14 setembro 2024
Perder, mas com um mínimo de dignidade. É sob este princípio que o marketing do candidato a prefeito do MDB, Geraldo Jr., passou a se mover na campanha à sucessão municipal. A orientação foi insinuada pela articulação política, que se encarregou de encomendar um vídeo em que o presidente Lula cita o nome de Geraldo e até de colocar o ministro Rui Costa (Casa Civil), também numa gravação, pedindo votos para o emedebista. Sem alternativa, o governador Jerônimo Rodrigues já participa de eventos com ele e o senador Jaques Wagner, considerado o ‘criador’ da candidatura, também marca presença em alguns atos, mas quando pode.
Portanto, é muita gente envolvida para se resignar com um ‘chabu’ esperado. Ainda mais políticos orgulhosos da própria imagem que não gostam de ser associados, desnecessariamente, a derrotas, como o presidente e todos os figurões petistas da Bahia listados. Por este motivo, a pressão para que o marketing dê seus pulos e melhore a condição do emedebista até o dia da eleição não tem sido pequena. De fato, a propaganda do candidato, tanto na TV quanto na internet, é de alto nível. O problema é o produto principal, cuja desenvoltura para colaborar com o que marqueteiros concebem é muito, mas muito pequena.
Os aliados do candidato do governo à Prefeitura já estão aos poucos se acostumando a trabalhar com dois dados. O primeiro diz respeito ao favoritismo insuperável do prefeito Bruno Reis (União Brasil), que aponta para sua vitória no primeiro turno, demonstrado mesmo nas pesquisas ditas ‘simpáticas’ ao emedebista, cujas margens parecem puxadas para melhorar seus índices e, assim, passarem a impressão de que sua candidatura é competitiva. O segundo é a impossibilidade de Geraldo alcançar os números históricos a que os candidatos do governo chegaram em Salvador nestes quase 20 anos, especialmente quando concorriam como representantes do PT e não de partidos aliados, como o MDB.
O assim chamado time de Geraldo ainda lida com outros problemas que, aos poucos, reconhecem como inerentes ao tipo de formação do candidato, entre os quais aparece como o mais duro de enfrentar a sua dificuldade de compreender comandos básicos como o de não confundir conteúdo com informação. Alertado para a necessidade de garantir um certo verniz intelectual aos seus discursos, de forma a amenizar a imagem de que, quando fala, não diz nada, já há algum tempo ele passou a inserir tantos dados em seus pronunciamentos que deixa as audiências zonzas com o excesso de informação, ainda por cima apresentada sem qualquer organização.
Ontem, por exemplo, num almoço no Boi Preto, organizado por setores do governo com o objetivo de enraizá-lo nos segmentos do PT e dos partidos aliados, o candidato falou pelos cotovelos por uma hora e meia, vomitando números e dados sem a menor conexão entre si, o que levou alguns dos presentes, inclusive aqueles mais próximos dele, a uma situação de desespero. Como se tratava de uma plateia formada basicamente por esquerdistas e petistas, para tentar agradá-la, atacou de todas as formas o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), a quem, como é público e notório, até há pouco costumava chamar de seu líder político.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na Tribuna de hoje.
Raul Monteiro*