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Parlamentar disse que a PEC é apenas o primeiro passo no sentido de viabilizar mais uma reeleição de Adolfo 13 de novembro de 2023 | 08:43

Entrevista – Niltinho: “Sobre 2025, digo que não trabalho com plano “B”. Só tem o plano “A”, de Adolfo, que tem meu apoio irrestrito”

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Líder do PP na Assembleia Legislativa, o deputado Niltinho é um dos maiores defensores do terceiro mandato do deputado Adolfo Menezes (PSD) como presidente da Casa. Ele é um dos articuladores da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que pode permitir a reeleição do atual chefe do Poder e nega que exista um plano “b” que o coloque como alternativa ao posto.

Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, Niltinho, que é um dos parlamentares mais novos do Legislativo, diz que a PEC é apenas o primeiro passo no sentido de viabilizar mais uma reeleição de Adolfo. Ele não acredita que a medida provoque desgaste e aposta que o governador Jerônimo Rodrigues (PT) irá apoiar o posicionamento dos deputados, mesmo com a resistência contrária do líder da maioria, deputado Rosemberg Pinto (PT).

Niltinho aborda ainda a formação recente dos blocos na Casa e da disputa pela cadeira que fica vaga em dezembro no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), se juntando à tese de que a vaga, após tantas exceções, fique com um deputado estadual. “Essa é uma posição de uma grande maioria da Assembleia. Não estamos, com isso, sendo contrários a ninguém, mas apenas cumprindo o nosso papel”.

Na parte final da entrevista, Niltinho, que integra o conselho político de Jerônimo, trata das eleições municipais. Deputado estadual do PP mais bem votado na capital, ele deixa clara a preferência pelo nome do vice-governador Geraldo Júnior, pré-candidato do MDB à sucessão municipal, para enfrentar o prefeito Bruno Reis (União), postulante à reeleição.

Confira abaixo a íntegra do papo:

Política Livre – O senhor tem sido um dos principais articuladores na coleta de assinaturas para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que vai permitir reeleições seguidas do presidente da Assembleia Legislativa. Não teme que essa iniciativa, que favorece diretamente o atual chefe do Poder, deputado Adolfo Menezes, gere desgastes à Casa?

Niltinho – É inegável que o objetivo é ajudar Adolfo. É um reconhecimento a todo o trabalho feito pelo presidente. E a presidência de Adolfo tem gerado resultados positivos não só para a Casa, mas para os baianos também. Ou seja, isso é positivo. O maior exemplo disso é que a PEC já tem mais de 50 assinaturas dos 63 deputados estaduais. Adolfo tem atuado com maestria na condução da Casa. É um sentimento não apenas da base do governo, mas da oposição também. Une toda a Assembleia, que precisa de harmonia e autonomia para atuar pela Bahia. Não é uma iniciativa só minha, só do deputado Nelson Leal (PP), que vai apresentar a PEC, mas de todos e tem que ser respeitada.

“O fato é que há hoje na Casa um desejo de que Adolfo continue por conta da condução dele. A PEC é só um primeiro passo de outros que serão dados”

O deputado Adolfo Menezes foi consultado antes do início da coleta de assinaturas?

Não, não fizemos consulta a Adolfo. Como eu disse, a PEC surgiu naturalmente da Casa. Os deputados começaram a falar do assunto e a tratar dessa possibilidade e isso foi ganhando corpo. Assim, tratamos dessa possibilidade de tentar criar as condições para a reeleição, como acontece em inúmeras outras Assembleias e Câmaras municipais do país. Claro que a eleição é só em fevereiro de 2025, e os outros 62 deputados podem querer ocupar a presidência. Não há imposição em contrário. Mas o fato é que há hoje na Casa um desejo de que Adolfo continue por conta da condução dele. A PEC é só um primeiro passo de outros que serão dados, porque ainda está longe da eleição da Mesa Diretora.

Existe uma jurisprudência no Supremo Tribunal Federal (STF) que impede a reeleição em legislaturas diferentes. Isso não seria um obstáculo?

Você tem diversos casos de reeleição de terceiro, quarto mandato consecutivo e esses presidentes continuam nos cargos nas Câmaras, nas Assembleias, mesmo após judicialização. E nem sempre há judicialização, principalmente quando o que está em jogo é a harmonia do Legislativo, a tranquilidade em manter as coisas funcionando na velocidade adequada. Além disso, creio que cabe ao Congresso Nacional criar uma legislação que de fato deixe claro essa questão das reeleições.

