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Eleitores em escola no bairro de Houghton, em Joanesburgo 31 de maio de 2024 | 21:22

Partido de Mandela amarga 1º revés em 30 anos na África do Sul

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O CNA (Congresso Nacional Africano), histórico partido de Nelson Mandela, é o mais votado nas eleições ocorridas na quarta-feira (29) na África do Sul, mas pela primeira vez terá de formar aliança com alguma outra sigla para se manter no poder, como ocorre desde o fim do apartheid, em 1994.

Até as 20h20 desta sexta-feira (31), no horário de Brasília, a apuração já havia contabilizado 93,7% dos votos. O CNA tinha 40,82%, o que elimina matematicamente a possibilidade que ultrapasse os 50% necessários para governar sem precisar de coalizões. No pleito anterior, em 2019, obteve 57,5%.

Na África do Sul, os eleitores votam no partido, e a agremiação que obtém mais da metade dos votos válidos fica com o controle do Parlamento e indica o presidente da República. Nos últimos 30 anos, o chefe do Executivo sempre foi do CNA.

Em segundo lugar na disputa aparece a AD (Aliança Democrática), partido de centro-direita, com 21,60%, patamar ligeiramente superior ao que indicavam as pesquisas. Em 2019, a AD conseguiu 20,77%.

Na sequência vêm duas siglas populistas de esquerda que surgiram a partir de dissidências do CNA: o MK, do ex-presidente Jacob Zuma (2009-2018), com 14%, e o Combatentes da Liberdade Econômica (CLE), com 9,4%

Com esse resultado, o CNA terá de escolher um caminho para continuar governando: uma aliança com a AD, o que daria uma feição moderada e pró-mercado ao governo, ou fazer o movimento oposto, coligando-se com um dos partidos populistas de esquerda, o que deve descredibilizar o país, visto que tanto o MK quanto o CLE defendem a estatização de boa parte dos serviços e do setor de mineração, importante para a economia.

Qualquer um desses cenários terá o efeito de um terremoto político, com repercussões em toda a África. Não é comum, afinal, um partido de libertação nacional, como é o CNA, ser rechaçado dessa forma pelos eleitores no continente.

O CNA lida com um histórico de acusações por corrupção e incompetência na gestão do país. A África do Sul tem níveis recordes de desemprego e criminalidade, além de sérios problemas de infraestrutura, com sucessivos apagões, por exemplo.

A depender do impacto da derrota, o próprio presidente do país, Cyril Ramaphosa, pode ser sacrificado, bastando para isso uma decisão do partido. Nesse caso, o mais cotado para assumir o comando da legenda, e do país, seria seu vice, Paul Mashatile.

Os resultados finais devem ser divulgados pela comissão eleitoral no próximo domingo (2).

A votação na quarta-feira (29) teve filas longas e diversos problemas de organização, o que fez o horário nas zonas eleitorais ser estendido para além do previsto, de 21h.

O comparecimento deve ficar em 58%, um pouco abaixo das projeções iniciais, de que poderia passar de 60%. Isso pode ser atribuído em parte ao fato de que muitos desistiram de ir às urnas em razão do caos nos centros de votação.

Fábio Zanini/Folhapress
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