Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil/Arquivo
Empresários veem crescimento comprometido em 2025 após turbulência do corte de gastos 31 de dezembro de 2024 | 15:28

Empresários veem crescimento comprometido em 2025 após turbulência do corte de gastos

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Depois da turbulência desencadeada no cenário econômico pelo pacote enfraquecido do corte de gastos do governo Lula (PT), o empresariado ainda calcula quais serão as sequelas para 2025. Uma parte avalia que o ano já começa com o crescimento comprometido, enquanto alguns consideram cedo para cravar um diagnóstico. Mas a avaliação geral é de cautela e receio diante da perspectiva de juros altos e inflação.

Pelas estimativas de Fabio Barbosa, presidente da Natura &Co, as consequências vão aparecer gradualmente ao longo do ano.

“Na primeira metade de 2025, até por inércia, a atividade econômica deve manter o bom ritmo deste ano. A partir de algum momento, em meados do ano, acredito em uma desaceleração por causa da perda de poder aquisitivo, que pode vir seja pela inflação um pouco mais alta, seja pela taxa de juros, ou seja, pela redução do impulso fiscal. O PIB [Produto Interno Bruto] termina o ano num ritmo mais fraco do que começa”, afirma Barbosa.

Alexandre Ostrowiecki, presidente da Multilaser, prevê que a economia brasileira esteja rumando para a “estagflação” (combinação de estagnação com alta inflação).

“A disparada do dólar mostra que não há mais espaço para o modelo atual de empurrar a economia com a barriga via gastança pública. O buraco nas contas públicas deve fechar em recorde, maior ainda do que durante a catástrofe da pandemia. Isso pressiona a inflação, gera desconfiança com a capacidade do estado de honrar seus compromissos e aumenta a busca por dólares”, diz o empresário.

Para Ostrowiecki, a pressão do dólar, que estimula a inflação, vai formar um ciclo vicioso, que acabará afetando todas as operações produtivas no país.

“Juros altos podem adiar o processo até certo limite, porém, sem um profundo e real ajuste nas contas do estado, os juros serão só um remédio amargo e incapaz de curar o paciente de sua enfermidade”, diz ele.

Na análise de Maria Silvia Bastos Marques, que foi presidente do BNDES, da Goldman Sachs, da CSN, além de participar de conselhos de administração de outras companhias, é preciso considerar que o Brasil está em um momento de expectativas desfavoráveis, em uma espiral ascendente de inflação, juros e câmbio, decorrentes da percepção de baixo comprometimento do governo com a redução de despesas, portanto, com o aumento da dívida pública.

“Economia funciona com base em expectativas. Insegurança e volatilidade fazem com que pessoas e empresas tenham receio de consumir, investir, se endividar. Para haver crescimento sustentado é preciso ter investimentos e aumento da produtividade. O crescimento recente da economia brasileira se deu, em larga margem, pelo incentivo ao consumo. Com a economia em pleno emprego e juros altos, o crescimento não se sustenta. Sem crescimento, a dívida pública sobe ainda mais”, afirma.

Para interromper esse ciclo negativo, diz Bastos Marques, precisa acontecer um choque de confiança, o que, neste momento, seria um compromisso firme do governo federal em cortar um montante de despesas suficiente para assegurar uma trajetória descendente para a dívida pública nos próximos anos.

Mas o empresário Flavio Rocha, presidente do conselho da Guararapes, holding da Riachuelo, não vê disposição da gestão petista em controlar o gasto público.

“Nós já conhecemos, no governo Dilma, todo o custo da crença tresloucada de que o ‘gasto é vida’, como ela mesma dizia. Isso é a fórmula do voo de galinha”, afirma Rocha, que defende a política da motosserra nos gastos públicos e redução do estado promovida por Javier Milei na Argentina.

O empresário minimiza o enfraquecimento sofrido pelo pacote de corte de gastos do governo Lula no Congresso —o que reduziu a economia para os cofres públicos. “Mesmo que não fosse desidratado, não faria diferença”, diz Rocha.

O presidente do conselho da Raia Drogasil, Antonio Carlos Pipponzi, lamenta a escalada do dólar e dos juros, mas ressalva que é cedo para prever o pior.

“Sem dúvida, um remédio amargo para conter a inflação num momento em que o empresariado se frustra com um pacote fiscal muito tímido. Mas com muitas incertezas no campo geopolítico, acho muito cedo considerar um ano condenado”, afirma.

Edgard Corona, presidente da Smart Fit, também pondera. “Por natureza, eu sou otimista. A empresa tem planos de seguir investindo, mas pelo andar da carruagem, 2025 será um ano desafiador”, diz Corona.

Segundo Laércio Cosentino, presidente do conselho da Totvs, o Brasil precisa repensar a busca do equilíbrio fiscal de forma consistente, priorizando gastos e o essencial da agenda social. Entre as medidas, ele cita a necessidade de reformas estruturais e a comunicação com o mercado, de modo a “unir o país em torno de uma agenda positiva, duradoura e sem surpresas”.

Joana Cunha/Folhapress
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