O senador Ângelo Coronel (PSD) foi o primeiro a lançar publicamente a ideia de um terceiro mandato para Adolfo Menezes, em um vídeo gravado ao lado do presidente da Assembleia e publicado nas redes. Foi a partir daí que os deputados começaram a se mobilizar?

Coronel é um senador que ouve muito os aliados, inclusive os deputados estaduais. Ele tem um filho que é deputado estadual (Angelo Coronel Filho, do PSD). Ouvindo as conversas, sabendo desse desejo da Casa, o senador externou publicamente esse sentimento, essa vontade, daquele jeito dele bem-humorado. A partir daí, esse movimento foi intensificado e é um movimento coletivo. Quase todos os deputados externam isso. Veja que dois deputados do PT assinaram imediatamente a PEC, assim como parlamentares da oposição, do próprio PSD, partido de Adolfo. O próprio líder da oposição, deputado Alan Sanches (União), também se colocou a favor de assinar a PEC. Então, a gente tem feito esse trabalho dentro da Casa que é suprapartidário, respeitoso, independente.

O líder do governo, deputado Rosemberg Pinto (PT), que não esconde o desejo de suceder a Adolfo Menezes na presidência da Assembleia, atuou para tentar impedir a coleta das assinaturas da PEC. Ele, inclusive, teria agido de forma ríspida com o senhor, ameaçando tratá-lo como oposição. O senhor já o perdoou?

Olha só, ele tem a posição dele, e a gente sabe que a Casa tem divergências, mas sempre buscando fazer o melhor. Rosemberg tem se colocado como possibilidade para ser presidente, e eu respeito a posição dele. Mas quem convive comigo no dia a dia sabe que eu sou um deputado de posições firmes, não me escondo na hora de me posicionar e eu sempre coloquei que apoiava a continuidade de Adolfo, assim como a maioria da Assembleia. Então, dentro desse sentimento, houve ali uma discordância no plenário, mas nenhum tipo de atrito mais sério.

O senhor está minimizando o ocorrido?

Não, não. O debate do contraditório é importante na política. E como eu disse aqui, ele apenas se posicionou diferentemente da minha posição e da grande maioria da Casa. Então, nós aceitamos a posição dele, mas não concordamos. É só ver que a PEC tem mais de 50 assinaturas já, inclusive de parlamentares do PT.

O senhor acha que o governador Jerônimo Rodrigues (PT) pode interferir nesse processo?

Conhecendo o governador como eu conheço, creio que não. Ele é um cara extremamente democrático. Ele já falou até publicamente que vai manter distância desse processo de sucessão na Assembleia, que tem autonomia. Não tenho sentimento de que vá ocorrer o contrário. O governador atua na Assembleia como forma de cobrar uma posição na votação de um projeto, algo assim. Sobre a sucessão da presidência, creio que isso só ocorreria se os deputados da base estivessem cogitando votar em um nome da oposição. Ele iria, talvez, conversar com todos da base para dizer que isso seria ruim, prejudicial ao governo. Mas Adolfo, além de ser um aliado, é um parceiro incondicional do Executivo, e o governador, como todo os deputados, tem muito apreço ao nosso presidente.

Caso o atual presidente, por algum motivo, não seja candidato à reeleição em 2025 o senhor, que abriu mão de disputar o posto em 2021 para apoiar Adolfo Menezes, pretende colocar o nome no páreo?

Em 2021, tivemos ali uma disputa inicial saudável, com respeito mútuo. Começamos caminhando em direções opostas, até que chegou o momento em que havia um clamor do próprio governo e nós recuamos para apoiar Adolfo. Nunca tive dúvidas naquela ocasião e hoje de que a decisão foi acertada. É óbvio que eu desejava ser presidente da Assembleia, e acho que todo deputado deseja isso, mas ali, quando eu recuei, sabia que estava apoiando um homem de palavra, sério. Então, essa marca de Adolfo também prevaleceu para que eu tomasse aquela decisão. Sobre 2025, digo que não trabalho com plano “B”. Só tem o plano “A”, de Adolfo, que tem meu apoio irrestrito.

“Como o primeiro bloco foi batizado de G8, decidimos internamente,
sem espírito de competição, chamar o nosso, que tem alguns dos deputados
mais bem votados da Assembleia, de G+”

Mesmo sendo líder do PP, o senhor articulou recentemente a criação de um novo bloco informal de oito parlamentares na Assembleia, composto ainda por representantes do MDB e do PSB. Isso foi uma reação ao bloco anterior, também de oito deputados, criado por membros também do PP, do PL, do Solidariedade, do Avante, do Podemos e do Patriota? É uma disputa por espaços no governo?

