26 dezembro 2024
Se é verdade que o governador Jerônimo Rodrigues (PT) permanece apostando na substituição do excelente jornalista André Curvello e, pior do que isso, em trocá-lo por um quadro ideológico na estratégica secretaria estadual de Comunicação, então muito provavelmente não está antenado com o noticiário e muito menos com um dos problemas cruciais que o presidente Lula enfrenta, detectado por ele próprio. Na semana passada, antes de se submeter a uma cirurgia de emergência, Lula participou de um encontro do PT em Brasília, no qual culpou abertamente a falta de comunicação do governo pelos baixos índices de aprovação à sua gestão.
“Há um erro no governo na questão da comunicação e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame que não está se comunicando bem”, admitiu o petista, que só agora, tardiamente, é bom que se ressalte, acorda para o erro de ter chamado um deputado petista, Paulo Pimenta, portanto, um quadro ideológico e ainda por cima sem expertise na área, para tocar o que pode ser considerado hoje, em plena era digital, de imenso caos provocado pelas redes sociais e profundas transformações no processo comunicacional em todos os níveis, um dos setores mais desafiadores de qualquer governo.
Não por acaso, Lula se queixou da falta de organização de entrevistas com jornalistas e de uma licitação para mídia digital, exatamente o setor que, dois anos após o início de seu terceiro mandato, incompreensivelmente permanece descoberto, trazendo prejuízos para a imagem do governo e, consequentemente, do presidente da República. Se pretende começar sua primeira reforma administrativa pela comunicação, seria prudente a Jerônimo avaliar, primeiro, que profissionais do gabarito de Curvello, com qualificação e experiência comprovadas para tocar com excelência a comunicação governamental, ainda mais no mercado baiano, são uma excepcionalidade.
Depois, atentar para o péssimo resultado que Lula está tendo em seu próprio governo devido a uma opção que não levou em conta o critério técnico de adequação do seu indicado à pasta que comanda. Mas se não quiser ir longe, Jerônimo pode rememorar a história recente de seu próprio grupo político, comparando as experiências de comunicação, no comando do governo baiano, de seus dois antecessores, o hoje senador Jaques Wagner e o atual ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa. Alguém tem dúvida de que, por causa do perfil cordial, da inteligência radiante e da extrema simpatia Wagner era um excelente produto?
E que Rui, por conta do temperamento oposto, era uma figura de dificílima digestão? A diferença entre o que representavam na época em que se elegeram e na imagem com que deixaram o governo marca o resultado das escolhas que fizeram para suas respectivas secretarias de comunicação. Enquanto Wagner, tal qual Lula, fez uma opção política ousada por um quadro ideológico do PT que o afastou dos jornalistas e deixou que concluísse o mandato apelidado de “Wagareza”, o que é uma imensa injustiça com seu importante legado, Rui investiu no atual secretário de Comunicação e deixou o governo sob sinônimo de eficiência, o “Correria”. São dados para Jerônimo avaliar.
Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Atualização: este artigo foi enviado para publicação ontem antes de o governador anunciar o nome do novo secretário de Comunicação, Luciano Suedde, ex-subsecretário de André Curvello e um profissional da área como ele. Com a escolha, Jerônimo evita erros do passado de seu grupo político e demonstra atenção aos critérios apontados pelo artigo para o preenchimento do cargo.
Raul Monteiro*