Foto: Cleia Viana/Arquivo/Câmara dos Deputados
Jutahy Magalhães 29 de julho de 2024 | 08:09

Entrevista – Jutahy Magalhães Júnior: “a possibilidade de Bruno Reis ganhar no primeiro turno é gigantesca”

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Liderança histórica do PSDB na Bahia, o ex-deputado federal Jutahy Magalhães Júnior acompanha a vida partidária com a devida distância de quem já decidiu não mais disputar eleições, mas nem por isso deixa de ser consultado acerca de decisões importantes da legenda e da vida política de aliados, para quem a experiência como deputado estadual, de oito mandatos como parlamentar na Câmara dos Deputados e ex-ministro, em Brasília, fornece conselhos valiosos.

Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, ele analisa o cenário político, às vésperas das eleições municipais, e não esconde a torcida pela reeleição do prefeito de Salvador Bruno Reis (União Brasil), que espera acontecer em primeiro turno, por méritos que, segundo ele, o gestor alcançou nos quatro anos iniciais do mandato.

“Em 2020, eu disse, conversando com Bruno: não tenha nenhum constrangimento de você ser eleito por ser o candidato de ACM Neto. Agora, em 2024, você será reeleito se for um bom prefeito. […] E ele fez isso”, observa.

Jutahy ainda avalia as condições que favorecem a permanência do PT no governo da Bahia por quase duas décadas, comenta sobre a liderança de ACM Neto como principal nome da oposição no Estado, critica a polarização radical que inviabiliza o diálogo e prende as pessoas cada uma em “sua própria bolha” e projeta que o PSDB pode fomentar o “centro democrático” como alternativa ao ciclo Lula-Bolsonaro.

Leia a entrevista completa:

Política Livre – Como está vendo esse cenário da eleição municipal em Salvador, e a possibilidade de reeleição do prefeito Bruno Reis até em primeiro turno, como apontam as pesquisas?

Jutahy Jr. – Olha, eu acho que a primeira coisa que faz alguém ser reeleito é o sentimento de que as coisas estão indo bem e que merecem continuar. A cidade de Salvador, que é a minha cidade, está convencida de que esses quatro anos de Bruno foram positivos e não tem por que mudar. Então, a palavra na cidade é: vamos continuar com o que está dando certo. Esse é o sentimento. E eu, pessoalmente, acho que a possibilidade de Bruno ganhar no primeiro turno é gigantesca.

Nesse segundo momento, avalia que Bruno Reis conseguiu, digamos assim, imprimir uma identidade própria a ponto de não depender do apadrinhamento político de ACM Neto?

A maior liderança da oposição na Bahia, no Estado inteiro, é ACM Neto. Essa é a principal liderança de oposição ao PT na Bahia. Isso é indiscutível. Em 2020, eu disse, conversando com Bruno: não tenha nenhum constrangimento de você ser eleito por ser o candidato de ACM Neto. Agora, em 2024, você será reeleito se for um bom prefeito, se a cidade encarar você como alguém que cumpriu bem o seu mandato e que avançou na qualidade da vida das pessoas. E ele fez isso. Então, o apoio político de ACM Neto é muito importante, mas o que faz um prefeito ser reeleito é o sucesso da sua administração.

Consegue estabelecer uma linha de comparação entre os dois estilos, de Neto e Bruno?

Eu acho que a administração de Bruno continuou o sucesso da administração do ACM Neto. Tanto que ACM Neto foi reeleito, Bruno foi muito bem eleito e tudo indica que será muito bem reeleito.

“Na eleição de prefeito e de presidente, o eleitor decide, na sua grande maioria, por conta própria em quem vai votar”

A oposição sempre recorre à estratégia de nacionalizar a eleição municipal, que não funcionou das outras vezes. O senhor vê alguma margem para a nacionalização funcionar desta vez?

