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Vereador Carlos Muniz, presidente da Câmara Municipal de Salvador, que se filiou ao PSDB 08 de maio de 2023 | 08:38

Entrevista – Carlos Muniz: “Posso apoiar tanto Bruno quanto o candidato de Jerônimo em 2024, está em aberto”

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Vereador de Salvador desde 2008, o presidente da Câmara Municipal, Carlos Muniz, movimentou o cenário político há quase duas semanas ao escolher como nova casa partidária o PSDB, partido que integra a base do prefeito Bruno Reis (União Brasil), numa decisão surpreendente até mesmo para os aliados mais próximos do edil, que deixou o PTB.

Nesta entrevista exclusiva feita no final da semana passada, Carlos Muniz explica os motivos que o levaram a optar por ingressar no ninho tucano e que impactos essa definição pode ter, na opinião dele, nas conversas sobre as eleições de 2024. Ele também fala sobre o que o levou a recusar convites de outras agremiações. 

O presidente da Câmara afirma que tanto pode apoiar a reeleição do prefeito Bruno Reis (União) como levar o PSDB para os braços do governador Jerônimo Rodrigues (PT), pois, garante, terá autonomia dentro da legenda. Muniz vai, inclusive, assumir a presidência municipal da sigla em breve, hoje nas mãos da vereadora Cris Correia.

Muniz também assegura que a relação com o vice-governador Geraldo Júnior, a quem chama de ‘amigo e irmão’, não está abalada. Confirma abaixo a íntegra do papo!

Política Livre – A sua decisão de ingressar no PSDB pegou muita gente de surpresa, pois você não colocava publicamente o ninho tucano como uma possibilidade. Como foram as negociações até a definição?

Carlos Muniz – Iniciamos as conversas, eu e o PSDB, há 20 dias, quando o presidente do partido na Bahia, Adolfo Viana (deputado federal), me convidou para entrar no partido. Foi uma conversa só nossa porque todos os outros partidos para os quais havia o interesse, logo depois aparecia gente para cobrar, atrapalhar. É o que Geraldinho (o vice-governador Geraldo Júnior, do MDB) chama de ‘forças ocultas’ (risos), mas acho que não era isso no meu caso, e sim movimentos que acabavam esfriando as conversas com os outros partidos.

Então, passei a ter essa conversa com o PSDB, eu e Adolfinho, de forma reservada, mais silenciosa. No dia da definição, na sexta-feira (30 de abril), foi a melhor conversa possível. E tomei a decisão consultando várias pessoas, lideranças, todos aqueles que me acompanham desde 2004. Decidi que o PSDB era o melhor caminho.

Quando tomei a decisão, liguei para Geraldo, que estava em um evento fora da Bahia, e ele me mandou a mensagem dizendo que não poderia atender. Mandei uma mensagem de volta dizendo que estava ingressando no PSDB e gostaria de avisar ao ‘irmão’.

Geraldo Júnior só soube no dia da decisão sobre suas conversas com o PSDB ou ele havia sido consultado antes?

Ele sabia antes. Quando comecei a conversar com o PSDB, falei a ele que o PSDB era uma possibilidade de entrar. Foi uma das poucas pessoas a saber da possibilidade. Ele ficou surpreso. Eu disse que tinha de conversar com todo mundo. Não sei se na cabeça dele o PSDB era um partido muito difícil de entrar, mas foi a melhor escolha.

Por quê?

Porque o PSDB me deu autonomia para trabalhar a política em Salvador. E isso passa por conversar com o prefeito Bruno Reis (União) e com o governador Jerônimo Rodrigues (PT). Estamos abertos ao diálogo. Há tempos atrás não havia a possibilidade de o PSDB dialogar com Jerônimo.

O PL era a legenda que o senhor sempre citava como possibilidade nas entrevistas. Não avançou por que não foi dada a mesma autonomia de dialogar com Jerônimo, embora parte dos deputados estaduais da sigla estejam na base do governo?

O PL me dizia que em 2024 terá candidato ou vai apoiar a reeleição do prefeito Bruno Reis (União). Ou seja, não havia autonomia total. Queria a autonomia de conversar amplamente e isso envolve o governador Jerônimo. Não queria um partido para ficar restrito.

Por conta disso as conversas também não evoluíram para a filiação com o Podemos, que foi o partido pelo qual o senhor se elegeu pela primeira vez vereador, em 2008, quando a sigla ainda se chamava PTN.

Eu só sai do PTN, hoje Podemos, porque minha opinião passou a não ter mais validade dentro do partido. Mas é um partido pelo qual tenho um imenso carinho. Tivemos uma conversa boa, mas naquele momento todo mundo achava que a federação com o PSDB iria sair, então, sendo assim, eu optei pela legenda que tem uma relevância maior nacionalmente e na Bahia, historicamente falando. Claro, sabemos que hoje o PSDB está menor do que antes, mas o nosso objetivo é trabalhar para que volte a crescer.

