bolsonaro também anunciava uma Esplanada com apenas 15 ministérios. Com a pasta do Trabalho, ela voltara a ter 24, nove a mais do que o prometido.

Em um evento do PSL em julho de 2018, um dos principais auxiliares de Bolsonaro, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chegou a ironizar o grupo político parodiando uma canção popular. “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”, cantarolou o militar.

Estadão Conteúdo
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