Foto: Valter Campanato/Agência Brasil/Arquivo
Ex-diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques 06 de agosto de 2023 | 17:37

Empresa que vendeu blindados para a PRF sob Bolsonaro demite gestor após suspeita do Coaf

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A Combat Armor Defense do Brasil, empresa que vendeu veículos blindados para a Polícia Rodoviária Federal (PRF) no governo de Jair Bolsonaro (PL), afastou o empresário Maurício Junot de Maria da função de presidente. A decisão ocorre após o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificar movimentações financeiras atípicas por parte da empresa, em caso revelado pela coluna.

De acordo com o órgão de combate à lavagem de dinheiro, a Combat Armor tem feito operações bancárias incompatíveis com sua capacidade econômica. Saques em espécie realizados de forma fragmentada e dentro de um período de cinco dias também entraram na mira do Coaf.

Em nota enviada à coluna, a empresa de blindados diz que a decisão pelo afastamento de Junot foi tomada “em razão das denúncias veiculadas nos órgãos de imprensa” e com o objetivo de “garantir a integralidade do processo de apuração dos supostos fatos mencionados”.

“O desligamento de nosso principal executivo não endossa qualquer acusação veiculada, ou antecipa qualquer tentativa de julgamento que tentam nos imputar, mas [é], sim, uma medida necessária para proteger os interesses e conduta da companhia”, afirma, em sua manifestação.

“Reiteramos nosso compromisso com a ética e a excelência em nossas atividades e permanecemos determinados em aprimorar, ainda mais, nossas práticas de compliance e condutas em todas as esferas de atuação e transparência nas atividades, em conformidade com as leis que regem nossa atuação”, segue.

As aquisições de carros da Combat Armor pela PRF foram feitas durante a gestão de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da corporação, e já são investigadas pelo Ministério Público Federal (MPF) por suspeita de fraude em licitação. Entre 2020 e 2022, ao menos R$ 30 milhões foram pagos pela corporação.

Em relatório do Coaf em posse da CPI do 8 de janeiro, que investiga os ataques golpistas às sedes dos três Poderes, o órgão afirma que durante visita a uma das instalações da empresa “não foram encontrados veículos e nenhum tipo de maquinário” para a realização de blindagem.

Fundada nos EUA por um apoiador do ex-presidente Donald Trump e instalada no Brasil em 2019, a Combat Armor tinha, em seu início, um faturamento médio mensal de R$ 58,5 mil, segundo o Coaf.

Já entre junho de 2021 e abril do ano passado, a empresa chegou a receber R$ 4,8 milhões, sendo mais de R$ 3 milhões provenientes de pagamentos feitos pela PRF e R$ 1,7 milhão do Governo do Rio de Janeiro.

Entre abril de 2022 e junho deste ano, os créditos recebidos em conta totalizaram R$ 18,6 milhões. As movimentações feitas no período também foram consideradas suspeitas e incompatíveis com o faturamento mensal em relatório do órgão.

Responsável pelos contratos entre a PRF e a Combat Armor, Silvinei Vasques foi questionado sobre a sua relação com a empresa em depoimento à CPI. Ele admitiu ter pedido emprego à especializada em blindados depois de ter deixado o comando da corporação, mas negou ter sido contratado.

Confrontado por parlamentares com um cartão de visitas da Combat Armor que levava seu nome e o apresentava como vice-presidente, Silvinei disse desconhecer a sua origem.

Procurada na ocasião em que a suspeita do Coaf foi revelada pela coluna, a PRF afirmou que os contratos com a empresa foram finalizados após pagamento e recebimento dos veículos blindados. A corporação ainda disse ter iniciado um estudo para investigar o aproveitamento e a confiabilidade dos veículos comprados na gestão anterior, mas afirmou que ele ainda não foi concluído.

Leia, abaixo, a íntegra da nota enviada à coluna pela Combat Armor Defense:

“A COMBAT ARMOR DEFENSE, INC. sócia majoritária da COMBAT ARMOR DEFENSE DO BRASIL, em razão das denúncias veiculadas nos órgãos de imprensa, vem por meio desta comunicar oficialmente que o Sr. Mauricio Junot de Maria, foi afastado da função de CEO da COMBAT ARMOR DEFENSE DO BRASIL e da mesma forma não mais a representa sob nenhuma circunstância, e em qualquer país que tenhamos ou venhamos a desenvolver negócios, objetivando garantir a integralidade do processo de apuração dos supostos fatos mencionados.

Portanto, a COMBAT ARMOR DEFENSE, INC., nos deveres de sua atribuição, está nomeando, um novo procurador legal no Brasil, que inclusive já iniciou a coordenação de auditoria legal e financeira relacionada a todos os assuntos da COMBAT ARMOR DEFENSE DO BRASIL, nos atos da gestão anterior.

Esclarecemos ainda que, a COMBAT sempre se pautou no cumprimento e aplicação de princípios de padrões éticos, e elevados valores morais em seus negócios. A empresa possui uma sólida história de comprometimento com tais padrões e valores, formalizados junto a colaboradores, parceiros e clientes na obediência a rigoroso código de conduta bem como na estrita observância da Lei Anticorrupção – Lei 12846/2003., afirmando o compromisso de rever quaisquer situações que venham a comprometer sua integridade, e credibilidade em todas as suas atividades.

Importa destacar, que o desligamento de nosso principal executivo, não endossa qualquer acusação veiculada, ou antecipa qualquer tentativa de julgamento que tentam nos imputar, mas sim uma medida necessária para proteger os interesses e conduta da Companhia. Haja vista a série de acusações, ao nosso ver infundadas, que temos sofrido de alguns órgãos de imprensa, também é de nosso interesse apurar e esclarecer.

Reiteramos nosso compromisso com a ética e a excelência em nossas atividades e permanecemos determinados em aprimorar, ainda mais, nossas práticas de compliance e condutas em todas as esferas de atuação e transparência nas atividades, em conformidade com as leis que regem nossa atuação e negócios desenvolvidos.

Agradecemos sua compreensão e colaboração neste momento desafiador. Contamos com a confiança, e o apoio de todos os nossos parceiros para superarmos esse desafio, e seguirmos firmes. Ao mesmo tempo nos colocamos à disposição para esclarecimentos adicionais que se fizerem necessários.”

Mônica Bergamo, Folhapress
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