Olha, na eleição de prefeito a influência nacional e estadual em qualquer município é baixíssima. A avaliação da eleição de prefeito que o eleitor faz é sobre como está a administração local. Essa que é a realidade. Eu acho que as duas eleições mais justas que existem são as eleições de prefeito e de presidente da República, porque nessas eleições a decisão do eleitor é fruto de uma avaliação pessoal sobre o candidato. A eleição de governador tem influência de presidente, a de senador tem influência de governador e presidente, a de deputado tem influência muito grande de prefeitos e lideranças municipais. Na eleição de prefeito e de presidente o eleitor decide, na sua grande maioria, por conta própria em quem vai votar. Então a estratégia de nacionalização funciona na eleição de governador, mas na de prefeito é muito baixa a influência.

“O que interessa para a cidade é ter uma gestão eficiente, qualificada, que gere esperança para a comunidade, confiança de que os pleitos serão atendidos”

Se o prefeito Bruno Reis for reeleito, esse grupo vai para um ciclo de 16 anos governando Salvador. Como vê essa continuidade? O que é que se desenha para o futuro a partir de um eventual segundo mandato de Bruno Reis?

Eu acho muito positivo para a cidade você ter alguém que administra bem. O que interessa para a cidade é ter uma gestão eficiente, qualificada, que gere esperança para a comunidade, confiança de que os pleitos serão atendidos. Eu acho isso muito importante na gestão e tendo uma visão democrática da sociedade. Uma visão democrática, uma visão de busca de superar as desigualdades, como é a cidade de Salvador, que priorize os que mais necessitam. É por isso que ele está muito bem.

“O PT fica furioso comigo quando eu digo isso. Não ganharam por causa da administração, da avaliação da administração. Se a eleição fosse descasada, o governador da Bahia seria o ACM Neto”

Em outra ponta, estamos caminhando para completar 20 anos ininterruptos de PT na Bahia. O governador Jerônimo Rodrigues é o terceiro dessa safra de governadores do PT. Que leitura o senhor faz dessa hegemonia petista?

O fato é o seguinte. Com todo respeito aos que se elegeram, principalmente na primeira legislatura, o [Jaques] Wagner em 2006, o Rui Costa em 2014 e Jerônimo em 2022, especificamente nesses anos que eu estou falando, 2006, 2014 e 2022, os três se elegeram na garupa do prestígio do Lula, nessas três eleições. A nacionalização da campanha e a força do Lula nestas três eleições foram o fator decisivo para eles ganharem. O que fez eles governadores foi isso. Eu tenho uma avaliação pessoal. Enquanto o PT tiver um candidato que tiver 70% dos votos na Bahia para presidente, a oposição não ganha na Bahia porque existe a vinculação. Quer dizer, em todas essas eleições que eu falei, o Lula e o candidato do PT tiveram mais de 70% dos votos. Se não tivesse isso eles não seriam eleitos. O que a oposição precisa é fazer com que o Lula e o PT não tenham 70% da Bahia. Na hora que isso ocorrer, ACM Neto ganha a eleição. A figura mais forte, pessoalmente, na Bahia é ACM Neto, só que ele sofre uma influência gigantesca da eleição nacional que faz o candidato estadual do PT colar no candidato a presidente, então vira o candidato de Lula. O PT fica furioso comigo quando eu digo isso. Não ganharam por causa da administração, da avaliação da administração. Se a eleição fosse descasada, o governador da Bahia seria o ACM Neto, como ele ganhou para prefeito. O Lula vindo aqui, com Dilma vindo aqui, tudo, e ele ganhou. Por quê? Porque a eleição era descasada.

O senhor que viveu o auge da polarização PSDB x PT. Como está vendo esse ambiente de polarização mais radical que a gente vive hoje?

