Foto: Câmara dos Deputados/Divulgação
Márcio Marinho 26 de junho de 2023 | 11:59

Entrevista – Márcio Marinho: “A gente precisa errar menos para garantir a reeleição de Bruno Reis em 2024″

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Presidente do Republicanos na Bahia, o deputado federal Márcio Marinho apresenta cinco nomes que o partido pode indicar para compor a chapa do prefeito Bruno Reis (União), postulante à reeleição, em 2024. Entre os cotados, o parlamentar, que foi vice de ACM Neto (União) no pleito de 2008, quando o ex-prefeito foi derrotado ainda no primeiro turno, incluiu a si próprio na lista, nesta entrevista exclusiva concedida ao Política Livre.

Marinho defende a tese de que o companheiro ou companheira de chapa de Bruno precisa ter densidade eleitoral em Salvador. Ele afirma que erros cometidos em 2022 não podem se repetir em 2024, quando prevê uma eleição dura, apesar da boa avaliação do atual chefe do Executivo municipal.

O deputado, que é uma das principais lideranças da Igreja Universal do Reino de Deus, fala ainda na entrevista sobre a relação do partido com o governador Jerônimo Rodrigues (PT) e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ele ressalta ainda a força do Republicanos na disputa pela sucessão do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e garante que a CBF será um dos alvos da CPI que investiga a manipulação de resultados no futebol, da qual é membro. Confira a íntegra da conversa abaixo!

Política Livre – O Republicanos decidiu formar um superbloco na Câmara Federal com o MDB, PSD e Podemos, com 142 deputados. São partidos com posicionamentos diversos. O PSD e o MDB, por exemplo, estão mais próximos do presidente Lula (PT), ao contrário do partido do senhor. Já é uma articulação mirando também a sucessão de Arthur Lira (PP-AL) no comando da Casa?

Márcio Marinho – Veja, a priori o objetivo do bloco é fortalecer uma posição dentro da Casa, visando a ocupação de espaços em comissões, por exemplo. Isso ajuda para que na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), por exemplo, possamos ter dois ou três indicados. No meu caso, fiquei nas comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional, de Minas e Energia, do Idoso, de Defesa do Consumidor e de Esportes. Logicamente que isso não deixa de ser uma sinalização dos partidos que estão no bloco de que querem, de forma mais objetiva, participar da discussão da sucessão da presidência da Câmara.

Acha que o presidente nacional do Republicanos, o deputado Marcos Pereira (SP), pode ser o candidato desse bloco à presidência da Câmara?

Vamos trabalhar para que isso ocorra. O deputado Marcos Pereira já fez gestos para Arthur Lira, lá atrás, cedendo o espaço do Republicanos (na Mesa Diretora) para permitir que o atual presidente da Câmara organizasse acordos políticos para poder conquistar a reeleição. Apoiamos Arthur Lira. A vida é feita de gestos e temos feito isso nas duas eleições do atual presidente. Tenho certeza que Marcos Pereira terá um papel relevante nessas discussões (sobre a sucessão) e tem todas as condições de presidir bem a Câmara.

O senhor acredita que Arthur Lira, que formou um outro superbloco com mais de 170 parlamentares para se contrapor ao do Republicanos, faria um gesto semelhante, já que não pode mais disputar a reeleição?

Como eu falei, a formação dos blocos tem como objetivo a organização das comissões temáticas na Câmara. Acredito que esse tenha sido o objetivo do PP do presidente Lira e do União Brasil. A gente sabe que na Câmara precisamos nos organizar para sobreviver. Nesse momento, não acredito que Arthur Lira esteja preocupado com a sucessão dele. Acho que ele tem outros temas relevantes para o país na pauta. Ano que vem, sim, é que as coisas começam a acontecer, as conversas serão feitas. E temos aí nomes hoje postos, como o de Marcos Pereira, o do deputado Elmar Nascimento (União), o do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), o do deputado Antonio Brito (PSD) e o do deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL). São bons nomes, mas só tem uma cadeira de presidente. Acho que Marcos Pereira reúne as condições e no momento certo vamos trabalhar para fortalecê-lo, tanto internamente, no partido, quanto no relacionamento e nas parcerias que temos no Congresso.

