Foto: Ronny Santos/Folhapress
Cesta com 13 itens sai por R$ 640, 51 na capital paulista, mais da metade do valor do salário mínimo 11 de setembro de 2021 | 17:15

População trabalha 15 dias para comprar cesta básica, diz estudo

economia

Um morador da capital paulista que recebe até um salário mínimo (de R$ 1.100 em 2021) trabalha aproximadamente 15 dias para pagar uma cesta básica no valor médio de R$ 640,51. Isso significa que metade do mês de trabalho é destinado à compra de itens básicos para a alimentação.

O cálculo integra estudo do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul), que acompanha o preço de 13 itens da cesta. Os dados da cidade de São Paulo foram levantados com exclusividade para o Agora.

Os alimentos são um dos principais vilões no bolso do consumidor no último ano. Tanto que nos 12 meses encerrados em agosto, o grupo acumula encarecimento de 13,94%, de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Jefferson José da Conceição, coordenador do Conjuscs, explica que o aumento dos itens que compõem a cesta básica é causado por um conjunto de fatores, como a pandemia, a alta do dólar e o incremento no preço da energia elétrica e dos combustíveis.

Moradora da Vila Formosa (zona leste), Cristiane de Souza, 38 anos, diz que a conta não tem fechado desde o início da pandemia. Ela trabalha como ambulante, vendendo trufas e doces na porta de bares da zona leste, e interrompeu o trabalho durante a crise da Covid-19.

Cristiane voltou a vender seus produtos há cinco meses e, desde então, a renda média mensal da família é de R$ 1.000 —quantia que é suficiente para pagar apenas o aluguel da casa onde mora com o marido, que é tetraplégico, e dois filhos menores de idade.

O “arroz e feijão” de cada dia não está garantido, uma vez que a família depende de doações que chegam conforme conhecidos conseguem ajudar.

Outros itens básicos do dia a dia também estão pesando no bolso. O gás de cozinha, por exemplo, encareceu 30,22% nos últimos 12 meses, mostra o IPCA. O estudo do Conjuscs indica que uma pessoa trabalha dois dias para pagar por um botijão de 13 kg de R$ 94,99.

A conta de luz é outra vilã. Ela ficou 21,08% mais cara entre setembro de 2020 e agosto de 2021 –e pode aumentar ainda mais por causa da criação da bandeira tarifária crise hídrica. Considerando uma casa de quatro pessoas com consumo mensal de 247 kWh, são cinco dias de trabalho para arcar com a fatura de R$ 221,49.

Brasileiro não deve ter alívio nos preços tão cedo, diz especialista

A má notícia é que não há previsão para que o preço de insumos básicos diminua. “A crise política e econômica brasileira não permite uma perspectiva otimista para o curto prazo. É preciso certa estabilidade no campo econômico e político”, avalia Conceição.

Segundo o especialista, diante do cenário de crise, é necessário ações dos governos federal, estadual e municipais para reduzir tributos que incidem sobre a cesta básica e outros itens fundamentais.

Conceição adiciona que, enquanto os preços não estabilizam, é preciso garantir o acesso da população mais vulnerável a insumos essenciais, como alimentos e gás de cozinha. Isso deve ser feito por meio da concessão de cestas básicas, cupons, mais parcelas do auxílio emergencial e outros programas sociais.

Flavia Kurotori´/ Folha de São Paulo
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