11 dezembro 2024
Filho de pai espanhol e mãe amazonense, Cal Gonçalez Junior, 53, nasceu no Rio de Janeiro. Optou por montar seu próprio negócio, e, entre altos e baixos, obteve sucesso ao descobrir como transformar o vapor da transpiração das árvores da floresta amazônica em água potável.
Fundou então a Ô Amazon Air Water para se tornar uma joia entre as chamadas “águas finas”. Hoje ele vive em Barcelos (AM) e vende para França, Reino Unido, Estados Unidos, Emirados Árabes, Macau (China), entre outros locais. Ganhou os holofotes por ter sido escolhido pelo presidente Lula para presentear o líder chinês Xi Jinping.
O que é a Perrier, por exemplo, perto da sua água?
É mais ou menos como se você entrasse numa Balenciaga para comprar Nike ou como se quisesse ter um Audi em vez de uma Bugatti. Perrier, Evian, San Pellegrino são vanguarda no conceito de marca. Antigamente, qualquer água era água e pronto. Mas a Evian veio com uma proposta de inovação na sua garrafa, no seu branding. Depois surgiram outras. No nosso caso, há critérios. Se você for a um supermercado e pegar [águas como a dele] na prateleira, pode esquecer que ela sai da confraria.
Então suas garrafas estão mais para o mundo dos vinhos caríssimos do que para o das águas?
Somos um grande feudo do mundo dos vinhos. Se você vai gastar US$ 20 mil em um vinho, não vai tomar uma água [que vem] em uma garrafinha plástica qualquer. Nesse universo das águas finas, somos até a mais baratinha. Tem um produtor de Hollywood, nos EUA, que faz garrafas de US$ 2 mil cada em parceria com a Swarovski. A francesa Ô Muse, que é de 1715, não vende para quem nunca teve relação com a marca. Nem se aparecer alguém disposto a pagar US$ 1 milhão pela garrafa. Quem quiser, precisa entrar em uma fila de espera. Ela é conhecida como a água dos reis.
Por isso você quer ostentar a garrafa de água leiloada mais cara do mundo?
Houve uma garrafa leiloada por US$ 900 mil e agora queremos superá-la com nossa primeira edição de luxo da Vitória Régia. Ela tem 280 diamantes e ouro e será leiloada em Dubai por US$ 1 milhão. Normalmente, é vendida por € 206.
Suas águas são vendidas em euro no Brasil?
A gente não usa reais, tá? A moeda é euro.
No mundo das águas finas, quanto custam suas garrafas?
A da Onça Pintada, nossa primeira edição, custa € 107 e tem 750 ml. A Vitória Régia, de € 206, vem numa garrafa de âmbar, de 1,5l. A rolha é de vidro feito na República Tcheca. E ela tem um jeitinho de abrir também. E a água é produzida só em noite de lua cheia.
Oi?!
Porque tem a ver com a lenda de Naiá, uma guarani apaixonada pelo deus Jaci [da Lua], que transformava índias [virgens] em estrelas no céu. Naiá queria virar estrela e, na sua busca por Jaci, acabou se afogando. Com pena, ele a transformou então na flor da vitória-régia, que só abre em noites de lua cheia. Essa garrafa é a forma mais pura de dizer ‘eu te amo’.
Esse fetiche todo é vendido para quem?
Nossa empresa não vende. Ela desperta desejo e entrega. A gente não dá desconto, nem parcela. Se pedir desconto, eu nem falo mais com você. Dou a garrafa de presente, mas não vendo. Esses são critérios aprendidos com as grandes marcas.
Tem lojas?
Temos uma flagship [loja-modelo] em Paris e abrimos em Londres, com uma parceria. Temos uma sede em Nova York (EUA). Em 2025, vamos começar a promover [novas] flagships.
Já quiseram comprar sua empresa?
Tive propostas. Uma foi de US$ 600 milhões, mas recusei. A gente não ganha dinheiro somente vendendo a garrafa. Oferecemos uma experiência de luxo na Amazônia com nosso resort também. Estamos construindo um negócio para ser vendido. Em três anos, somente a divisão de águas deve valer R$ 2,5 bilhões. É como pegar um jogador de futebol com 12 anos e dizer: ‘esse menino vai ser um Vini Júnior’. Vale a pena investir nele? Pode ser um risco, mas pode ser um grande resultado.
Julio Wiziack/Folhapress