Os dois baianos citados aí, Elmar Nascimento, muito ligado a Arthur Lira, e Antonio Brito, estariam buscando dialogar com o Planalto para tentar se viabilizar nessa disputa. O Republicanos, que hoje está na oposição, vai adotar a mesma estratégia?

Eu acho que o Republicanos é independente, ou seja, tem uma relação tanto com a direita quanto com a esquerda e o centro. Isso é importante também para se conquistar a presidência da Câmara. Além disso, não adotamos posições radicais. Não é do perfil do Republicanos ser radical contra o governo. Temos votado com o governo em temas que são importantes para o país. Não acredito que o presidente Lula acredite que o deputado Marcos Pereira, caso chegue à presidência da Câmara, se Deus permitir, faça qualquer tipo de perseguição nas matérias do governo. Sabemos que o partido do deputado Antonio Brito faz parte do governo, mas é aquele negócio: hoje o Palácio do Planalto, por si só, não consegue eleger um presidente da Câmara, não tem base para isso. Portanto, acredito que o importante é termos alguém que possa agregar dos dois lados, que também tenha uma boa relação com a oposição.

Existe alguma chance de o Republicanos fazer parte da base do governo Lula? O Planalto tem procurado o partido nessas negociações permanentes com o Congresso?

Você sabe que o governo não tem base. A dificuldade do governo é muito grande hoje. E nessa dificuldade, eles estão procurando todos os partidos para formalizar apoio à base. Tanto é que não é nem uma e nem duas vezes apenas que eles procuraram o partido. Vários parlamentares do Republicanos, em especial da região Nordeste, têm alguma afinidade com o PT, com Lula. São essas pessoas que o governo procura por meio dos interlocutores. A gente respeita isso, faz parte da política dialogar, é bom, mas a decisão nossa, enquanto partido, é de nos mantermos independentes. Marcos Pereira costuma dizer que ficaremos na independência até o final do governo.

O senhor, o deputado Alex Santana e a deputada Rogéria Santos são do Republicanos da Bahia, Estado em que Lula teve o melhor desempenho eleitoral. Estão sendo procurados pelo governo? O ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), procurou o partido no âmbito estadual?

Eu sigo até o momento a mesma orientação do partido nacionalmente. Tenho o maior respeito pelo ministro Rui Costa, mas até agora não teve nenhum tipo de conversa em relação a um apoio meu, do deputado Alex ou da deputada Rogéria, olhando por um prisma regional. Não teve nenhum tipo de contato. Veja que o objetivo do Republicanos não é fazer oposição ao Brasil. Tanto é que votamos a favor de pautas do governo, mas que também eram de interesse nacional, como o novo marco fiscal e a PEC da Transição. Caso contrário, muita coisa não teria passado.

O governo enfrenta problemas na área da articulação política e no relacionamento com a Câmara, em sua opinião?

A resposta você já tem. Quando você tem um governo que tem uma estrutura de ministérios, com partidos integrando esses ministérios, e esses partidos não conseguem entregar o voto é em função de alguma coisa estar errada, não é verdade? Então, será que falta autonomia para aquele que o governo colocou para fazer a interlocução com o Congresso? Porque não basta só colocar alguém para fazer isso, é preciso também dar autonomia, a caneta, para resolver os problemas dos deputados, das bancadas. Talvez parte do compromisso com os partidos que estão na base ou dialogando com o governo de entrega de espaços federais nos estados não tenha sido concretizada, o que é outro problema, na minha avaliação. Ou aqueles parlamentares que, independentemente de ser governo ou não, cujas emendas impositivas não estejam saindo para atender as bases, e isso cria uma dificuldade grande na relação da Câmara com o governo, até porque prefeitos estão passando uma série de dificuldades e dependem desses recursos.

Por falar nisso, os parlamentares do Republicanos na Bahia, incluindo o senhor, estão no final da fila quando o assunto é o pagamento das emendas impositivas, como mostrou recentemente uma matéria do Política Livre. É perseguição?

Não acho que seja perseguição. Agora, de repente é desatenção em relação aos parlamentares do Republicanos. Como disse, não fazemos parte da base, mas votamos a favor de matérias importantes para o Brasil enviadas e defendidas pelo governo. Além disso, as emendas impositivas são de pagamento obrigatório.

O Republicanos votará a favor da reforma tributária, uma das pautas de interesse do governo?