O que é que está faltando no Brasil? É o centro democrático. Você tem uma fatia do Brasil que quer o governo do PT com a esquerda, com a extrema esquerda, e tem uma fatia do Brasil que quer a liderança do Bolsonaro. Agora, tem uma parcela do Brasil que não é nem esquerda nem da extrema esquerda, nem é da direita nem da extrema direita. É o centro. Esse é o papel do PSDB de construir um campo do centro democrático que tenha uma visão social-democrata mesmo. Que seja avançado em relação aos costumes, sem preconceito, que seja defensor de uma diversidade no Brasil, que lute contra a injustiça social e que tenha uma visão liberal da economia. O que é que nos distingue do PT, do petismo? É a visão econômica. O que é que nos distingue da direita e da extrema direita? A visão social e de costumes. O que está faltando hoje é esse campo do centro. O papel do PSDB é construir esse campo do centro.

O senhor vê caminho para reconstruir isso a tempo de 26?

Eu acho que o nosso papel é ter uma candidatura em 2026 que pelo menos comece. A gente tem que ter uma visão de uma campanha tipo a França. A França tem a [Marine] Le Pen na extrema direita, você tem a esquerda lá e você tem o [Emmanuel] Macron, que é o centro. O nosso papel é construir no Brasil três correntes de pensamento nítidas. É a da direita, do centro e da esquerda. Hoje você tem o centro sendo puxado para a esquerda e puxado para a direita e não tem o centro. Quer dizer, a polarização destrói o centro. Você acaba escolhendo o candidato não em função das suas convicções, mas pela rejeição ao outro lado. Um pedaço imenso escolhe que vota no Lula porque não gosta do Bolsonaro e vota no Bolsonaro porque não gosta do Lula. Quando, se tivesse o centro, o cara diria: eu vou votar no candidato do centro.

“Você tem duas coisas muito perigosas, esse ambiente de odiosidade e a incapacidade do outro ouvir o adversário. Você só conversa hoje com sua própria bolha”

Essa temperatura mais radical depõe contra o ambiente saudável da democracia?

Nunca fiz política na base da agressão pessoal, da ofensa pessoal, fiz sempre na base das convicções, das ideias, respeitosamente, defendendo o que acreditava. Isso é o que eu gostaria que a política fosse, que não tivesse esse ambiente de odiosidade. Você tem duas coisas muito perigosas, esse ambiente de odiosidade e a incapacidade do outro ouvir o adversário. Você só conversa hoje com sua própria bolha. Você só conversa com quem pensa igual a você. Se você só conversa com quem pensa igual a você, você não aprende nada e se radicaliza. Um processo político tem que ser diverso. O Parlamento é o local de você ouvir todas as correntes, ninguém ouve mais nada. O cara passa o dia inteiro com selfie, falando para ele próprio e para os iguais. E não tem capacidade de ouvir ninguém. Cada um cria sua narrativa baseado no seu interesse. E o que isso cria? Você cria um ambiente de radicalização que chega ao ódio. E que não há aprendizado.

Voltando aqui para Salvador, mais especificamente sobre o PSDB, o senhor acredita que o partido consegue fazer quantos vereadores?

Eu acho que, no mínimo, cinco, com possibilidade de fazer seis. Quem está coordenando isso é o presidente da Câmara, Carlos Muniz, que tem muito conhecimento da cidade. Tem uma chapa muito forte, uma chapa hoje que tem dez candidatos muito competitivos. Todo mundo está se esforçando para ter mais de sete mil votos e isso ajuda a fazer o sexto. Porque se o cara sentisse que se elegia com cinco, com seis, a gente não faria o sexto. Mas se todo mundo sabe que se não tiver sete mil pode não se eleger, está todo mundo trabalhando para ter. Você vai ter o Muniz que vai ser o mais votado, vai ter uma excelente votação. Ele é diferenciado dos outros do partido. Então, você vai ter ele eleitíssimo e os outros todos querendo passar de sete mil votos. Essa motivação de querer passar de sete mil votos pode conduzir o partido a fazer seis vereadores.

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