Foto: Divulgação/Arquivo
Governador eleito Jerônimo Rodrigues ao anunciar primeira leva de secretários, na última segunda-feira 22 de dezembro de 2022 | 06:57

Primeiras opções de Jerônimo para secretariado indicam que ele foi conservador e admite aprender governando

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Corre no anedotário petista que, logo após a proclamação do resultado das urnas, o senador Jaques Wagner (PT) dirigiu-se ao governador Rui Costa (PT) e, na tampa, o questionou sobre como seria seu relacionamento com o sucessor, Jerônimo Rodrigues, que ambos, junto com o inestimável apoio do lulismo, transformaram na liderança política emergente do partido no Estado. – Você vai agir com ele (Jerônimo) do que jeito que agi com você ou vai interferir em sua gestão?, teria questionado Wagner àquele que o sucedeu no comando do governo baiano e o ajudou a consolidar a talvez mais longa dinastia petista de que se tem notícia no país, iniciada há 16 anos.

Segundo os mesmos relatos, meio sem jeito, o governador teria balançado a cabeça como a sinalizar que repetiria o exemplo que recebera do padrinho. Como é sabido de todos, Wagner entregou o governo do Estado a Rui, em 2014, depois de ter imposto seu nome ao PT e ao próprio Lula, sem fazer-lhe uma exigência sequer, a não ser, ao que se alega, à da manutenção no staff governista de uns poucos funcionários de baixo escalão pelos quais passou a ter compaixão. Supostamente, o pedido não foi atendido, passando a ser motivo de uma certa decepção que, também segundo comenta-se no PT, teria apenas se aprofundado no período da administração ruisista.

A primeira leva de secretários anunciada pelo governador eleito Jerônimo Rodrigues, na última segunda-feira, é pelo menos um sinal de que Rui deu uma resposta a Wagner contrária ao que, na prática, acabou fazendo. A influência do governador atual no secretariado do eleito é nítida, principalmente depois que se soube que, em relação a alguns cargos, houve até disputa entre Rui e o senador, que não levou a melhor. O resultado é, em parte, atribuído ao espírito reconhecidamente low profile de Wagner, do tipo que sinaliza o interesse, sugere até o nome e defende suas qualidades, mas dificilmente enfrenta brigas por quem quer que seja.

Usando de certa sabedoria, Jerônimo foi hábil em aproveitar quadros vinculados a ambos os caciques petistas e completar os espaços de 11 das secretarias com indicações dos partidos com os quais conseguiu negociar mais rapidamente nos poucos dias que antecederam o anúncio. Neste quesito, conseguiu, por exemplo, superar as insatisfações que já gracejavam entre algumas siglas exatamente por causa da demora em deflagrar as conversas, no que foi também muito ajudado por inaugurar uma nova forma de tratamento com os aliados, muito mais gentil e respeitosa, que deixou a todos entre encantados e, principalmente, tranquilos.

Ainda que decepcionante, a ausência de novidades no time com que governará o quarto maior Estado da Federação em extensão territorial pode ser interpretada exatamente como um engessamento decorrente da necessidade de acomodar as forças que o apoiaram e os interesses conflitantes de Wagner e Rui, mas também como uma estratégia deliberada para não provocar reveses numa administração cujo comando vai assumir como se fosse obrigado a trocar o pneu de um carro em movimento. Os primeiros meses de Jerônimo deverão ser de aprendizado, portanto. De bom agouro, a previdência de agora pode liberá-lo para lances surpreendentes mais à frente.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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