O partido, logicamente, não vai se opor a uma matéria tão importante quanto essa. É uma pauta que há anos está na Câmara, sem que se chegue a uma aprovação. O que é positivo para os segmentos produtivos, para os setores econômicos, é a organização dos impostos federais, estaduais e municipais. Agora, a gente precisa discutir dentro do partido o relatório que vai ser apresentado. A votação, segundo Arthur Lira, vai acontecer na primeira quinzena de julho. Mas claro que defendemos, sim, a necessidade da reforma tributária.

O senhor, que representa também um segmento religioso, vê espaço para a esquerda avançar no governo Lula em pautas mais polêmicas relacionadas à liberação do uso de drogas e temas ligados ao aborto ou LBBTQIA+?

Veja, são pautas sensíveis. Se você pegar o resultado da última eleição, vai observar que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) perdeu por poucos votos. Uma expressiva bancada de centro-direita, muito atenta a temas que envolvem a questão do princípio da fé e de gênero, foi eleita, e terá um cuidado maior na análise dessas pautas. Algumas podem passar, e outras não passarão. Algumas podem ser aperfeiçoadas. Vai depender de cada discussão

O senhor acha que Bolsonaro, que foi apoiado pelo Republicanos, ficará inelegível? Acha que ele merece ficar inelegível?

Olha, não tenho acompanhado isso de perto, porque tem toda uma questão legal, do TSE. Vamos esperar o TSE decidir.

Caso isso aconteça, o nome da direita para as eleições presidenciais de 2026 seria o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que é do Republicanos?

Eu acho que, em primeiro lugar, essa é uma decisão muito particular do governador. Até porque tenho ouvido que ele não tem vontade de disputar em 2026 porque precisa concluir o mandato de governador em São Paulo, coisa que muitos outros antecessores dele não fizeram, como João Dória, e o paulista não gostou disso. Então, eu acho que ele vai concluir o mandato de quatro anos, e essa é minha percepção. Mas claro que se o TSE colocar Bolsonaro inelegível muitas pessoas irão defender o nome do governador como uma alternativa entre os conservadores, o pessoal do agronegócio. Não deixa de ser um nome importante em algum momento, seja em 2026 ou 2030, para a eleição presidencial.

O senhor é um dos membros da CPI instalada na Câmara para investigar a manipulação de resultados no futebol. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está na mira da comissão?

Vamos chamar integrantes da CBF para serem ouvidos, além da justiça desportiva. Isso porque tem havido dois pesos e duas medidas na punição de jogadores envolvidos nos crimes. Teve jogador que pegou suspensão definitiva, enquanto outros foram punidos com 12 jogos. Quem teve punição de 12 jogos estava na Série C, enquanto o outro, na Série A. Houve discriminação? A gente precisa discutir isso. Pode ter certeza de que essa CPI não vai acabar em pizza. Os próximos passos serão as quebras de sigilo fiscal e telefônico de pessoas envolvidas no esquema.

O governador Jerônimo Rodrigues (PT) tem buscado o diálogo com partidos que hoje estão na oposição, a exemplo do PSDB. O Republicanos, que tem três deputados estaduais, também foi procurado pelo petista?

Quando um novo governo chega, é natural buscar todos os partidos que tenham representação na Assembleia Legislativa. Logicamente que ele faz todo tipo de contato, principalmente através de interlocutores, querendo que o partido se aproxime do governo do Estado. Mas a nossa decisão é de nos mantermos independentes em relação ao governo do Estado, aprovando aquilo que for de interesse da população, mas sem formalizar apoio à base.

Teremos eleições municipais em 2024. Quais os planos para o partido, que ainda tem poucos prefeitos, crescer na Bahia?

A gente começou a fazer essa discussão agora. Hoje, temos nove prefeitos e 21 vice-prefeitos, além de aproximadamente 180 vereadores. A nossa ideia é dobrar esses números. Estamos dialogando com candidatos a prefeitos e prefeitos com mandato que irão disputar a reeleição buscando concretizar esse objetivo, com muto esforço e dedicação.

Em Salvador, o Republicanos vai seguir ao lado de Bruno Reis (União), candidato à reeleição?

