1 novembro 2024
O engenheiro de produção Francisco Elde sempre teve uma atuação mais discreta no grupo político do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União) e do sucessor Bruno Reis (União). Mas tudo mudou quando, em fevereiro deste ano, ele assumiu a presidência estadual do PRD com a missão de montar uma chapa de candidatos a vereador na capital e organizar a legenda, até então na base do governador Jerônimo Rodrigues (PT), no interior.
Nesta entrevista ao Política Livre, Elde, que já pertenceu à Executiva estadual do Cidadania, conta como foram as conversas visando assumir o comando do PRD baiano e colocar a legenda, agora com quatro vereadores, na base do prefeito. Ele fala ainda sobre as movimentações para construir uma chapa de candidatos ao Legislativo que inclui nomes que outrora estavam no grupo do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), postulante ao Palácio Thomé de Souza.
Na Prefeitura desde 2015, onde começou atuando na área de logística da então Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza, na época comandada por Bruno Reis, Francisco Elde, que atualmente chefia os gabinetes do prefeito e da vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT), trata ainda da composição da chapa majoritária e dos planos do PRD para o pleito de 2026.
Confira abaixo a íntegra da entrevista.
O senhor sempre teve uma atuação mais técnica ou de bastidor na Prefeitura de Salvador. Como foi parar na presidência do PRD?
Eu era do Cidadania desde 2011. Cheguei a fazer parte da Executiva estadual no lugar do vereador Joceval Rodrigues (hoje no MDB). Mas de fato eu tinha uma atuação mais tímida. Sempre trabalhei mais na parte financeira, organizacional, técnica. Não fazia articulação política. Mas decidi aceitar o convite do prefeito Bruno Reis (União), que, nas articulações em Brasília, conseguiu o apoio do PRD e me indicou para ser o presidente do partido na Bahia. O presidente nacional do partido, Ovasco Resende, aceitou a indicação, bem como outras lideranças do PRD. Ganhei a confiança deles para que a gente possa crescer e Salvador e na Bahia.
Como se deu essa aproximação sua com Bruno Reis e a vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT)?
Comecei a trabalhar na Prefeitura em 2015, a convite de Bruno e de Ana. O trabalho era na Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza, que tinha Bruno como secretário e Ana como sub. Eu entrei para ajudar a resolver um problema de logística. Em 2016, fui um dos coordenadores da campanha à reeleição de ACM Neto (União). As coisas foram acontecendo naturalmente e, em 2017, fui convidado para trabalhar na Previdência municipal, com a missão de fazer uma reformulação, trazendo para a administração direta. Depois atuei no programa de apoio a startups no Colabore, no Parque da Cidade, e coordenei a campanha de Bruno em 2020 junto com Igor Dominguez (assessor especial do prefeito) e Luiz Galvão. Em 2021, assumi a chefia de Gabinete da vice-prefeita Ana Paula e, em 2022, Bruno me chamou para ser chefe de Gabinete dele também. Estou acumulando as duas funções atualmente.
O deputado federal Elmar Nascimento (União) ajudou nessa costura para tirar o PRD da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) e atrair a sigla para o grupo de Bruno Reis?
Sim, tanto Elmar quanto o deputado estadual Marcinho Oliveira (União) nos ajudaram nisso, diante da capacidade e das relações que eles têm em Brasília. Os dois mostraram ao comando nacional do PRD que só a gente, o nosso grupo, tinha condições de fazer o partido crescer na Bahia, inclusive pela relação do número 25, que é o nosso, conosco, com Bruno, com o ex-prefeito ACM Neto. Enfim, Elmar e Marcinho foram importantes nas articulações com Ovasco Resende, para atrair o PRD para a base de Bruno. A única condição imposta por Ovasco foi que o partido em Lauro de Freitas continuasse sob o comando de Alexandre Marques, que é vereador lá e era o presidente da legenda na Bahia antes de eu assumir. Nós fizemos esse acordo, mas Alexandre não cumpriu a parte dele.
Por que ele trocou o PRD pelo PT para disputar a reeleição a vereador de Lauro de Freitas?
Sim. Ele deixou o PRD em 5 de abril, um dia antes de a janela partidária fechar, e ainda, junto com a prefeita (Moema Gramacho, do PT), tirou outros candidatos a vereador do partido. Antes que ele me comunicasse, eu já estava sabendo do movimento dele de ir para o PT e passei a monitorar como estavam se dando as filiações dos demais candidatos a vereador pelo PRD. Por isso, ainda consegui montar uma chapa com 17 nomes que serão candidatos em Lauro pelo nosso partido. Constitui lá uma nova comissão provisória, presidida por Tássio Lima, que é advogado especialista em direito eleitoral, e declaramos apoio à pré-candidatura da vereadora Débora Régis (União) à Prefeitura. Vamos vencer lá também porque o povo de Lauro de Freitas não aguenta mais o PT.
Em Salvador, quais as suas expectativas para as eleições legislativas?
Nossa meta é elegermos três vereadores em Salvador. A gente hoje tem confiança de que vai conseguir alcançar isso. Temos ótimos candidatos, novos nomes, pessoas que estão voltando à política. Temos aí jovens como Alisson Leite, de Castelo Branco, que teve 2,8 mil votos em 2020 pelo Podemos. Temos Jair Ferreira, da Capelinha do São Caetano, que estava no Avante e hoje é primeiro suplente. Temos aí Sandro Andrade, produtor de Léo Santana, nascido e criado na Mussurunga, que será candidato. Também chega forte para representar a Igreja Católica Patrícia Sales, que estava no Cidadania e teve, em 2020, 1,2 mil votos em 30 dias de campanha. Enfim, podemos ter muitas surpresas pelo PRD.
