14 dezembro 2024
Aos 68 anos de idade, o ex-deputado Marcelo Nilo (Republicanos) só tem a chance de ser conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) se for eleito para a próxima vaga, que será preenchida por indicação da Assembleai Legislativa entre o final de fevereiro e o início de março deste ano. Isso porque os membros do tribunal se aposentam de forma compulsória aos 75.
Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, Nilo demonstra confiança na vitória, mesmo enfrentado um candidato do PT, que é o deputado estadual Paulo Rangel, apontado como amplo favorito. O ex-deputado aposta nas relações que construiu ao longo de 28 anos na Assembleia, sendo dez consecutivos como presidente, uma marca que dificilmente será batida. Ele acredita ainda que o voto secreto para a eleição é um aliado.
Marcelo Nilo comenta ainda sobre a possibilidade de a base do governo ter uma outra candidatura – a do deputado estadual Fabrício Falcão (PCdoB) – e, embora se coloque como postulante de todo o Legislativo, confia que terá os votos dos 20 representantes da oposição, embora o deputado estadual Marcinho Oliveira (União) ainda não tenha declarado apoio.
Com 32 anos de atividade política e eleitoral – o último mandato foi o de deputado federal, entre 2019 e o início de 2023 -, Marcelo Nilo afirma ainda que decidiu entrar na disputa pela cadeira no TCM porque não quer “aposentar as chuteiras”. E diz que não se arrepende de ter rompido com o PT. Confira abaixo a íntegra da entrevista:
O senhor tem mais de 30 anos na atividade política e eleitoral. Por que agora esse desejo de ser conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM)?
Olha, eu fui deputado durante 32 anos, 28 como deputado estadual e quatro como deputado federal. Como a Bahia toda sabe, eu queria ser vice na chapa de ACM Neto (União), em 2022. Infelizmente, as circunstâncias políticas não permitiram. E eu saí candidato a deputado federal faltando 56 dias para a eleição. Já tinha passado 90% dos meus votos para os companheiros. Quando eu retornei, talvez só metade das minhas lideranças voltaram para me apoiar. Eu tive 65 mil votos e fiquei na primeira suplência. Me sinto ainda muito jovem para amarrar a chuteira, mas ser deputado federal hoje sem mandato é muito difícil, porque você enfrenta os deputados federais com mandato que têm emendas parlamentares – uns tem R$ 200 milhões, R$ 300 milhões, e é muito difícil. E candidato a deputado estadual não posso ser novamente porque não vou concorrer com meu genro, Marcelinho Veiga (União). Então surgiu essa vaga no Tribunal. Diga-se de passagem, muitas vagas de conselheiro, seja do TCM ou TCE, já passaram por minhas mãos quando eu era presidente da Assembleia e eu nunca pleiteei. Por que? Porque eu jamais renunciaria ao mandato de deputado para ser conselheiro. Como tem essa vaga agora, é óbvio que eu vou apostar nas relações que eu construí na Assembleia, onde fui dez anos presidente. Óbvio que eu não serei candidato nem da base do governo e nem da oposição: eu serei candidato da Assembleia Legislativa. Vou trabalhar para ganhar. Agora, é óbvio que é uma eleição difícil.
O PT lançou como candidato o deputado estadual Paulo Rangel, tido como favorito até aqui. Como o senhor, que hoje está no grupo de oposição, pretende vencer? Afinal a bancada oposicionista soma apenas 20 dos 63 parlamentares na Assembleia.
O Gaban (Carlos Gaban, ex-deputado pelo hoje União Brasil) teve mais votos do que Zezéu (Ribeiro, ex-deputado petista e ex-conselheiro) no primeiro turno, quando disputou uma vaga no TCM (em 2014). Mesmo estando na oposição, ele quase ganha, entendeu? E Gaban foi presidente apenas por dois anos. Eu fui por dez anos, certo? Então, eu sei que é uma eleição difícil, mas, diga-se de passagem, o PT já indicou o Nelson Pelegrino (ex-deputado federal), já indicou Aline Peixoto (ex-primeira-dama) e Ronaldo (Sant’Anna, ex-auditor), uma pessoa próxima ao PT. Então, os três últimos conselheiros do TCM foram indicações do PT. Quer dizer, um mesmo partido indicar o quarto conselheiro consecutivo seria uma coisa inédita no país. Não é nada pessoal contra o candidato Paulo Rangel, pelo contrário. O deputado é um grande parlamentar, um homem de bem, um homem decente, mas quatro conselheiros consecutivos do TCM indicados pelo PT não é uma coisa normal, é uma coisa atípica e eu estou apostando no voto secreto e nas relações que construi na Assembleia. Eu sou amigo de quase todos ali – ou foram meus colegas, ou o pai foi meu colega, ou a mãe foi minha colega, ou o irmão, o filho. Tenho relações com todos.
