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Deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) acompanha da penitenciária federal de Campo Grande (MS) a audiência virtual 21 de outubro de 2024 | 21:16

Ronnie Lessa está protegendo alguém em delação, afirma deputado Chiquinho Brazão

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O deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido), acusado de encomendar a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), afirmou nesta segunda-feira (21) que o ex-PM Ronnie Lessa, réu confesso pelo crime, busca proteger alguém com sua delação premiada.

Preso preventivamente desde março pela acusação, Chiquinho disse que nem sequer se lembra de ter estado junto com Lessa. Na sala virtual durante audiência na ação penal a que responde no STF (Supremo Tribunal Federal), ele negou envolvimento no assassinato, classificou o crime como uma “maldade” e disse que a vereadora era respeitosa, carinhosa e afável.

“Nada ali [delação de Lessa] é verdade. Jamais esperava acontecer o que está acontecendo e estar aqui. Porque eu não tenho nada a ver com isso. Então fiquei tranquilo da minha vida [quando surgiram as primeiras informações sobre a delação]”, disse Chiquinho.

Questionado pelo desembargador Airton Vieira, instrutor das audiências no STF, sobre qual motivo imagina ter sido acusado por Lessa, o deputado disse que o ex-PM busca proteger outra pessoa.

“Gostaria eu de ter uma resposta específica. Mas não faço ideia. A não ser pensando que, no caso, essa delação está protegendo alguém”, disse ele, em audiência virtual no STF.

O réu não mencionou quem estaria sendo protegido. As defesa, ao longo das audiências, vêm explorando as suspeitas da Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre o ex-vereador Cristiano Girão durante as investigações do caso.

Chiquinho é acusado de, junto com o irmão, Domingos Brazão (conselheiro do TCE-RJ), encomendar a morte da vereadora. O delegado Rivaldo Barbosa, à época chefe da Polícia Civil, é acusado de ter auxiliado no planejamento do crime, assim como outros dois policiais militares.

De acordo com a PGR (Procuradoria-Geral da República), o crime foi encomendado após um acúmulo de divergências políticas entre os irmãos Brazão e o PSOL. Marielle, segundo as investigações, atuou para dificultar a exploração de terrenos ilegais da família.

Os cinco foram acusados com base na delação do ex-PM Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora. Ele apontou os cinco réus como envolvidos no crime. Trechos centrais do relato do colaborador não contaram com provas de corroboração.

Chiquinho disse não se lembrar de ter tido qualquer contato com Lessa.

“Poderia não me lembrar dele. São muitas as pessoas que chegam próximo e pedem para tirar uma foto. No momento político as pessoas chegam e tiram uma foto. Mas tenho certeza que eu não tenho qualquer lida com ele”, afirmou o deputado.

O deputado confirmou ter tido contato com Edmilson de Oliveira, o Macalé, ex-PM assassinado em 2021 e apontado por Lessa como intermediário da contratação do assassinato. Chiquinho disse, porém, que a última vez que esteve com ele foi em 2008, durante a campanha eleitoral.

Lessa afirmou em sua delação que conheceu Chiquinho Brazão num ponto de encontro de criadores de pássaros no qual bebiam e jogavam sinuca no início dos anos 2000, na zona oeste do Rio de Janeiro. Macalé teria sido o ponto de contato dos dois.

O deputado disse que foi ao local quatro vezes, duas das quais encontrou Macalé. Ele afirmou, porém, não se recordar da presença de Lessa no local.

Chiquinho disse que mantinha boa relação com toda a bancada de esquerda da Câmara Municipal no Rio de Janeiro. “A Marielle me procurava sempre. A gente batia muito papo. Nossa relação era muito boa.”

O deputado afirmou ainda que a vereadora não tinha uma atuação destacada na regularização fundiária, um dos pontos de conflito apontados pela PF e a PGR.

O réu também negou conhecer Rivaldo Barbosa e o major PM Ronald Paulo, acusados de envolvimento no planejamento do crime. Disse também não saber quem é Laerte Silva de Lima, suposto infiltrado do grupo nas fileiras do PSOL.

O acusado reconheceu ter mantido contato com Marcus Vinícius Reis dos Santos, o Fininho, condenado pela acusação de integrar a milícia em Rio das Pedras. Chiquinho disse que o conheceu quando passou a atuar na favela, por volta de 2010, mas disse que ele se apresentou como PM, motorista de táxi e responsável por competições esportivas na região.

“A gente não procura saber o que tem ali. […] É tapar os ouvidos quando entra lá. Se for procurar saber [quem integra a milícia], você não consegue e acaba sendo absorvido por esse crime organizado”, disse ele.

“É um trabalho que tem que entrar enxergando sem enxergar, ouvir sem ouvir, falar sem falar. Porque é perigoso. Fazer um comentário errado no local errado. O que eu falava para o pessoal era o seguinte: ‘O que estou fazendo aqui é política. É trazer o que o estado e o município têm obrigação’. Sempre tive muito cuidado. Não poderia haver deslize. Não pode sair do fio. Trabalha no fio da navalha”.

Chiquinho afirmou que passou a atuar de forma mais constante em Rio das Pedras após a morte do ex-vereador Nadinho, assassinado em 2009. Ele disse que conseguiu atuar na área a partir de obras da gestão Eduardo Paes (PSD), à época em seu primeiro mandato.

“A conquista foi [com] as oportunidades que eu tive em relação ao prefeito Eduardo Paes. É um grande legislador, de uma inteligência muito afiada, um guerreiro. Um homem muito trabalhador. E eu, tentando me aproximar de Rio das Pedras, tive a oportunidade dele me permitir que conduzisse algumas obras para Rio das Pedras. Consegui levar Clínica da Família, compactadores de lixo, projetos para a criançada, recapeamento das ruas, troca da iluminação pública, muita coisa”, disse ele.

Italo Nogueira/Folhapress
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