Foto: Ministério Público do Peru / AFP
Presidente do Peru, Pedro Castillo, chega à promotoria em Lima 06 de agosto de 2022 | 07:56

Presidente do Peru rejeita renúncia de premiê e aprofunda instabilidade no país

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O presidente do Peru, Pedro Castillo, disse nesta sexta-feira (5) que não aceitou o pedido de renúncia de seu primeiro-ministro, Aníbal Torres, protocolado há dois dias. Com isso, o líder peruano não terá que buscar um novo voto de confiança do Congresso, eliminando um risco importante. É incerto se o peruano mudará todo o seu gabinete novamente, já que as trocas estavam condicionadas à saída do atual premiê.

A decisão de Castillo vem após uma série de reuniões durante o dia entre o mandatário e nomes importantes da política peruana. Duas delas haviam sido com ministros de gestões anteriores, em um sinal de que o presidente tenta aumentar seu campo político. “Não aceitei a demissão do primeiro-ministro Aníbal Torres, que promete continuar trabalhando pelo nosso país”, escreveu Castillo em seu perfil no Twitter.

Na quarta, quando renunciou ao cargo de premiê, Torres alegou “problemas pessoais”. Ele estava na gestão federal desde o início, inicialmente como ministro da Justiça, e assumiu o cargo de primeiro-ministro em fevereiro, como uma espécie de pacificador na articulação com o Congresso. Esses seis meses fizeram dele o titular que mais tempo ficou na função no mandato de Castillo, iniciado em julho do ano passado.

Ainda que a rejeição à renúncia afaste a necessidade de Castillo renomear todo o gabinete, a imprensa peruana coloca como certa a mudança de alguns nomes. Pouco após a notícia sobre Torres, o presidente anunciou que Oscar Graham deixará o Ministérios das Finanças, dando lugar a Kurt Burneo —nome de centro-esquerda que foi vice da pasta na Presidência de Alejandro Toledo e chefe do Banco Central.

Na quinta (4), Castillo convidou políticos de outros partidos para se juntarem ao governo. “Abro este espaço para os demais partidos políticos para que de uma vez por todas possamos criar um gabinete de base ampla para trabalhar para o Peru”, afirmou a jornalistas. Outras legendas, porém, ainda não manifestaram se aceitarão entrar no governo. O deputado sem partido Carlos Anderson ironizou as declarações do presidente. “Que pessoa decente vai para o gabinete de um governo que está enfrentando tantas acusações?”, questionou ao jornal peruano El Comercio.

O presidente tem cinco inquéritos correndo contra ele. Entre os possíveis crimes investigados pelo Ministério Público estão supostos esquemas de corrupção em obras públicas e tráfico de influência em um contrato de compra de combustível. Pesquisas apontam que ele é reprovado por 74% dos eleitores. Em meio ao desgaste, ele é alvo também de investigação por plágio em sua dissertação de mestrado. Os presidentes peruanos podem ser investigados enquanto estiverem no cargo, mas a legislação impede que sejam acusados.

No ano passado, Castillo contou com o voto de rejeição aos políticos tradicionais, em meio a uma crise de representação anterior ao pleito. Dos últimos quatro eleitos, apenas um presidente empossado conseguiu terminar o mandato sem renunciar ou sofrer impeachment. Diferentemente de seus antecessores, o esquerdista parece protegido dos processos de vacância pelo fato de o Congresso estar fragmentado e não ter conseguido, até aqui, juntar os 87 votos (dos 130 deputados) necessários para tirá-lo do jogo —ainda que não tenham faltado tentativas.

Em um ano de poder, o líder peruano mudou de partido após ser acusado pelos ex-correligionários de não ter colocado em prática o programa da legenda nem ter cumprido as promessas eleitorais. A sigla, inclusive, chegou a declarar oposição ao governo. Como se a crise não pudesse piorar, o Congresso do país negou autorização para que Castillo participe da cerimônia de posse de Gustavo Petro na Colômbia no próximo domingo (7).

A lei peruana diz que o chefe de Estado precisa de permissão para fazer viagens ao exterior, mas o pedido feito por Castillo, um esquerdista conservador de viés populista, foi barrado pelo parlamento dominado pela oposição por 67 votos a 42 (e 5 abstenções). Esta será a primeira vez em três décadas que um presidente vê frustrada sua expectativa de viajar em missão oficial.

Folhapress
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