O deputado estadual Fabrício Falcão (PCdoB), que também é do governo, tem dito que não vai retirar o nome do páreo em favor de Paulo Rangel. É bom, para o senhor, que a base do Executivo estadual tenha duas candidaturas ao TCM?
Isso para mim é secundário, porque o candidato precisa ter 32 votos para se eleger, mas quanto mais candidatos, maior a dificuldade para se alcançar isso. Eu vou trabalhar para ter os 32 votos, independentemente de se terei um ou dois adversários.
A oposição, que vai inscrever a candidatura do senhor em fevereiro, pode ajudar Fabrício Falcão a garantir as 13 assinaturas mínimas para a inscrição dele?
O deputado Fabrício é um parlamentar muito bem relacionado. Eu acho que se ele pleitear, ele consegue as 13 assinaturas. Porque para ser candidato, você tem que ter as assinaturas, ser indicado pela Mesa Diretora ou pelo presidente da Assembleia. Se o deputado Fabrício realmente solicitar aos pares, eu acho que ele consegue as assinaturas. Como ele vai fazer isso, aí é preciso ver com ele.
O senhor acredita em interferência do governador Jerônimo Rodrigues (PT) nessa disputa? Os senadores Jaques Wagner (PT) e Otto Alencar (PSD), que exercem grande influência na Assembleia, já articulam em favor de Paulo Rangel.
Olha, o governador tem dito de público que vai se meter. É normal e natural que ele participe porque é um direito dele. Aliás, qualquer cidadão pode participar pedindo votos. É óbvio que, se fosse só uma decisão do Parlamento, minhas chances seriam bem maiores, mas quando tem a participação de terceiros, é óbvio que dificulta. Mas eu aposto nas relações que eu construí, porque ninguém na história do Parlamento, desde o descobrimento do Brasil, conhece aquela Casa como eu conheço. Eu conheço cada centímetro quadrado do Parlamento baiano. Tudo eu discutia com os deputados. Ninguém fez mais do que eu para melhorar as condições de trabalho dos deputados. Antes de eu ser presidente, cada deputado tinha apenas quatro funcionários no gabinete, e eu mudei isso. Melhorei as condições físicas da casa, com o prédio anexo Jutahy Magalhães. Coloquei a Assembleia para funcionar. Fiz a Assembleia Itinerante, levando a Casa para 23 municípios, a exemplo de Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna, Ilhéus. Antes de mim, para um deputado falar com o presidente da Casa precisava agendar com antecedência, e isso mudou, porque a partir da minha gestão o deputado não precisava nem mais ser anunciado pela secretária para entrar na sala do presidente. A partir da minha presidência, os deputados tiveram melhores condições estruturais para exercer seus mandatos com dignidade. Então, ninguém fez mais pelo Parlamentar do que nós fizemos.
Esse é o argumento que o senhor utiliza na hora de pedir o voto?
O argumento que eu tenho é que ninguém viveu o Parlamento baiano como eu vivi. E acho que os 63 deputados, na hora que forem votar, têm de escolher um parlamentar que represente o Parlamento baiano, ou seja, que tenha a cara da Assembleia. Porque se eu for conselheiro, ninguém tem a cara da Assembleia mais do que eu tenho, modéstia à parte. Fui dez anos presidente, 14 vezes consecutivas eleito por vocês da imprensa como o melhor deputado, e eu tenho uma história ali dentro. Fui 16 anos oposição ao carlismo, o que era muito duro, fui da base do governo e dei minha contribuição sempre ao Parlamento até ser deputado federal, em 2018. E essa vaga para o TCM é da Assembleia.
Com esse histórico e com suas relações, talvez se o senhor estivesse hoje na base do governo o seu nome despontasse como favorito nessa disputa. Se arrepende de ter feito o movimento de romper com o PT para apoiar o ex-prefeito de Salvador ACM Neto em 2022, quando foi preterido da chapa majoritária?
Não me arrependo porque é o seguinte: passaram oito vagas do TCE e do TCM na minha mão quando eu era presidente da Assembleia, e eu nunca pleiteei ocupar uma dessas cadeiras. Eu jamais renunciaria ao mandato de deputado. E não falo isso criticando quem o faz. É apenas uma posição pessoal minha. Eu sempre tomei as minhas decisões políticas dentro do que achava coerente. Perder ou ganhar faz parte da política.
Nos dez anos de presidência da Assembleia, o senhor não se colocou para um dos tribunais, mas indicou para o TCE, em 2015, o atual presidente da Corte, Marcos Presídio. Essa indicação foi um dos momentos de conflito entre o senhor e o então governador Rui Costa (PT) antes do rompimento, em 2022, correto?