Por falar nisso, a suspensão ou adiamento para depois de 2024 das conversas nacionais pela formação de uma federação entre o PSDB e o Podemos atrapalhou seus planos de construir uma legenda mais forte em Salvador?

O fim da federação foi bom porque você tem um partido com menor número de vereadores, com a possibilidade de fazer mais do que tem hoje. Hoje, a gente tem cinco vereadores, quatro do PSDB, contanto comigo, e um do Cidadania, que é o vereador Joceval Rodrigues. Mas temos chances de fazer de sete a oito nas eleições do ano que vem. Não adianta colocar um número grande agora de vereadores com mandato. Isso afasta os candidatos de médio porte que desejem ingressar no PSDB para concorrer.

O PP, que a exemplo do PSDB integra a base de Bruno Reis, também lhe convidou, correto?

Sim, assim como vários outros, a exemplo do MDB, que não representava uma opção nesse momento porque o meu objetivo sempre foi ter a autônima para conversar com todo mundo. Quem me convidou para o PP foi Cacá Leão (secretário de Governo da Prefeitura de Salvador), que é uma pessoa que temos ajudado muito na Câmara de Vereadores porque é do diálogo.

As pessoas me diziam que Cacá era assim em Brasília, de muito diálogo, de articulação, mas eu não conhecia. Hoje, vejo que ele é uma pessoa útil para ajudar Bruno na questão da governabilidade, ajudando o prefeito a ter um número de vereadores suficientes para aprovar as matérias do Executivo. Tem tratado bem a Câmara.

Em 2022, você e Geraldo Júnior apoiaram, juntos, Jerônimo na disputa eleitoral, ou seja, atuaram no campo da oposição no município. Como a bancada oposicionista reagiu ao seu ingresso em um partido da base de Bruno Reis?

A oposição será tratada da mesma forma. Não teve reação ruim. Não é o partido que vai me fazer mudar o comportamento. Tudo que conversei antes de ser presidente vou manter e a oposição sempre será ouvida em todos os projetos e em tudo que for tratado na Câmara. Vai ter a mesma respeitabilidade que existe também em relação ao governo.

O senhor acha equivocada a leitura política de que sua filiação ao PSDB representou uma reaproximação política com o grupo do prefeito?

O diálogo com Bruno será o mesmo. O presidente da Câmara tem que conversar com o prefeito e com todo mundo, de forma imparcial. Não posso brigar com o Executivo. Se isso ocorresse, seria ruim para o povo de Salvador, como eu sempre digo. Tenho que estar próximo tanto da Prefeitura quanto do governo do Estado para que as coisas aconteçam.

Mas é claro que, por ser vereador, por ser presidente da Câmara Municipal, estou mais próximo de Bruno, afinal apreciamos projetos da Prefeitura, e estamos sempre dialogando com o Executivo. É normal, e se o fato de eu estar no PSDB facilitar essas conversas, melhor ainda para o povo de Salvador. Sei que o PSDB é um partido da base do prefeito, mas isso não significa dizer que será assim em 2024. Posso apoiar tanto Bruno quanto o candidato de Jerônimo, está em aberto.

Então é possível que o PSDB rompa com o prefeito em 2024 e apoie uma candidatura ligada ao governador? O senhor acredita que os tucanos na Bahia podem refazer um movimento de aproximação com o PT, como aconteceu no período carlista?

O PSDB não pode ficar vinculado a quem quer que seja. O partido precisa ter autonomia. Podemos estar com Bruno, como podemos não estar. As conversas ainda vão acontecer. Temos uma eleição municipal agora em 2024 e uma estadual em 2026. Veja o que acontece com o PP: o partido está na base do governador e, em Salvador, está na base de Bruno. Em 2026, com certeza Bruno sabe que dificilmente irá contar com o PP.

Veja, eu posso muito bem trabalhar para pegar o grupo do PSDB e fazer essa ponte com Jerônimo. Claro, primeiro o governador tem de querer, dar demonstrações de que quer. O fato é que antes do meu ingresso não havia essa possibilidade, não passava pela cabeça de ninguém. Agora há possibilidade. Como há possibilidade de Geraldinho vir a ser o candidato (a prefeito) de Jerônimo.

O que o senhor diz então é que um eventual apoio a Bruno Reis em 2024 não significa necessariamente romper com o governador?

Eu não rompi com o governador Jerônimo. E a nossa preocupação agora é em fortalecer o PSDB e preparar o partido, ao lado dos meus aliados, para disputar 2024. Lá na frente iremos definir conjuntamente quem será o nosso candidato a prefeito. A eleição de 2026 é depois da de 2024. E não tenho pretensão ou motivo para romper com o governador. Pelo contrário, vamos dialogar com o governador.