O partido também ficou com dois vereadores de mandato. Eles devem ser reeleitos?
Ficamos com José Antônio, que é remanescente do PTB, partido que se fundiu ao Patriota para formar o PRD, e trouxemos Fábio Souza, que era do Podemos. Os dois têm um belo trabalho nas comunidades. Eu faço a projeção de quem tiver 5,5 mil votos, sempre com variação para mais, está apto a disputar uma das três vagas. Por terem o mandato, os vereadores podem até ter uma certa vantagem, mas acho que ficou igual para muita gente no partido. Temos outros nomes competitivos, como Ricardo Paixão, de Paripe, que era presidente do PSD jovem e hoje é do PRD jovem. Ele era liderança deputado federal Antonio Brito (PSD) e do ex-vereador David Rios (MDB). Filiamos também no PRD Deivid Mendes, jovem liderança de Itacaranha que era do PSB e chega bem para a disputa.
O senhor citou aí várias lideranças e pré-candidatos que estavam em partidos da base de Jerônimo e que migraram para o PRD. Houve de fato, então, uma movimentação forte sua e de outros dirigentes partidários aliados de Bruno para enfraquecer, na capital, partidos como o Solidariedade, o Podemos, o Avante e o PSB, correto?
Veja, é óbvio que no período das filiações todo mundo procura todo mundo. Houve um movimento natural de busca, da nossa parte, no lado da oposição. E tivemos sucesso por dois fatores: a maioria dos candidatos que estavam do lado de lá e que trouxemos já queriam ficar com Bruno e, ao mesmo tempo, estavam insatisfeitas do lado de lá, com a forma como vinham sendo tratados antes, durante e após as eleições (de 2022). Fizemos conversas com eles sem promessas vazias, sem demagogia, e por isso conseguimos formar uma bela chapa que vai acompanhar Bruno nessa missão. Será o exercito do prefeito em outubro. Foi um saldo muito positivo. Se isso enfraqueceu os partidos da oposição, isso foi uma consequência desse trabalho. Veja que não foi só com o PRD que aconteceu. Outros partidos também receberam lideranças e pré-candidatos que desejavam estar conosco. E veja também o que aconteceu depois que alguns partidos mudaram de lado e deixaram a nossa base: eles perderam os vereadores, que preferiram seguir nos acompanhando, como aconteceu com o Podemos, o Solidariedade, o Avante.
Mas também não entrou em jogo aí a questão da expectativa de vitória, uma vez que Bruno Reis desponta como franco favorito e, do outro lado, temos a pré-candidatura do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que ainda não decolou?
Isso também existe, claro, mas não é só isso. Escutamos muito nas conversas com os aliados do lado de lá, tanto a maioria que quis vir para cá quanto os que ficaram, que há um reconhecimento nos bairros da cidade do trabalho de Bruno. As comunidades querem a reeleição do prefeito, e fica difícil trabalhar contra isso. Tem candidato a vereador da oposição que nos confidenciou que dava graças a Deus pelo fato de o partido dele não ter como candidato a prefeito o vice-governador, para não ter o nome associado a Geraldo Júnior.
Está falando de pré-candidatos a vereador do Psol, que tem como postulante ao Palácio Thomé de Souza Kleber Rosa?
Sim, foi do Psol. E também tem outro ponto: a gente sabe que a avaliação do governo do Estado é muito ruim no geral, mas sobretudo em Salvador. As pesquisas demonstram isso. Então, isso acaba se refletindo negativamente na imagem de quem faz campanha para o vice-governador ou quem será candidato a vereador do lado de lá.
Antes de o senhor assumir o comando do partido da Bahia, havia uma tratativa para que o vereador Isnard Araújo deixasse o PL e assumisse a presidência do PRD em Salvador. Por que isso não avançou?
Eu acabei acumulando as duas presidências, a estadual e a municipal de Salvador, para facilitar as negociações na capital para a formação da chapa proporcional. Isnard acabou permanecendo no PL porque percebeu que era melhor para ele e para o nosso grupo, diante dos cenários apresentados. Tudo se deu de forma natural.
E como estão as articulações para fortalecer o PRD no interior?
Vamos ter candidatos a prefeito em pelo menos dez municípios do Estado. Estamos chegando bem no interior, e o número 25 ajuda muito nisso, pois ainda tem força na Bahia. Mesmo com pouco tempo na presidência, consegui montar comissões provisórias em mais de 150 cidades baianas, ou seja, só cem a menos do que o União Brasil, que é uma legenda bem maior. Vamos seguir crescendo.
Ana Paula Matos já está confirmada como vice de Bruno Reis no pleito de 2024?
Não há definição ainda. Não há martelo batido. Bruno tem conversado com a gente e com outras lideranças políticas da cidade e do Estado para fechar essa questão e poder fazer o anúncio da chapa completa, confirmando, inclusive, a candidatura à reeleição. O PDT já fechou questão que a indicada do partido é Ana. Tenho visto também manifestações do PSDB de que só coloca um nome se a vice não for Ana. Então, parece que, naturalmente, já há algumas manifestações nesse sentido. Mas, como chefe de Gabinete de Bruno e de Ana, prefiro não especular sobre esse assunto.
O PRD pretende lançar candidatos a deputado estadual e federal em 2026? O senhor será candidato?
Temos essa missão de organizar o PRD e já trabalhar nas conversas sobre 2026, quando pretendemos eleger entre um a dois deputados federais e a mesma quantidade de estaduais, dentro do grupo político do ex-prefeito ACM Neto (União) e de Bruno Reis. Uma eventual candidatura minha está totalmente descartada. Prefiro seguir atuando nos bastidores.
Política Livre