30 maio 2025
A última sessão da Câmara Municipal de Salvador antes do recesso de meio de ano, que acontece na tarde desta quarta-feira (19), foi marcada por mais uma polêmica patrocinada pelo vereador Átila do Congo (PMB). Ele irritou e uniu as vereadoras da Casa, do governo e da oposição, ao afirmar, em discurso, que há “vitimismo” por parte das mulheres e que “pais de família” estão sendo “demonizados” e “encarcerados” sob a acusação de violência contra o sexo oposto.
A confusão começou quando a vereadora Laina Crisóstomo (Psol) utilizou a tribuna do plenário para criticar um dos projetos do Executivo de alteração em empréstimos já aprovados na Casa. Interrompida pelo vereador Paulo Magalhães Júnior (União), Laina parou o discurso chorando. “Eu não consigo terminar a fala porque é isso. Ser mulher na política é isso todos os dias”, disse a edil.
Logo depois, Átila do Congo, que é presidente estadual do PMB, o Partido da Mulher Brasileira, disse ao microfone que se sentia constrangido com a fala de Laina. “Às vezes o que parece é que nesse vitimismo os homens estão ficando para trás e sendo colocados como vilões. Quantos homens morrem por câncer de próstata e não tem urologista no SUS e a gente ver Hospital da Mulher, hospital disso e daquilo. O que vemos é o vitimismo tomar conta do Brasil e os valores deturpados”, declarou.
“Hoje, pode tudo a mulher e o homem não pode nada. Hoje, se dermos um pio, é agressão. Se falar alguma coisa, somos julgados e sentenciados sem direito a ampla defesa e o contraditório. E isso está se estendendo para esta Casa. O argumento de fachada é o machismo. Fazemos um alerta para os homens abrirem os olhos. Vejo muitas cobranças de direitos e os homens sendo demonizados. Enquanto isso, estão encarcerando pais de família inocentes por motivo torpe”, acrescentou Átila.
O vereador chegou a dizer, ainda, que defende direitos iguais entre as mulheres, inclusive para “construir esgoto e parede”. A reação não tardou. A vereadora Marcelle Moraes (União) foi a primeira a rebater o colega, a quem registrou “total repúdio”.
“Ele (Átila) fez uma fala extremamente machista e violenta. Quero saber onde mulher tem privilégio dentro de uma Casa onde é minoria, onde nos espaços de poder é minoritária. Ouvir que existem pais de família sendo julgados e sentenciados sem serem ouvidos, quando foram estuprados, agressores que violentaram diversas mulheres?”, rebateu Marcelle.
Átila, então, reafirmou as falas anteriores e ainda acusou Marcelle de querer aparecer para extrair dividendos eleitorais. “Há mulheres irresponsáveis, sim, que chegam nas delegacias fazendo acusações levianas”, argumentou, elevando o tom da voz.
A vereadora Débora Santana (PDT) pediu a palavra e relatou ter sido, durante dez anos, vítima de violência doméstica, passando “o pão que o diabo amassou na mão de um homem”. “Precisamos parar com essa questão de vitimíssimo. Somos mulheres, sim, guerreiras, e precisamos estar nos espaços e ser respeitadas. E cada mulher que procura uma delegacia é porque foi vítima de violência. É trabalho da polícia ouvir, investigar e agir”.
A vereadora Ireuda Silva foi ainda mais dura. “Eu quero uma resposta dele. Porque como homem o senhor se prestar a uma fala como essa? Quero que o senhor olhe para mim. O senhor tem aqui uma mulher diante do senhor que está aqui equilibrada porque Deus é Deus. Fui criado num ambiente onde meu pai colocava um 38 na cabeça de minha mãe e ela não ia falar nada justamente por causa de homens como o senhor, machistas, que desacreditam daquilo que passamos em nossos ambientes fechados. Quando o senhor falar sobre mulher, o senhor teria que menstruar para entender o que representamos”, disse.
Outras vereadoras também criticaram duramente Átila, a exemplo de Roberta Caíres (PDT), Marta Rodrigues (PT) e Cris Correia (PSDB) – a tucana cobrou a instalação de uma bancada feminina na Câmara. Entre os homens, alguns vereadores também se solidarizaram com as mulheres, a exemplo de Tiago Correia (PT), Sílvio Humberto (PSB) e Suíca (PT).
Presidente da Casa, Carlos Muniz (PSDB) ironizou Átila, visivelmente transtornado, aos berros no plenário, após o “levante” das vereadoras. “Eu achava que Vossa Excelência, por ser presidente (do PMB da Bahia), defendia a causa das mulheres”, disse o tucano, que, após as votações, passou a condução da mesa dos trabalhos para as vereadoras Ireuda, Marcelle, Laina, Marta e Cris. Na Câmara, a bancada feminina é formada por oito edis.
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