27 novembro 2024
Até ter circulado a notícia, na terça-feira à noite, de que Jaques Wagner (PT) teria desistido de concorrer ao governo em favor da candidatura do colega senador Otto Alencar (PSD), a grande dúvida no grupo governista era sobre como seria possível tocar a campanha sob o clima de desconfiança e até hostilidade que se estabelecera entre o petista e Rui Costa (PT), com consequências sobre todo o grupo de líderes aliados, desde que viera a público a determinação do governador de concorrer ao Senado, mesmo com sua meta implicando no alijamento da chapa majoritária do antecessor e ex-mentor.
Por este motivo, mas mais por cálculo do que por desprendimento, Wagner fez um gesto importante pelo distensionamento da cúpula do governo quando, aparentemente chutando o pau da barraca, a comunicou da impactante disposição de recuar da decisão de disputar a sucessão estadual. Tanto quanto qualquer governista, ele sabia que marcharia para o suicídio político se enfrentasse uma eleição duríssima sem o apoio explícito e determinado de Rui, o que inevitavelmente ocorreria caso, contrariando o desejo do governador, ele insistissse em montar a chapa sem a sua participação como candidato ao Senado.
Com a decisão – que depende agora exclusivamente do aceite de Otto para resultar na reconformação da chapa a partir de um novo ponto em que o grupo governista poderá sair em campo com um mínimo de tranquilidade e coesão para pedir votos -, o criador assimila a derrota para uma imposição da criatura, mas também lhe dá o troco, na medida em que expõe seu grau de responsabilidade pelo andamento dos acontecimentos. De fato, se a atitude de Wagner ajuda a recuperar a unidade da base, agora eventualmente em torno do senador do PSD, ela não livra Rui de, com brevidade razoável, poder vir a ser acusado de ter promovido mais dois fracassos.
O primeiro e mais significativo deles é o do próprio grupo que governa o Estado há 15 anos, no caso de o nome alternativo ao de Wagner, considerado até aqui unanimemente o mais competitivo entre eles, não conseguir a desejada vitória eleitoral sobre o candidato adversário, ACM Neto (União Brasil). Porém o mais sentido será o do PT, partido que liderou a bem-sucedida aliança governista até agora e que, no caso de Otto vencer as eleições, perderá o protagonismo para o PSD, um aliado de outra formação, métodos e bases. Claro que Wagner pode estar blefando de forma a forçar Otto a aceitar a vice e tudo voltar ao modo anterior.
Mas quanto mais o cacique do PSD se aproxima do momento de dizer que se dispõe a concorrer ao governo, o que o grupo espera que ele faça logo, abandonando o plano de disputar uma reeleição que considerava segura ao lado exatamente de Wagner, mais os petistas e o grupo de partidos ‘PT-dependentes’ na Bahia são empurrados para uma nova Era de interrogações e incertezas sobre o futuro. São sentimentos que, embalado pelas pesquisas que o apontam como favorito ao Senado, Rui terá deixado para trás no momento em que, realizado, renunciar ao governo para entregá-lo ao vice-governador João Leão (PP).
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*