Não, de forma alguma. Não existe qualquer movimento de pressionar o governo para ocupar cargos por meio das votações. Pelo contrário, o objetivo é convergir, ajudar o governo. O bloco surgiu na base do governo, e isso sempre deixamos claro. Ao dizer isso, não estou fazendo nenhum contraponto ao outro bloco de oito. Pelo que estou sabendo, eles também têm participado das votações na Casa ao lado do governo. Tenho apreço a todos os deputados do outro bloco. São grandes amigos e parlamentares, vividos na política, apesar de a maioria estar no primeiro mandato. O que houve foi uma divergência partidária que levou dois deputados do PP, Felipe Duarte e Nelson Leal, a aceitarem compor esse outro bloco, criado antes. E quando um novo bloco nasce, desfalca um outro, como aconteceu no PP, lembrando que isso só pode ocorrer oficialmente no início de cada ano. No nosso caso, a gente já vinha conversando para criar o bloco em 2024, demonstrando afinidades, mas isso vazou e decidimos antecipar o anúncio. Como o primeiro bloco foi batizado de G8, decidimos internamente, sem espírito de competição, chamar o nosso, que tem alguns dos deputados mais bem votados da Assembleia, de G+.

A Assembleia vai escolher em breve um novo membro para o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), com a aposentadoria, em dezembro, do conselheiro Fernando Vita. O bloco do senhor vai lançar candidato? E mais: o nome escolhido deve ser da Casa, uma vez que as últimas indicações não foram, embora cabendo ao Legislativo?

Olha, mais importante do que lançamos um nome é defendemos esse pensamento de que o escolhido deve ser um deputado estadual, pois a indicação é da Assembleia. Nas escolhas anteriores que cabiam ao Legislativo, nós aceitamos nomes sugeridos pelo governo ou outras lideranças, como você lembrou. Mas todos os escolhidos eram bons nomes, como foi o caso do ex-deputado federal Nelson Pelegrino e da ex-primeira-dama Aline Peixoto, quadros capazes e competentes, com trajetórias de serviços prestados à Bahia, que aprovamos e estão no TCM com excelentes atuações. Agora, nesse momento, eu acho que chegou a hora, sim, de indicarmos um deputado estadual, alguém de dentro da Casa. Essa é uma posição de uma grande maioria da Assembleia. Não estamos, com isso, sendo contrários a ninguém, mas apenas cumprindo o nosso papel.

O PP, seu partido, vai seguir dividido entre ser governo e oposição durante as eleições municipais de 2024?

Olha, meu sentimento é que a gente vai ultrapassar isso realmente depois das eleições municipais. A disputa do ano que vem vai dar uma nova mexida no tabuleiro político. Agora, o PP já começou uma construção ao lado do governo, que é onde a maioria do partido deseja estar. Os deputados estaduais já estão na base, e a maioria dos federais também deseja isso. De modo que nem há de se falar em divisão, porque a tendência é pró-governo. O próprio presidente do partido na Bahia, o deputado federal Mário Negromonte Júnior, sempre teve uma relação história com o governo do PT, com o senador Jaques Wagner, não é? O mesmo vale para o deputado federal Cláudio Cajado. O que posso dizer é que eu vou trabalhar muito para buscar ao máximo que o PP esteja na base do governo nas disputas eleitorais na maioria das cidades. Vou buscar esse alinhamento, essas parcerias, até porque eu sou membro do conselho político do governador. Mas temos que respeitar também as realidades locais. Quem faz política sabe que cada cidade é uma temperatura, é um clima, é um momento. Então, vai ter cidades em que nós eventualmente teremos uma liderança local que não estará na base do governo.

“O que posso dizer é que eu vou trabalhar muito para buscar ao máximo que o PP esteja na base do governo nas disputas eleitorais na maioria das cidades.”

Em 2020, o PP saiu das urnas nas eleições municipais como segundo maior partido em número de prefeitos, perdendo apenas para o PSD. Mas na época a sigla estava na base do governo estadual. O senhor acha que a saída da base e o apoio ao ex-prefeito ACM Neto (União) no pleito de 2022 vai prejudicar o desempenho da legenda em 2024?

