Foto: César Ogata/Divulgação
O PT enfrenta dificuldades para emplacar candidato competitivo à Prefeitura de Salvador 20 de julho de 2023 | 09:11

Só os figurões poderão evitar que PT repita o papelão que virou sua marca nas disputas eleitorais em Salvador, por Raul Monteiro*

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O extremismo de determinados setores seus, que pelo menos neste momento parecem majoritários, pode comprometer toda a estratégia que a cúpula do PT e do governo estadual haviam ensaiado para a sucessão municipal do próximo ano em Salvador. O bate-cabeça no partido na Bahia sobre como agir em relação às disputas municipais, aliás, não é nenhuma novidade. Resultado mais da estratégia de seus principais atores do que dos assim chamados líderes partidários, a conquista e atual manutenção da administração do Estado parece ter contribuído pouco para o amadurecimento do processo decisório na legenda.

É o que se depreende do que se assiste agora, no momento em que, dando uma demonstração de preocupação com a performance para a sucessão do próximo ano na capital baiana, o partido acertadamente antecipa as discussões sobre a escolha de sua candidatura a prefeito, mas não consegue avançar, de maneira ponderada e muito menos inovadora, na definição de uma estratégia para promovê-la de forma efetivamente competitiva para a disputa. O desencontro de informações, o oportunismo de alguns e mesmo a falta de clareza com relação aos planos para a sucessão do prefeito Bruno Reis (União Brasil) têm dado a tônica dos primeiros encaminhamentos no partido.

Aliás, a maneira como alguns quadros da legenda tentam aproveitar o momento para se inserir nas discussões e tentar viabilizar seus nomes para assumir algum protagonismo na futura sucessão, mesmo sem possuir qualquer lastro eleitoral ou consistência política para liderá-la, pode ser um atestado de que não acreditam na menor chance de que o atual prefeito possa ser batido nas urnas, motivo porque também buscam usar o pleito unicamente como forma de se autopromover. De fato, apesar da relativa discrição com que se comporta no comando da cidade, Bruno tem demonstrado que exerce o poder municipal com liderança e domínio pleno do ofício.

Não foi à toa, por exemplo, que o prefeito conseguiu roubar integralmente a cena política na solenidade de posse da nova diretoria da Associação Comercial da Bahia, na última segunda-feira, da qual saiu aplaudido efusivamente ao anunciar projetos para dinamizar a economia da cidade e mesmo depois de ter abordado um tema delicado para o meio empresarial como o duro enfrentamento que, como seu antecessor, ACM Neto (União Brasil), deu à Covid junto com o governo do Estado, apagando ao mesmo tempo a figura do vice-governador Geraldo Jr. (MDB) e do representante que o governo do Estado enviou de forma oficial para o evento.

Sereno, firme e ao mesmo tempo descontraído, em poucos minutos de fala Bruno demonstrou que, quando a disputa de fato começar, vai se transformar num adversário fortíssimo para o PT. Para quem prefere uma abordagem menos intuitiva, as primeiras pesquisas sobre intenções de voto para 2024, colocando desde já o gestor municipal como franco favorito, não deixam mentir. Trocando em miúdos: ou os verdadeiros figurões petistas se entendem e assumem a condução do processo, ou é melhor nem concorrer, sob pena de assistirem à repetição do papelão que o partido tem feito sucessão após outra em Salvador desde que, num feito histórico, conquistou o governo.

*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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