Marcos Presidio, que trabalhou comigo na Assembleia, foi de fato uma indicação pessoal minha. Eu o indiquei para ser presidente da Embasa, porque Rui Costa tinha um acordo comigo, mas essa indicação não foi aceita. Fiquei muito triste com isso e aí coloquei ele como conselheiro, certo? Indiquei ele e o Rui Costa não aceitava de jeito nenhum. O governador não teve um nome na época, mas convidou os deputados Adolfo Menezes (PSD), atual presidente, e Nelson Leal (PP) para disputar com Marcos Presidio e nenhum dos dois aceitou, certo? Agora eu ajudei todos os outros candidatos aos tribunais, como o ex-deputado João Bonfim, Zezéu Ribeiro, Plínio Carneiro, Mário Negromonte, enfim, todos os oito, certo? Agora a indicação pessoal minha foi Marcos Presídio, porque eu realmente banquei ele contra o Rui Costa, que não queria jeito nenhum, mas a Casa tem essa autonomia.
Ano passado, a Assembleia aprovou a indicação da esposa de Rui Costa, a ex-primeira-dama Aline Peixoto, para o TCM, o que envolveu uma articulação firme de Adolfo Menezes, contrariando inclusive Wagner e Otto. Tem acompanhado o trabalho dela?
Eu não ia pedir a um deputado da base do governo que assinasse a lista em meu favor, porque seria colocar um companheiro numa situação de constrangimento, certo?
O senhor tem uma relação pessoal com Adolfo, correto?
Sim. Mas ele é da base do governo e jamais pedi o voto de Adolfo, certo? Até porque ele é o presidente da Assembleia, é o magistrado. Ele que vai presidir a sessão da eleição. Então, eu jamais vou utilizar uma amizade de 45 anos para pedir voto a ele.
O senhor tem o apoio de todos os deputados da oposição?
Veja, dos 20 da oposição, 19 assinaram uma lista de apoio a mim. Quem coordenou foi o líder da bancada, deputado Alan Sanches (União). Eu não saí pedindo, entendeu? Agora, eu creio, e é a opinião pessoal minha, que eu terei os 20 votos da oposição. Agora, como tenho deixado claro, sou candidato de toda a Assembleia. Eu não ia pedir a um deputado da base do governo que assinasse a lista em meu favor, porque seria colocar um companheiro numa situação de constrangimento, certo? Eu aposto é no voto secreto para vencer, nas minhas relações pessoais, na independência da Casa. Por isso eu acredito que tenho chance. Sei que é uma eleição difícil, ainda mais se o governador, se Wagner, Rui, Otto e o senador Ângelo Coronel (PSD) se meterem mesmo, mas estou trabalhando para vencer.
Da oposição, o único que não assinou em seu favor foi o deputado Marcinho Oliveira (União), seu adversário político em Monte Santo. Acha que vai ter o apoio dele?
Estou trabalhando com confiança de que terei o apoio dos 20 deputados da oposição e que, no voto secreto, vou vencer a eleição como candidato de toda a Assembleia, por conta da minha história e das relações pessoais que construí naquela Casa.
Em 2015, quando estava presidente da Assembleia, o senhor mandou criar uma comissão, presidida então por Paulo Rangel, para fazer um plano de extinção do TCM. Não é meio contraditório hoje o senhor desejar ser conselheiro?
Nunca pedi a extinção do tribunal. O que eu dizia na época era o seguinte: um conselheiro do tribunal tomava uma decisão mais polêmica sem que houvesse pedido de vistas ou debate e depois um outro conselheiro tomava uma outra decisão para um caso semelhante de forma totalmente diferente. O conselheiro decidia e os outros sete apoiavam sem debate, e era isso que eu criticava. O que eu sempre defendi era que as decisões fossem colegiadas. Sobre a comissão, eu apenas cumpri o meu papel como presidente de fazer a instalação, mas nunca defendi extinção. Naquela época, fui procurado por vários conselheiros e conversamos, tanto que depois as decisões passaram a ocorrer com debates no plenário do tribunal. Isso avançou.
Tem planos de concorrer novamente em 2026 caso não tenha êxito na disputa pelo TCM?
Vou avaliar. Como disse, não quero me aposentar. Se eu tiver chances numa candidatura a deputado federal, posso disputar. Mas meu plano “a” é ser conselheiro, e não trabalho muito com isso de plano “b” para não perder o foco. Eu só posso disputar essa vaga porque para as próximas eu já terei completado 70 anos.
Publicada originalmente às 9h12
Política Livre