Foto: Divulgação/Arquivo
Elon Musk 07 de novembro de 2024 | 08:29

Elon Musk, dono do X e da Tesla, sai como um dos grandes vencedores da eleição americana

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O bilionário dono da Tesla e do X, Elon Musk, saiu como um dos vitoriosos da corrida eleitoral americana, ao lado de seu candidato e agora presidente eleito, Donald Trump.

Após um investimento de mais de US$ 118 milhões (R$ 679,4 milhões) para o PAC pró-Trump, o empresário celebrou a vitória do republicano e viu, na manhã desta quarta-feira (6), as ações da sua empresa, Tesla, subirem cerca de 12%.

Além do ganho financeiro quase imediato, Musk deve ter papel importante no governo trumpista. Ainda não está claro qual exatamente será o cargo, mas ele deve assumir uma posição estratégica para agir nos cortes profundos que deseja fazer nos gastos públicos americanos.

De acordo com David Nemer, antropólogo e professor do departamento de Estudos da Mídia da Universidade de Virgínia, não é só no ganho financeiro e na promessa de um novo cargo que o dono do X se beneficia da vitória de Trump. Ele, que já era considerado a pessoa mais rica do mundo, com uma fortuna de US$ 260 bilhões (R$ 1,51 trilhão), mostrou ter poder de influência sobre parte dos eleitores.

“O Elon Musk sai como um grande vitorioso, mas ele também foi um dos cabos eleitorais mais vocais do Trump, que mais se expôs. Ele praticamente deu o X como um grande veículo de promoção do Trump.”

De acordo com Nemer, diversos estudos mostraram como, durante a corrida eleitoral, o algoritmo da plataforma impulsionava mais discursos do candidato republicano em oposição aos de Kamala.

Não só isso, ele se mostrou um poder agregador de forças conservadoras do Partido Republicano, tendo financiado secretamente um grupo de defensores da extrema direita, além de declarar apoio ao plano de Trump de deportar milhões de imigrantes em situação ilegal.

“Ele desperta um pouco essa questão do ‘self-made man’ [aquele que faz fortuna sozinho, em tradução livre], essa coisa de ser um empreendedor, do sonho americano, que é só trabalhar que você consegue chegar lá”, explica.

Para o antropólogo, também pesa o discurso em defesa do direito à liberdade de expressão e do porte de armas, respectivamente, a primeira e segunda emendas da Constituição americana. Inclusive, foi com base no porte de armas que Musk passou a sortear aleatoriamente pessoas para assinarem uma petição se comprometendo a apoiar “a liberdade de expressão e os direitos das armas” em troca de um milhão de dólares. A ação chegou a ser questionada na Justiça, mas o bilionário conseguiu uma deliberação a favor.

“A ação de pagar para as pessoas se registrarem também favorece o Trump. Por mais que essas ações possam não ser tão decisivas para formar o voto, ganham muito espaço na mídia, e ressoam com aquele cidadão americano que tem uma identidade com esse discurso”, diz.

Além de unir parte dos eleitores que se ressentem da situação econômica dos Estados Unidos e aquele eleitorado mais engajado com as pautas contrárias às causas progressistas e identitárias —o que foi, em grande parte, defendido na campanha de Kamala—, existe uma parcela importante da população que se reconhece nesse ideal batalhador, o que mostra também que parte da sociedade americana está cansada destas pautas, explica a economista Monica De Bolle, professora da Universidade Johns Hopkins.

“O Elon Musk entende tanto de política quanto ele entende de rede social. A história não é o Musk. Ele tem um peso, mas nada perto do que estão construindo em torno dele. Assim como o Trump deixou no passado pessoas que faziam parte do primeiro mandato, ele pode fazer o mesmo com o Musk. As ações hoje subiram e o mercado respondeu porque a incerteza a curto prazo que poderia vir de um cenário disruptivo não veio. E o que pesa é o bolso das pessoas”, avalia.

Um ponto importante do discurso de Musk, que é também dono das empresas SpaceX (de aviação aeroespacial), Starlink (de internet por satélite), Neuralink (de implantes cerebrais) e xAI (focada em inteligência artificial) é que as administrações democráticas gastam trilhões de dólares com “uma vasta burocracia federal”, mas as suas companhias se beneficiaram —e muito— nos últimos anos de contratos bilionários com o governo americano.

Para Nemer, Musk se arriscou sim na campanha, mas com uma narrativa já preparada no caso de derrota, ele deve agora colher ganhos significativos com o crescimento de suas empresas no país. “O Musk hoje vai ter acesso direto ao Trump, e os contratos bilionários que já tem com o governo americano só vão aumentar ainda mais”, afirma.

Ana Bottallo/Folhapress
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