Você sabe que o Republicanos já participa do grupo político de Bruno, do ex-prefeito ACM Neto (União), desde 2012. Veja que é uma relação duradoura. Tanto é que temos a confiança singular do prefeito, que nos entregou duas secretarias importantes, a de Infraestrutura (Seinfra) e a de Manutenção (Seman), além da Desal. Portanto, a gente fica muito feliz quando uma pesquisa recente colocou Bruno como o prefeito mais bem avaliado do país. Vamos continuar apoiando a reeleição de Bruno, mas queremos discutir com ele o próximo passo, que é justamente a composição da chapa majoritária.

Então o partido pleiteia a vice?

Tenho o maior respeito por todos os partidos que desejam integrar a composição dessa chapa, mas o Republicanos, da mesma forma que eles, têm esse direito também. Vamos abrir essa discussão com Bruno. Você sabe que o Republicanos tem uma força muito grande na capital. Se pegar a votação de Rogéria, a de Alex e a de Márcio Marinho na capital, ela passa de 120 mil votos com tranquilidade. É uma votação importante para as eleições do ano que vem. Além disso, o partido tem tempo de TV, de rádio, querendo ou não tem penetração muito grande no segmento evangélico e vamos colocar alguns nomes para a avalição de Bruno Reis.

Quais nomes?

Você tem o nome da deputada Rogéria, que foi secretária municipal e vereadora em Salvador. Você tem o de Luiz Carlos, vereador mais votado da Bahia e atual titular da Seinfra. Temos o nome da vereadora Ireuda (Silva), que foi a vereadora negra mais votada na eleição de 2020. Você tem o nome do deputado federal Alex Santana, também bem votado na capital. E tem o nome desse vos fala, que está no sexto mandato de deputado, mora em Salvador e conhece a cidade. Eu visito os bairros quase que todas as semanas e tenho uma relação muito boa com as comunidades. São nomes que colocamos na mesa com tranquilidade, sem estresse, para que possamos discutir com Bruno.

Alex Santana e seu parceiro político na Assembleia, o deputado estadual Samuel Júnior, também do Republicanos, já reclamaram que ficaram de fora das conversas com Bruno Reis durante a reforma administrativa, quando o partido ampliou o espaço na gestão. Eles serão incluídos, então, no debate eleitoral?

Não teve isso. O Alex é um amigo meu, assim como o Samuel. Não teve nenhum tipo de atitude de exclusão. Zero! Tanto que estou colocando agora o nome de Alex como um dos quadros que colocaremos na mesa com Bruno para discutir a composição da chapa.

O PDT insiste em manter Ana Paula na vice, assim como o PSDB também almeja o posto, citando como um dos nomes o do deputado estadual Tiago Correia. Bruno Reis terá dor de cabeça para fazer essa escolha?

A Ana Paula é uma mulher guerreira, delicadíssima, política, polida. Ela tem um jeito muito meigo de lidar com as coisas, é de palavra, não tem tempo ruim com ela. Ela gosta mesmo do trabalho. Mas Bruno terá uma boa dor de cabeça. Veja, respeitamos o posicionamento de todos os partidos. Tenho uma amizade e respeito grande por Ana Paula, pelo deputado (federal) Félix Mendonça, presidente do PDT (na Bahia), pelo deputado (federal) Adolfo Viana, presidente do PSDB (no Estado), e tenho certeza que todos eles respeitam também a decisão do Republicanos de apresentar um nome para compor a chapa.

Em sua opinião, qual deve ser o critério adotado por Bruno Reis para escolher o vice, ou a vice?

É importante que essa composição leve em conta uma coisa chamada voto na capital. Esse ponto é crucial. Bruno precisa ter ao lado na chapa alguém que tenha força eleitoral. Qual o partido que tem voto na capital? Temos que partir do princípio de que ninguém ganha eleição por antecipação e essa eleição será dura, todos sabemos disso. Por isso que o critério do voto é importante nessa composição e é preciso avaliar por esse prisma.

Esse teria sido o erro cometido por ACM Neto na disputa de 2022 pelo Palácio de Ondina, quando o ex-prefeito escolheu uma vice, a empresária Ana Coelho, que nunca foi testada nas urnas em nenhuma posição? Vale lembrar que ela foi oficialmente indicada pelo Republicanos…

Veja, eu acho que não vale a pena comentar agora que a eleição passou. Agora, a gente precisa entender que a eleição do ano que vem será dura, difícil, e que a gente precisa errar menos para poder termos a reeleição de Bruno Reis garantida.

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