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Vereador Carlos Muniz, presidente da Câmara Municipal de Salvador 04 de maio de 2023 | 07:12

Quem ganha e quem perde com ingresso de Carlos Muniz no PSDB, por Raul Monteiro*

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Em quadro típico pré-eleitoral, peças já começaram a se mover na política da capital baiana. Neste contexto, a filiação ao PSDB do presidente da Câmara Municipal de Salvador, Carlos Muniz, na semana passada, é fato significativo cujas consequências não tardarão a se fazer sentir entre as forças em disputa pelo Palácio Thomé de Souza, em cujo comando o prefeito Bruno Reis (União Brasil) buscará, legitimamente, se manter por meio das eleições de 2024. Sem dúvida, o primeiro beneficiário da ousada e surpreendente decisão do vereador que pertenceu ao PTB é verdadeiramente o próprio Bruno.

De camarote da Praça Municipal, ele assiste ao fortalecimento de um partido da base com o qual seu grupo político, liderado pelo ex-prefeito ACM Neto (União Brasil), conta, de forma bastante colaborativa, registre-se, desde a eleição que levou à conquista da Prefeitura, em 2012. É claro que, robustecida com a chegada de Muniz, a sigla deve buscar ampliar sua participação na administração municipal, o que, aliás, já anunciou. Pelo seu histórico, entretanto, nada aponta que o fará pondo a faca no pescoço do gestor, como poderia proceder um presidente de Câmara que houvesse se bandeado para a oposição.

Grande parte do mérito pela mudança é devido ao presidente estadual dos tucanos, o deputado federal Adolfo Viana, que, usando da habilidade, da discrição e do sigilo como estratégias, colocou-se no centro da cena municipal junto com Muniz ao convencê-lo a ingressar na legenda, de olho tanto no poder que emanará das articulações para a sucessão à Prefeitura quanto na Câmara Municipal, onde o propósito é ampliar a bancada formada agora por quatro vereadores. Entre as vantagens de filiar-se ao partido, Muniz ganha, naturalmente, um grupo partidário cuja marca nas relações políticas é a da credibilidade.

Assim, adquire uma grife para fortalecer sua representação política e institucional. A filiação, operada num espaço curto de tempo, pegou o governo do Estado relativamente de surpresa. Desde que o vereador ascendeu à presidência do Legislativo municipal, não eram poucos os colegas, a exemplo dos vereadores Henrique Carballal (PDT) e Arnando Lessa (PT), que tentavam levá-lo para os braços do governador Jerônimo Rodrigues (PT) aproveitando-se não só do seu fácil trânsito político. Focavam principalmente na importância de o governo do Estado assumir o controle da Câmara dentro da estratégia de derrotar Bruno.

As negociações não avançaram, o que, como compensação, a base governista estadual espera que acabe pressionando o Palácio de Ondina a acelerar a definição do seu candidato a prefeito como forma de recuperar a perda. Quem amargou a maior derrota, no entanto, foi o vice-governador Geraldo Jr. (MDB), a ponto de ter ficado, a princípio, mudo. Primeiro, porque ficou evidente que nunca controlou Muniz, de espírito independente. Ao tentar insanamente submetê-lo, acabou afastando quem mais podia reforçar sua candidatura a prefeito. Pelo visto, percebendo o crescente isolamento e desimportância de Geraldo Jr., ‘forças ocultas’ caíram lhe sobre a cabeça.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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