O senhor esteve com o governador depois de se filiar ao PSDB?

Não estive com Jerônimo. Não fui chamado. Mas se for chamado, eu vou.

Mas com Geraldo Júnior o senhor esteve, com direito a foto para, segundo a legenda, reforçar que não estariam se afastando por conta de seu ingresso no PSDB. Ele não ficou chateado com sua opção?

Geraldinho é meu amigo pessoal. Meu irmão. Nunca cogitei romper relações com Geraldinho. Ele frequenta minha casa e eu frequento a casa dele. Na maioria dos finais de semana estamos juntos. Não tem motivo para ficarmos em lados opostos. Inclusive, eu convidei ele para ingressar no PSDB, embora saiba que isso seria difícil nesse momento.

Mas vou procurar sempre estar ao lado dele. Não acho que qualquer decisão política, agora ou no futuro, possa nos separar. O meu sonho é estar ao lado de Geraldinho, mas essa não é uma decisão só minha porque ninguém faz política sozinho. O futuro do PSDB não será decidido só por mim, porque, mesmo com a autonomia que me foi garantida, vou ouvir meus aliados de partido para definir a política em Salvador.

O senhor também convidou o vereador Henrique Carballal (PDT), outro aliado seu e de Geraldo Júnior, para ingressar no PSDB?

Não houve esse convite. Carballal tem o desejo de participar do Executivo estadual. É um sonho dele de muito tempo. Ele está trabalhando nesse sentido e espero que tudo dê certo. Carballal fez um movimento no ano passado de romper com o grupo do prefeito para apoiar o governo do Estado e ele teve perdas por conta disso. Ele deveria ter um tratamento melhor do que está tendo.

Acha que a nomeação de Carbalall para a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), anunciada pelo governador, vai sair mesmo, em função das dificuldades impostas pela Lei das Estatais?

Eu acho que isso vai se resolver e estou na torcida para que isso aconteça.

O vereador Joceval Rodrigues, que é do Cidadania e faz parte da federação com o PSDB, como o senhor mesmo lembrou, também irá para o governo, conforme já foi especulado?

Não ouvi falar. E não sei se foi oferecido a ele algum espaço no governo.

O senhor falou que Carballal merece um tratamento melhor do governo. Depois de sua filiação, as principais lideranças do PSDB têm dito o mesmo em relação aos espaços ocupados hoje na Prefeitura de Salvador. Concorda?

Tenho acompanhado essas discussões internas. Acho que o PSDB hoje é maior em relação ao espaço que tem. É muito maior do que o que tem. Mas isso vai depender não só de mim, mas de uma conversa entre todos os membros do partido. Não é minha opinião pessoal que vai valer. Espero que todos tenham a mesma visão que eu tenho de que o partido precisa crescer. Mas o PSDB também pode crescer junto ao governo estadual. Acho que estamos abertos a conversar com todos.

As conversas do PSDB com o prefeito para um eventual apoio em 2024 passariam por garantir o apoio à sua reeleição como presidente da Câmara?

Primeiro tenho que saber o seguinte: o povo vai me reeleger? Não posso pensar agora em disputa para a presidência da Câmara. Primeiro tenho que me reeleger vereador. É natural que, pelo posto que ocupo hoje, seja natural a minha reeleição. É natural também que eu deseje disputar um novo mandato como presidente. Mas só vou começar a tratar disso lá para junho do ano que vem. Temos que saber qual o norte que tomaremos também sobre a majoritária em 2024.

O senhor pretende tratar de 2024 também com o ex-prefeito ACM Neto (União), a quem já chamou de traidor num passado recente?

Eu vou conversar sobre 2024 com as pessoas que irão comandar esse processo: o prefeito Bruno e o governador Jerônimo. Tive um encontro casual com o ex-prefeito (na noite da última quinta-feira, dia 4), quando fui pegar o carro na garagem da Câmara, e conversamos rapidamente. Ele elogiou meu trabalho na Câmara e me parabenizou pela filiação ao PSDB. Houve alguma especulação, mas não passou disso.

A oposição na Câmara acusa o prefeito de pesar a mão nos vetos a projetos dos vereadores. O senhor concorda com essa crítica?

Tem vetado muitos projetos de vereadores que foram aprovados ano passado. Neste ano, estamos tendo o cuidado de passar primeiro os projetos pelas comissões para depois votarmos em plenário. Isso dá mais segurança e diminui o risco de veto. Sou defensor da votação dos projetos de vereadores, bem como das matérias importantes encaminhadas pelo Executivo, a exemplo da que aprovamos recentemente que aumentou a idade máxima permitida da frota de táxi de Salvador.

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