Foto: Reprodução/Site do União Brasil
Elmar defende que o presidente da Câmara Federal seja um baiano 25 de março de 2024 | 09:36

Entrevista – Elmar Nascimento: ‘Existe a possibilidade de o União Brasil apoiar a reeleição de Lula’

exclusivas

Depois de mais de 30 dias afastado da Bahia, o líder do União Brasil na Câmara Federal, deputado Elmar Nascimento, voltou a pisar em solo baiano para participar, na última quinta-feira (21), do ato de filiação da prefeita de Morro do Chapéu, Juliana Araújo, ao PDT. Ao final do evento, ele conversou com exclusividade com o Política Livre sobre temas da política nacional e local.

Elmar defendeu que o próprio presidente da Câmara Federal seja um baiano, e pregou, caso tenha a candidatura confirmada para a sucessão do presidente Arthur Lira (PP-AL), que haja um entendimento com o outro parlamentar do Estado de olho na vaga: Antônio Brito (PSD). “Podemos sentar com Antônio Brito e discutir que deve ser candidato aquele que reunir o maior número de apoiadores”.

O líder baiano falou ainda sobre as relações com o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Elmar afirmou, inclusive, que o União Brasil pode apoiar a reeleição do petista em 2026. Sobre a Bahia, o deputado fez elogios ao “trato pessoal” do governador Jerônimo Rodrigues (PT), porém salientou que uma nova candidatura do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União) ao Palácio de Ondina é um caminho natural.

Elmar Nascimento garantiu ainda que não vai interferir na disputa pela presidência da Assembleia Legislativa, onde o adversário político Adolfo Menezes (PSD) pretende tentar, em fevereiro de 2025, uma segunda reeleição para o comando da Casa. Entretanto, o líder do União Brasil deixou clara a posição contrária à recondução por, segundo ele, questão de princípio.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Depois da retirada do deputado federal Luciano Bivar (PE) da presidência do partido, o União Brasil hoje está pacificado?

Não há hoje mais qualquer tipo de divisão dentro do União Brasil, até porque estão do mesmo lado todos os 58 deputados federais, com exceção do próprio Bivar, todos os senadores, os nossos quatro governadores, os três prefeitos de capitais e todos aqueles que têm mandato e densidade popular. Estamos mais unidos e mais fortes e vamos poder mostrar isso agora nas eleições municipais, quando teremos um resultado importante.

“Eu defendo que o próximo presidente da Câmara seja um baiano. Há quase 30 anos o falecido deputado Luis Eduardo Magalhães foi presidente da Casa”

Bivar vai seguir no cargo que ocupa atualmente na Mesa Diretora da Câmara Federal, que é a primeira-secretaria?

O que decidimos nesse momento foi a expulsão dele da presidência do partido. Essa questão do cargo da Mesa será rediscutida se ele for desfiliado do União Brasil. Lá na frente vamos analisar isso. O cargo é de indicação do partido.

Por falar em Mesa Diretora da Câmara, o senhor já se coloca publicamente como candidato à sucessão do seu amigo e atual presidente Arthur Lira (PP-AL)?

Eu defendo que o próximo presidente da Câmara seja um baiano. Há quase 30 anos o falecido deputado Luis Eduardo Magalhães foi presidente da Casa. É importante que um parlamentar da Bahia volte a ocupar o terceiro cargo mais importante do país. Isso seria bom para nosso Estado. Meu nome tem sido muito falado por conta das amizades que construí no Parlamento. Lidero a terceira maior bancada do Congresso e tenho relações profundas de amizade com diversos colegas e líderes. Mas só vou me posicionar sobre isso de forma mais objetiva depois das eleições municipais. Esse debate tem sido muito antecipado.

