25 novembro 2024
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou nesta quinta-feira (21) que se incomoda com a “aura de suspeição coletiva” que tem-se mantido com as informações de que militares teriam participado de planos de golpe com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Na realidade, isso não mexe conosco porque trata-se de pessoas que pertenceram [às Forças Armadas]. Nós desejamos muito que tudo seja esclarecido. Evidentemente que constrange. Essa áurea de suspeição coletiva incomoda”, disse o ministro.
A declaração ocorre horas após o site UOL revelar que o tenente-coronel Mauro Cid disse à Polícia Federal que Bolsonaro teria consultado os ex-comandantes das Forças Armadas Freire Gomes (Exército), Almir Garnier (Marinha) e Baptista Júnior (Aeronáutica) sobre um eventual apoio a planos golpistas contra a eleição de Lula (PT).
Segundo o site, o almirante Garnier teria apresentado disposição a participar do golpe —que envolvia a convocação de novas eleições e prisão de adversários.
Na saída do Ministério da Defesa, Múcio disse que não tem mais informações sobre o caso. “Eu vivo das informações que vocês da imprensa divulgam.”
O ministro afirmou ainda que solicitou informações sobre as investigações da PF do caso do hacker Walter Delgatti ao diretor-geral da PF, Andrei Passos, e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), mas não recebeu nenhum retorno.
Múcio contou que se encontrará nesta quinta com os comandantes da Marinha, almirante Marcos Olsen, e da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno. As reuniões estavam previamente marcadas, mas o ministro aproveitará para sondá-los a respeito das novas informações.
Múcio disse ainda que sua única “certeza cristalina” era a de que um golpe contra a democracia não foi do interesse das Forças Armadas. “São atitudes isoladas, mas ao Exército, Marinha e Aeronáutica nós devemos a manutenção da nossa democracia.”
Seis generais do Alto Comando do Exército consultados pela Folha afirmaram que não foi apresentado ao colegiado a consulta de Bolsonaro sobre um possível apoio ao golpe. A avaliação, porém, é que Freire Gomes reservava os assuntos espinhosos para um grupo de oficiais mais próximo.
Os militares dizem que se pautaram pelo legalismo quando estavam no centro de protestos contra a eleição de Lula.
Dois deles relataram incômodo com o fato de as Forças Armadas aparecerem com frequência em páginas policiais, e que os vazamentos sobre a delação de Mauro Cid têm gerado insatisfações e dúvidas sobre possíveis buscas e apreensões contra os citados.
Nos últimos dois meses de 2022, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier foi o chefe militar que mais criou dificuldades para a transição do comando da Força. Como a Folha mostrou, ele se recusou a conversar com Múcio e, diante do almirantado, fez críticas a Lula e manifestou interesse em deixar o cargo antes da posse do petista.
O grupo de almirantes de Esquadra se contrapôs à antecipação da posse e, contrariado, Garnier decidiu faltar à cerimônia de passagem de comando —em ato inédito na democracia.
A defesa de Mauro Cid divulgou nota em que diz não ter tido acesso aos depoimentos prestados pelo tenente-coronel. “Os referidos depoimentos […] são sigilosos, e por essa mesma razão [a defesa] não confirma seu conteúdo.”
Cézar Feitoza, Folhapress