Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil/Arquivo
O presidente Lula (PT) com Celso Amorim, seu assessor especial para assuntos internacionais 23 de julho de 2024 | 21:45

Lula diz que enviará Celso Amorim como observador de eleição na Venezuela

mundo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (22) que Celso Amorim, seu assessor especial para assuntos internacionais, viajará à Venezuela para acompanhar as eleições presidenciais marcadas para domingo (28).

A lisura do processo eleitoral tem sido questionada por opositores e líderes internacionais e, nos últimos dias, o ditador Nicolás Maduro aumentou a tensão ao dizer em comício que sua eventual derrota poderia desencadear uma guerra civil no país.

O presidente brasileiro criticou a menção feita por Maduro a um “banho de sangue” caso a oposição vença a disputa. “Fiquei assustado com as declarações […]. Quem perde as eleições toma um banho de votos, não de sangue”, disse Lula. “Maduro tem de aprender: quando você ganha, você fica. Quando você perde, você vai embora e se prepara para disputar outra eleição”.

“Espero que seja isso que aconteça, pelo bem da Venezuela e pelo bem da América do Sul”, acrescentou o presidente em entrevista coletiva a agências de notícias internacionais.

O principal adversário de Maduro é o diplomata Edmundo González. O candidato opositor, que lidera as principais pesquisas de intenção de voto, entrou na corrida após María Corina Machado, a mais vocal crítica do regime, vencer as primárias da oposição em outubro, mas ser impedida por um tribunal de concorrer. A primeira alternativa para substituí-la, Corina Yoris, também não conseguiu inscrever sua candidatura.

González agradeceu a Lula em publicação na plataforma X. “Agradecemos as palavras do presidente em apoio a um processo eleitoral pacífico e amplamente respeitado na Venezuela. Valorizamos agradecidamente a presença do ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para observar o processo do próximo domingo. O mundo nos observa e acompanha”, disse o candidato.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela convidou organizações sociais brasileiras simpáticas ao chavismo para acompanhar as eleições. A entidade eleitoral, controlada por aliados de Maduro, ainda fez um convite ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para organizar uma missão de observação, porém limitada a dois técnicos —o tribunal num primeiro momento recusou, sob o argumento de que está focado no pleito municipal que ocorrerá em outubro no Brasil. Semanas depois, voltou atrás e decidiu enviar os dois técnicos para acompanhar o pleito.

Em 3 de junho, o TSE divulgou a veículos de imprensa que não acompanharia as eleições na Venezuela. No dia 21 do mesmo mês o jornal Folha de S.Paulo enviou novos questionamentos ao tribunal. A corte respondeu que “todas as atividades da Justiça Eleitoral estão focadas na realização segura, transparente e acessível” das eleições municipais brasileiras em outubro.

Na semana passada, o TSE comunicou o Itamaraty que enviaria os técnicos para a Venezuela.

O pleito na Venezuela representa o maior desafio ao chavismo nos 25 anos em que a corrente inaugurada pelo ex-líder Hugo Chávez (1954-2013) está no poder. Maduro, que busca um terceiro mandato de seis anos, aparece em desvantagem nas pesquisas de opinião, o que o levou a subir o tom de seus discursos nos últimos dias.

“O destino da Venezuela no século 21 depende da nossa vitória em 28 de julho. Se não querem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra civil fratricida, produto dos fascistas, vamos garantir o maior êxito, a maior vitória da história eleitoral do nosso povo”, afirmou o ditador num comício em Caracas, na última quarta (17).

Na semana anterior, ele já havia feito referência a uma guerra. “Em 28 de julho se decide entre guerra ou paz, guarimba [tipo de protesto com barricadas usado pela oposição] ou tranquilidade, projeto de pátria ou colônia, democracia ou fascismo”, afirmou ele em outro comício.

“Já falei com Maduro duas vezes […]. Ele sabe que a única forma de a Venezuela voltar à normalidade é que haja um processo eleitoral respeitado por todos”, disse Lula nesta segunda. Para que os migrantes voltem ao território venezuelano e haja crescimento econômico, continuou o petista, Maduro “tem de respeitar o processo democrático”.

Segundo a Acnur, a agência da ONU para refugiados, quase 8 milhões de pessoas —cerca de 20% da população— deixaram a Venezuela desde o início da crise econômica e humanitária que começou após a chegada de Maduro ao poder, em 2013, até setembro do ano passado.

Lula defendeu o regime por anos, mas recentemente seu governo subiu o tom contra Maduro ao criticar obstáculos impostos à oposição venezuelana. O brasileiro ainda pediu mais observação internacional depois que a ditadura retirou o convite à União Europeia para observar o pleito.

“Vou ver se a Câmara dos Deputados e o Senado também podem enviar pessoas para acompanhar a eleição”, afirmou Lula, que também voltou a pedir a retirada das sanções internacionais contra a Venezuela.

Folhapress
Comentários