Mas o senhor tem passado muito tempo fora da Bahia articulando a sua candidatura…

Eu sempre viajei. Sempre gostei de viajar pelos Estados, conversar com os deputados, bem como de receber os deputados na Bahia, como aconteceu na virada de ano e no Carnaval. Ano passado, por exemplo, fui a Barra de São Miguel, em Alagoas, a convite do presidente Arthur Lira, que costuma passar o Carnaval em Salvador. Essa relação de amizade que temos faz também com que meu nome surja para a sucessão, assim como a boa relação que tenho com os demais líderes e parlamentares e a minha própria posição de liderança de um partido importante. Isso foi algo construído ao longo do tempo. Não surgiu da noite para o dia.

“Eu acho que, no momento certo, caso seja esse o cenário, podemos sentar com Antônio Brito e discutir que deve ser candidato aquele que reunir o maior número de apoiadores”

A Bahia tem outro deputado cujo nome está colocado como candidato à presidência da Câmara, que é Antônio Brito (PSD). Podemos ter uma disputa entre dois baianos?

Eu acho que, no momento certo, caso seja esse o cenário, podemos sentar com Antônio Brito e discutir que deve ser candidato aquele que reunir o maior número de apoiadores. Quem tiver melhor colocado apoia o outro. Vamos tratar disso mais adiante.

É verdade que Arthur Lira tem o senhor como o candidato do coração à sucessão?

Todo mundo sabe que eu e Lira temos essa relação de amizade, como já coloquei. Mas se eu desejar ser candidato a presidência da Câmara, tenho que fazer a minha parte também. Mas eu deixo claro: sobre a presidência Câmara, no momento eu sou igual ao prefeito Bruno Reis (União), que não diz que é candidato à reeleição, pois aguarda o momento mais adequado.

O senhor vai buscar o apoio do Planalto e do PT se for candidato à presidência da Câmara?

Teríamos que construir isso, evidentemente. Eu tenho uma excelente relação com os deputados do PT, inclusive os da Bahia.

“A relação com o ministro Rui Costa é excelente, e temos discutido as questões de interesse do Brasil e da Bahia”

Esse assunto tem sido discutido com o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT)?

A relação com o ministro Rui Costa é excelente, e temos discutido as questões de interesse do Brasil e da Bahia. Assim como tem sido excelente a relação do presidente Lula (PT) conosco e com o Congresso.

Como o senhor viu a queda de popularidade de Lula, inclusive na Bahia, apontada por pesquisas recentes?

Teria que analisar os motivos. Mas Lula tem mantido uma relação excelente, leal e correta conosco. Se fala muito que o problema pode ser na área da comunicação, mas a comunicação com o Congresso melhorou bastante e está indo bem.

Existe a possibilidade de o União Brasil apoiar a reeleição do presidente Lula em 2026?

Como hoje temos três ministros no governo, é claro que existe a possibilidade. Pode acontecer tudo e nada, depende de como seremos tratados. E se o governo apoiar o nome do União Brasil para as presidências da Câmara e do Senado, qual seria o discurso que teríamos para não apoiar a reeleição do presidente? Digo sempre que na política quem quer apoio também precisa saber apoiar.

“Se o governo apoiar o nome do União Brasil para as presidências da  Câmara e do Senado, qual seria o discurso que teríamos para não apoiar a reeleição do presidente?”

Mas e como ficaria, nesse caso, a posição daqueles do União Brasil que fazem oposição ao PT nacionalmente, a exemplo do governador de Goiás, Ronaldo Caiado?

Esse tema terá que ser discutido e decidido no âmbito da Executiva do partido, e no momento certo. É natural que cada um tenha suas posições, e respeitamos todas elas. Mas como líder do União Brasil na Câmara, digo que hoje não podemos descartar essa possibilidade (apoio à reeleição de Lula) porque ocupamos três ministérios e estamos na base do governo.

ACM Neto (União), que tem feito oposição dura ao PT na Bahia, segue como nome do partido para a disputa do governo da Bahia em 2026?

Sim, evidentemente. Falei anteriormente de um cenário nacional. ACM Neto é o nosso nome mais competitivo, tem se preparado para isso, foi um grande prefeito de Salvador. Seria uma candidatura natural do União Brasil, que agrega a oposição na Bahia. Neto está fazendo o papel que ele tem de fazer.

