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O presidente da Argentina, Javier Milei 10 de janeiro de 2024 | 20:02

Argentina chega a acordo com FMI para desbloquear US$ 3,3 bilhões para pagar dívidas

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A Argentina chegou a um acordo nesta quarta-feira (10) com o FMI (Fundo Monetário Internacional) na sétima revisão do programa de US$ 44 bilhões do país, segundo uma pessoa com conhecimento direto do assunto, que pediu para não ser identificada antes do anúncio oficial.

A assessoria imprensa do presidente Javier Milei disse em nota divulgada nesta quarta que um acordo será anunciado no final do dia, após os detalhes serem finalizados, sem especificar o momento ou tipo de acordo.

Um porta-voz do FMI não comentou a declaração da Argentina.

Aprovado pelo conselho executivo do FMI, o acordo enviaria cerca de US$ 3,3 bilhões para a Argentina, montante que será usado pelo governo Milei para pagar dívidas anteriores com o Fundo que vencem no final do mês e depois.

De forma mais ampla, o acordo dá a Milei tempo para decidir se continua com o programa de negociação de dívidas atual, negociado por seu antecessor, ou propõe um novo.

Wall Street mostrou rapidamente apoio ao acordo. Pouco depois do anúncio, os títulos em dólares de referência do país com vencimento em 2030 subiram cerca de US$ 0,01, sendo negociados em torno US$ 0,39, de acordo com dados compilados pela Bloomberg, representando o maior salto intradia desde 24 de novembro.

O acordo em nível de equipe ocorre depois que altos funcionários do FMI visitaram a Argentina para negociações, um desenvolvimento simbolicamente positivo depois que as conversas foram realizadas quase inteiramente fora do país por anos, quando as tensões entre o presidente Alberto Fernández e a liderança do Fundo se acirraram.

Antes desta rodada de negociações com o FMI, a equipe de Milei, liderada pelo ministro da Economia Luis Caputo, propôs medidas de austeridade rigorosas, desregulamentação em massa e implementou uma desvalorização cambial de 54% com o objetivo de redefinir a economia.

A política monetária ainda é um ponto de discordância: funcionários do FMI têm insistido há muito tempo que as taxas de juros permaneçam acima da inflação; o banco central argentino mudou seu instrumento de referência no mês passado, levando a um corte acentuado nas taxas, apesar dos preços galopantes.

Funcionários do banco central continuam mantendo um sistema de câmbio de desvalorização gradual herdado do governo anterior, permitindo que o peso se desvalorize lentamente apenas 2% ao mês.

Analistas dizem que esse ritmo não durará muito tempo com a inflação nos níveis atuais e o peso paralelo começando a se desvalorizar novamente em janeiro.

O primeiro pacto do Milei com o FMI marcaria um novo capítulo na saga mais recente do presidente na Argentina, onde, segundo o próprio Fundo, ele enfrenta grandes riscos reputacionais.

Um resgate recorde em 2018 —quando Caputo foi destituído do cargo de presidente do banco central na época— não conseguiu salvar a economia de uma crise cambial e foi eventualmente substituído em 2022 por outro acordo com o qual o governo anterior rotineiramente deixou de cumprir.

Mas, até agora, Milei e o Fundo estão em lua de mel. A diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, aplaudiu seus primeiros movimentos e membros importantes da equipe econômica do presidente até se reuniram com altos funcionários do Tesouro dos EUA no primeiro mês de governo do presidente.

Milei chegou a dizer que o FMI “nos vê como heróis” por causa de seu programa de austeridade.

Embora Milei conte com o apoio de Washington, suas medidas favoráveis ao mercado para consertar a economia argentina implicam em dores severas no futuro, e a resistência pública já começou a surgir.

Uma greve geral organizada por sindicatos está marcada para 24 de janeiro, enquanto cenas de moradores de Buenos Aires batendo panelas em desafio à sua campanha de austeridade estão se tornando rotineiras.

A inflação provavelmente ultrapassou 200% em dezembro, de acordo com estimativas privadas, depois que Milei desmantelou os controles de preços em meio à desvalorização do peso.

Patrick Gillespie/Folhapress
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