14 dezembro 2024
O governo Lula (PT) lança uma ofensiva de comunicação para o fim de ano, tendo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na largada. Primeiro ato de uma campanha institucional, o pronunciamento no qual Haddad apresentou o ajuste fiscal recebeu, do Palácio do Planalto, tratamento de pronunciamento presidencial.
Coordenador da campanha de Lula à Presidência, o publicitário Sidônio Palmeira atuou não só na produção do pronunciamento como também na concepção do texto, sendo um dos idealizadores da mensagem —ao lado do próprio Haddad e sob a supervisão do titular da Secom (Secretaria de Comunicação), ministro Paulo Pimenta.
Após o pronunciamento, Sidônio acompanhou Haddad na reunião em que o ministro apresentou as medidas à bancada do PT, na sede do partido, em Brasília.
A direção de fotografia e de cena da filmagem ficou a cargo de Ricardo Stuckert, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual da Presidência. Fotógrafo oficial de Lula, Stuckert foi também responsável pela edição final do vídeo.
Segundo relatos de integrantes do governo, Sidônio foi um dos que insistiram para a adoção de um tom positivo, com a apresentação de medidas populares, como instituição de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais.
Definido o tom político, a matriz do discurso foi redigida pelo publicitário Otávio Antunes com a colaboração do secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan. A esse texto-base foram incorporadas contribuições ainda na terça-feira (26).
Antunes foi um dos responsáveis pela campanha de Haddad à Presidência em 2018, além de ter coordenado a de 2022. É de sua autoria o slogan que prega um Brasil justo. Embora planejado há cerca de seis meses, esse mote seria lançado apenas no ano que vem, com início sobre debate da taxação de renda no país. Mas acabou antecipado.
A escalação de Haddad para o pronunciamento, em vez do próprio presidente, alimentou na classe política a suspeita de que Lula avalia a possibilidade de não disputar a reeleição, preparando seu ministro da Fazenda para um eventual plano B. Já dirigentes petistas rechaçam essa hipótese, alegando que esse anúncio caberia mesmo ao ministro da Fazenda.
Os termos e expressões utilizados pelo ministro demonstram positividade. Um exemplo disso foi a apresentação das medidas como a criação de um Brasil mais forte e mais justo.
“Hoje, temos sinais claros de que estamos no caminho certo. O Brasil não apenas recuperou o tempo e o espaço perdidos, mas voltou a ocupar seu lugar de destaque no mundo, entre as dez maiores economias”, disse o ministro.
Segundo integrantes do governo, a estratégia de divulgação do pronunciamento na véspera do anúncio oficial do pacote foi concebida para que não prevalecesse a versão negativa do mercado —agentes financeiros criticaram a apresentação de medidas que alteram o Imposto de Renda em paralelo com o pacote do corte de gastos.
Mas, apesar de uma resistência inicial da equipe econômica para que um debate não contaminasse outro, Lula acabou convencido da importância de anunciar medidas que não afetassem apenas quem recebe o salário-mínimo ou benefícios sociais mas também “o andar de cima”.
Além de Sidônio e Pimenta, os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e do Trabalho, Luiz Marinho, estão entre os que defendiam, em reuniões, que o pronunciamento não se restringisse ao pacote de cortes, recomendando também um aceno para as bases.
Após reunião com dirigentes do partido, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), levou a Lula a necessidade de que os petistas tivessem um discurso para justificar o ajuste fiscal.
Após o anúncio oficial das medidas, Pimenta reuniu assessores do governo e do Congresso para detalhamento das medidas e definição de uma estratégia de comunicação.
Na segunda-feira, quando se decidiu pelo protagonismo de Haddad no pronunciamento, a Secom também encomendou uma campanha para divulgação do ajuste. A Presidência da República também levará ao ar outras duas campanhas publicitárias: uma sobre o programa Acredita, de concessão de linha de crédito para empreendedores, e uma sobre os esforços do governo para melhoria da qualidade de vida da população.
Encomendada há pouco mais de um mês, essa campanha final será compartilhada pelas quatro agências encarregadas da publicidade do governo, Nova/SB, Nacional, Calia e Propeg.
Catia Seabra/Folhapress