“ACM Neto é o nosso nome mais competitivo, tem se preparado para isso, foi um grande prefeito de Salvador”

O senhor tem dialogado com o governador Jerônimo Rodrigues (PT)? Como avalia o governo dele?

Olhe, tenho passado muito tempo fora da Bahia e não tenho acompanhado de perto isso. Desde o Carnaval que não pisava os pés no Estado, para você ver. No trato pessoal, o governador é muito gentil e correto. Sou daqueles que, ao fim das eleições, deixa a disputa política de lado para tratar dos interesses do Estado. Se eu puder ajudar, ajudo, e não atuo para atrapalhar. Essa semana que passou mesmo atuamos em sintonia para tratar das questões da Bahia.

Dois aliados do senhor, os deputados estaduais Marcinho Oliveira (União) e Júnior Nascimento (União), este segundo seu primo, votaram a favor de um pedido de urgência ao projeto enviado por Jerônimo solicitando um novo empréstimo à Assembleia Legislativa, desta vez de R$400 milhões, destinados à segurança pública. Esse posicionamento desagradou a maior parte do União Brasil e a oposição no Estado. O senhor concordou?

Se eu fosse deputado estadual também votaria a favor, não só da urgência, mas do projeto. É uma questão de coerência. Meu irmão e prefeito de Campo Formoso, Elmo Nascimento (União), também já pediu empréstimos à Câmara Municipal. E veja que nós temos um comportamento diferente daquele que a oposição em Campo Formoso tem, de votar sempre contra e trabalhar sempre pelo quanto pior melhor. A segurança hoje é um dos principais problemas da Bahia. Então, qual a razão em se colocar contra esse empréstimo?

Marcinho Oliveira tem sido muito criticado por aliados da oposição por participar de eventos ao lado do governador no interior. Essas críticas não são justas?

Veja, entre 60 a 70% dos prefeitos que ajudaram na eleição de Marcinho estão na base do governo do Estado, votaram também em Jerônimo. É o caso, por exemplo, do prefeito de Euclides da Cunha, Luciano Pinheiro (PDT). Esses prefeitos chamam Marcinho para esses eventos. Como ele pode dizer não?

“Lembro que concorri (em 2009) contra a reeleição do deputado Marcelo Nilo, quando era um dos representantes da Assembleia. Ninguém pode querer se perpetuar no poder”

Falando em Assembleia, o senhor vai atuar para impedir a segunda reeleição do atual presidente da Casa, o deputado Adolfo Menezes (PSD), que é seu adversário político em Campo Formoso?

A minha interferência sobre essa questão é zero. Não articulei nada. Eu não sou deputado estadual e, portanto, não voto. Mas eu acho que o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre esse tema é claro. Acho que é a mesma tese que vai prevalecer em plenário. Além disso, como já afirmou o próprio governador, a questão da alternância de poder é importante. É uma questão de princípio, e não de disputa local. Lembro que concorri (em 2009) contra a reeleição do deputado Marcelo Nilo (hoje no Republicanos), quando era um dos representantes da Assembleia. Ninguém pode querer se perpetuar no poder. Mas, repito, não vou interferir e essa questão é dos deputados estaduais.

Caso não consiga viabilizar a eleição para a presidência da Câmara, o senhor poderia concorrer ao Senado em 2026?

É preciso subir na balança e ver o peso que se tem. Eu não dependo de ninguém, além de Deus, dos amigos e do povo da Bahia, para me eleger deputado.

O deputado federal José Rocha (União) já se lançou para o Senado…

É um excelente nome. Tem condições de reunir apoios dentro e fora do partido.

O União Brasil tem perdido, na Bahia, prefeitos para partidos como o Avante, o PSB e o Solidariedade. Isso pode ter reflexo nas eleições de outubro?

Não vejo perdas em cidades como Salvador, Vitória da Conquista, Camaçari, Barreiras. O partido segue muito forte nas grandes cidades da Bahia.

Alexandre Reis
Comentários