Foto: Ricardo Stuckert/PR
O presidente Lula (PT) em reunião com o diretor-geral da OIT, Gilbert Houngbo, no Palácio das Nações, em Genebra, Suíça 13 de junho de 2024 | 17:15

Lula provoca Musk e defende projeto de IA do Sul Global em discurso

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Diante de um público francamente amistoso, que em vários momentos puxou o coro de “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu em discurso no plenário da ONU a taxação dos super-ricos, atacou o bilionário Elon Musk e criticou a hegemonia dos países ricos no setor de inteligência artificial (IA).

O discurso de Lula em Genebra encerrou na tarde desta quinta-feira (13) o primeiro fórum da Coalizão Global pela Justiça Social, realizado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) como parte de sua conferência anual sobre o trabalho.

“A concentração [de renda] é tão absurda que alguns indivíduos possuem seus próprios programas espaciais. Não vamos buscar a saída em Marte”, disse Lula, alfinetando o projeto espacial do bilionário dono do X e usando a fortuna dele como exemplo para defender a taxação das grandes fortunas.

Lula aproveitou o discurso para reiterar pautas promovidas pelo Brasil na presidência rotativa do G20 —o grupo de maiores economias mundiais—, relacionadas à redução das desigualdades no planeta. O país ocupará o comando do G20 até o final de novembro.

“Temos uma arquitetura financeira disfuncional, que alimenta desigualdades. Os bancos de desenvolvimento investem muito pouco”, afirmou.

Ao falar de IA, Lula propôs que os países do Sul Global, expressão usada para se referir aos países em desenvolvimento, criem um projeto próprio para a tecnologia. Também acusou os países ricos de tentarem “manipular o restante da humanidade” ao criá-la. “É importante dizer para o povo que a inteligência artificial nada mais é que a esperteza de alguns empresários que acumulam todos os dados [das pessoas]”, afirmou.

Em dois momentos do discurso, Lula mencionou as “milhares de mulheres e crianças” vítimas da guerra na Faixa de Gaza. Elogiou o premiê espanhol, Pedro Sánchez, por regulamentar os aplicativos de transporte, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com quem assinou no ano passado um compromisso de defesa dos direitos trabalhistas. Ainda aproveitou o discurso para citar números da economia brasileira, segundo ele em recuperação, com criação de empregos e investimento estrangeiro na indústria automobilística.

O presidente brasileiro foi um dos dois únicos chefes de Estado presentes ao fórum da OIT. O outro foi o presidente do Nepal, Ram Chandra Paudel, que discursou pela manhã. Indicado para a “copresidência” do fórum, Lula era o convidado de honra do evento.

O petista teve tratamento de rockstar da chegada ao prédio da ONU até a saída. Funcionários se acotovelaram para conseguir uma selfie ou um abraço. A primeira-dama, Janja, que assistiu ao discurso de um dos assentos da delegação brasileira no plenário, também foi tietada.

Ao apresentar o brasileiro ao plenário, o presidente da conferência, Alexei Buzu, ministro do Trabalho da Moldova, agradeceu-lhe “por ter salvado a Amazônia para nós”.

O presidente da OMS (Organização Mundial da Saúde), o etíope Tedros Adhanom, também agradeceu a Lula, a quem chamou de “meu irmão”, por “fazer da saúde uma prioridade da presidência do G20”.

Em seu discurso, o diretor-geral da OIT, o togolês Gilbert Houngbo, mencionou as enchentes de maio no Rio Grande do Sul como exemplo de catástrofe relacionada às mudanças climáticas.

“Esse evento nos lembrou uma vez mais a urgência de acelerar a transição justa para economias sustentáveis, apoiando a economia verde”.

O fórum da Coalizão Global reuniu representantes de governos, trabalhadores e empresários para discutir soluções concretas para problemas que afetam trabalhadores de todo o planeta.

No início da noite, Lula participou de uma homenagem ao escritor Paulo Coelho, morador de Genebra, e seguiu para a região da Puglia, na Itália, onde participa como convidado da cúpula do G7, grupo que reúne sete das maiores economias do mundo mais a União Europeia.

André Fontenelle/Folhapress
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