Em 2020, o PP fez pouco mais de 90 prefeitos na Bahia. E nem todos eles seguiram o caminho de apoiar ACM Neto e muitos ficaram com Jerônimo. Evidente que quando você está na base numa eleição municipal é mais fácil, é óbvio. Mas o PP hoje não está na oposição, e isso deixo bem claro. Embora o partido ainda não tenha tomado uma decisão oficial de ingressar na base, a maioria das lideranças, o que inclui os prefeitos, já estão ao lado do governo. Eu acho, então, que a gente deve ficar bem próximo da marca de e eleger algo em torno de 70 ou 80 prefeitos, que é mais ou menos o número que o PP hoje tem, após entradas e saídas.

Muita das saídas se atribui a um assédio do Avante, comandado pelo ex-deputado federal pepista Ronaldo Carletto…

Ronaldo é um amigo do qual tenho muito apreço. Convivemos muito dentro do PP, por onde já se elegeu deputado federal e, em 2022, apoiou o sobrinho Neto Carletto, que está conosco no partido. Ronaldo tomou a decisão de sair do partido porque não concordava com a direção partidária que adotamos, e respeitamos isso. Ele está trabalhando, buscando fortalecer o Avante. E esse processo de convidar prefeitos é comum, o nosso presidente faz isso, o senador Otto Alencar (PSD) faz e Éden Valadares (presidente do PT estadual) também. O que se diz no Avante, que tinha poucos prefeitos na Bahia, mesmo sendo da base do governador, é que já são 30, 40 ou 50 prefeitos, e não sei o número exato, pois não vi a lista. Mas não vejo como assédio ou um movimento para tirar prefeitos do PP. Alguns prefeitos, inclusive, acompanharam o movimento de Ronaldo porque eram muito ligados a ele na legenda.

Em Salvador, o apoio do PP à reeleição do prefeito Bruno Reis (União) é uma situação irreversível? Qual será a sua posição individual, o senhor que é o deputado estadual pepista mais bem votado na capital?

Eu já me posicionei junto ao governador, afirmando que estarei apoiando o candidato que ele escolher. Como disse, faço parte do conselho político e não poderia ser diferente. Já fui pré-candidato a prefeito de Salvador pela base do governo. Então, todo mundo sabe do carinho especial que eu tenho pela capital e do desejo que eu tenho de contribuir para a cidade em que eu nasci. Sobre o PP, eu não posso falar pelo partido, e a minha posição é como líder na Assembleia, onde estamos na base do governo. Mas acho que esse ponto (de apoio a Bruno Reis) está pacificado dentro do partido. Temos aí um secretário municipal de Governo do partido, que é Cacá Leão, e os vereadores do PP na capital também desejam caminhar com o prefeito. Mas não posso cravar porque política é como nuvem. E essa é uma decisão do nosso presidente Mário Júnior.

Qual seria o melhor candidato da base para enfrentar o prefeito Bruno Reis (União)?

Eu acho que estamos muito bem servidos com os nomes que estão colocados. O nome da deputada federal Lídice da Mata (PSB), que tem história na cidade e que, segundo se comenta, está numa posição melhor nas pesquisas. Tem a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB), que foi a mais votada em 2022 para a Assembleia. Tem também o deputado estadual Robinson Almeida, que, apesar de não ser tão bem votado assim na capital, é preparado e competente. E você tem o vice-governador Geraldo Júnior (MDB), um cara que talvez aí seja o mais habilitado em função da passagem política dele por Salvador, sendo diversas vezes vereadores, eleito três vezes presidente da Câmara Municipal e ocupa atualmente a posição ao lado de Jerônimo. É um nome extremamente conhecido na capital. Ele tem uma vertente que não pode ser desconsiderada. A candidatura de Geraldo Júnior é uma candidatura que consegue buscar voto do principal opositor, que já é o atual prefeito da cidade. Ele é um cara de centro-direita, talvez. Então, se a gente puder somar essa força, usando a força dele, a experiência, traduzindo a história dele em Salvador, você pode ter uma candidatura que soma muito, em minha ótica. De modo que a candidatura de Geraldinho é muito competitiva e pode derrotar Bruno Reis em Salvador. É um posicionamento extremamente competitivo. E acho que o objetivo de toda base é esse: ter um nome competitivo para vencer em Salvador. Eu tentei fazer isso em 2020, unificar a base do governo do Estado em Salvador, e coloquei até meu nome. Só assim podemos ser competitivos na capital, enfrentando alguém que já está na cadeira. Esperamos que, com sabedoria, na hora em que houver a escolha por parte do governador, todos estejam juntos nesse processo de fazer uma grande campanha para que possamos vencer.

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