26 novembro 2024
A reforma administrativa pretendida pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT), sobre a qual se fala muito mas pouco se sabe, deveria chegar em boa hora para dar uma chacoalhada na gestão e em certa medida prepará-lo para a sucessão de 2026, quando ele pretende disputar a reeleição. Não deve, no entanto, ser operação fácil para o político diante do desafio que será reacomodar forças petistas em conflito, como o senador Jaques Wagner e o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, além de um grupo de prefeitos aliados que perderam a reeleição ou simplesmente estão encerrando seus mandatos a partir de 2025.
Ajustes no governo, com troca ou realocação de quadros, sobretudo após eleições ou em meados de mandato, são comuns e até esperados. Ainda mais quando o gestor começa a enfrentar os primeiros sinais de desgaste e passam a pipocar aqui e ali críticas à coordenação política e ao estilo de gestão, além de crescerem as cobranças sobre o desempenho da administração e a apresentação de resultados, como claramente parece ser o caso. Com a experiência acumulada nestes dois anos como governador, Jerônimo já deve ter percebido que alguma mudança é esperada pela sociedade e as forças políticas que o apoiam.
Em condições normais, ele deveria ficar atento ao movimento dos partidos cuja coalizão lidera, especialmente sobre a fisionomia com que saíram das eleições municipais, porque certamente terá consequência sobre a sucessão estadual da qual ele deve ser a principal figura, assim como à performance dos quadros que indicaram à administração, conduzindo a partir daí suas avaliações para a tomada de decisões, das quais não devem faltar certamente suas preferências pessoais e a linha de afinidade que deseja para a própria equipe. Mas isso não será suficiente no caso de Jerônimo.
Se já não se disfarçam as pequenas escaramuças entre os chamados times de Wagner e Rui no curso da atual gestão, exigindo do governador jogo de cintura para contornar os elementos que levam a confrontos e evitar conflitos que paralisem o governo, os dois líderes deverão se enfrentar claramente no processo de ocupação de espaços na reforma, o que pode colocar em xeque os planos mais pessoais do gestor para os próximos dois anos de governo. Hoje, é nítido o predomínio da influência de Wagner sobre a administração, em detrimento das forças ligadas ao ministro chefe da Casa Civil.
Não poderia ser diferente. Wagner correu na frente para assumir o controle do PT quando percebeu que, empoderado pela popularidade, o sucessor poderia sair do controle e, aproveitando-se da habilidade pessoal em contraposição a dificuldades de Rui na área, praticamente assumiu o controle político do governo, deixando ao ex-governador funções que estão longe de exercer a mesma influência sobre Jerônimo que possui hoje. Daí porque uma disputa entre os dois não está descartada, tem potencial explosivo e terá que ser administrada pelo governador em qualquer mudança que pretenda no secretariado.
*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*