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A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, e o candidato Edmundo González Urrutia 25 de julho de 2024 | 21:00

Caracas é tomada por caravanas de Maduro e González no último dia de campanha eleitoral

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Uma María Corina Machado frenética em cima de um caminhão e um Edmundo González em boa parte do tempo sentado tomaram algumas das ruas de Caracas nesta quinta-feira (25) enquanto do outro lado da cidade o ditador Nicolás Maduro tentava cativar sua base com alguns passos de dança.

No último dia de campanha política antes das eleições presidenciais do fim de semana e no mesmo dia do aniversário da capital venezuelana, a cidade foi inundada por caravanas dos dois polos políticos.

O ato da oposição começou com o som do jingle “todo el mundo con Edmundo”, mas foi logo substituído pelo barulho incessante das centenas de motos que aglutinavam seus apoiadores e gritos de apoio.

María Corina voltou a repetir seu pedido comum nestes dias: “Vamos contar ‘papelito por papelito'”. É um apelo para que os eleitores participem da auditoria dos votos realizada após o fim da votação no domingo.

A oposição demonstra desconfiança em relação ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e diz que só acredita nas atas das urnas divulgadas.

Com suas tradicionais cruzes no pescoço —María Corina é católica— a líder de fato da oposição acenava e mandava beijos aos transeuntes que paravam para acenar. A caminho da Plaza Bolívar, em uma zona de classe média e alta da capital, moradores e funcionários dos restaurantes e hotéis saíram às ruas para manifestar seu apoio.

Os apoiadores gritavam efusivos, mas não compreendiam muito do que os opositores falavam. O sistema de som teve problemas, e o som chegava aos poucos nos arredores do caminham que os levava.

“O povo não deve temer os governos, o povo deve temer o próprio povo”, dizia um dos cartazes contra a ditadura. “Sí, se puede”, gritavam os apoiadores.

Havia, claro, dissidência. Mas microscópica. Da janela de seus apartamentos alguns poucos moradores faziam sinais com as mãos pedindo que fossem embora e balançando cartazes com o rosto de Maduro.

Na Avenida Bolívar, no centro da capital, porém, as ruas foram tomadas por apoiadores do chavismo, com centenas de bandeiras da Venezuela e de partidos da aliança eleitoral da ditadura.

Maduro subiu ao palco por volta das 18h (19h de Brasília) em um ato que começou com clima de showmício: dançou ao lado de artistas que cantavam músicas políticas que relembravam Hugo Chávez, morto em 2013 —lembrança que o próprio ditador retomou logo no começo do discurso, mudando o tom do evento de animado para grave e solene.

“Tudo que fizemos, fizemos por você, Comandante Chávez”, disse Maduro. “Aqui está seu povo, que nunca vai falhar. O povo está na rua, e ninguém pode com ele!”, prosseguiu, dizendo que, sob seu comando, a Venezuela venceu “a pior agressão que sofreu em toda sua história”, se referindo às sanções dos Estados Unidos. “Uma agressão que tem objetivo de acabar com uma sociedade. E o povo gritou de sua alma: aqui ninguém vai se render!”

Maduro repetiu a ideia que já havia levantado em outros comícios de que pode haver violência caso não seja vitorioso. “Só um presidente chavista é capaz de garantir a paz. Só nós garantimos a paz e a estabilidade desse país chamado Venezuela. Só nós garantimos o crescimento econômico, superamos a crise de desabastecimento em frente à guerra econômica”.

“No domingo se decide o futuro da Venezuela pelos próximos 50 anos. Paz ou guerra? Bagunça ou tranquilidade? Extrema-direita ou chavismo? Fascismo ou democracia popular? Capitalismo selvagem ou socialismo cristão? Eu digo: para mim está claro”, frisou Maduro. “Ou haverá paz, ou se acabará a tranquilidade”.

Também fez ataques à oposição, chamando González de fantoche da extrema-direita. “Quem pediu as sanções criminosas contra a Venezuela? Quem pediu que a Venezuela fosse invadida pelo Exército gringo? Vocês querem que a violência e os dias sombrios retornem?”, perguntou o ditador. “Querem que chegue à Presidência da República um presidente da extrema-direita radical fascista? Querem que chegue uma marionete da extrema-direita radical?”

“Esse rapazinho, o Nico, conhecia essa cidade de ponta a ponta. Minha escola e minha universidade foram as ruas de Caracas, as fábricas de Caracas”, destacou o ditador, reforçando a ideia que sua campanha tenta vender para se aproximar dos jovens.

Além do debate político, uma outra preocupação pipocada entre alguns. “Até quando podemos comprar nossa cerveja e nosso rum para comemorar?”. A lei seca pelas eleições começa no país nesta sexta (26).

Mayara Paixão/Victor Lacombe/Folhapress
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