13 agosto 2025
O vídeo postado pela Marinha do Brasil nas redes sociais, neste domingo, 1.º, provocou muitas críticas no Palácio do Planalto. Nos bastidores, ministros classificaram como “desastre” e “tiro no pé” a gravação que mostra civis em momentos descontraídos, enquanto militares da Marinha aparecem em treinamento de guerra, justamente quando o governo apresenta o pacote do corte de gastos, incluindo as Forças Armadas.
Apesar do mal estar, porém, a ordem no Planalto foi para que o governo não esticasse a polêmica nem fizesse comentários públicos sobre o vídeo.
“Privilégios? Vem pra Marinha”, afirma uma jovem no fim da peça, que também mostra um fuzileiro naval muito parecido com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Vocês terão que se acostumar com uma vida de sacrifícios”, diz a voz em off de um capitão.
O vídeo foi produzido para o Dia do Marinheiro, comemorado em 13 de dezembro. “Ao chegarmos em dezembro, homenageamos os Marinheiros e fuzileiros, que abdicam de suas famílias e dos momentos de lazer para proteger as riquezas do Brasil no mar”, diz a mensagem da Marinha.
Na gravação, homens e mulheres aparecem em festas, dançando e também na praia, tomando sol ou até surfando. Ao mesmo tempo, marinheiros são expostos ao perigo e arriscam a vida, no mar e em alagamentos. Após a polêmica, que atiçou as redes sociais, a Marinha não se pronunciou.
No sábado, 30, à tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e os comandantes do Exército, Tomás Paiva; da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, e da Aeronáutica, Marcelo Damasceno, no Palácio da Alvorada.
A conversa ocorreu dias após o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 36 aliados – dos quais 25 militares – serem indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado, em 2022. As investigações mostraram que a trama foi montada para impedir a posse de Lula.
De acordo com o comando do Exército, no entanto, a reunião no Palácio da Alvorada com o presidente serviu para tratar de uma “regra de transição” para as aposentadorias dos militares, já que o pacote apresentado pela equipe econômica para encaixar as despesas no arcabouço fiscal e economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos também atinge Forças Armadas.
As medidas preveem idade mínima de 55 anos para que militares passem à reserva remunerada, extinção do pagamento de pensões a dependentes de integrantes das Forças que foram expulsos, contribuição equivalente a 3,5% dos salários de militares para o Fundo de Saúde e, ainda, fim da transferência de pensão para herdeiros.
O problema é que os militares querem rever a sua cota de sacrifícios nesse pacote, principalmente a questão da idade mínima para a aposentadoria – hoje em 35 anos –, sob o argumento de que suas funções são muito diferentes.
É aí que entra o vídeo da Marinha, divulgado neste domingo. Para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a gravação foi um “grave erro”.
“Ninguém duvida que o serviço militar exige esforço e sacrifícios pessoais, especialmente da tropa que se arrisca nos treinamentos e faz o serviço pesado”, afirmou Gleisi, em postagem nas redes sociais. “Isso não faz dos militares cidadãos mais merecedores de respeito do que a população civil, que trabalha duro, não vive na farra.”
A presidente do PT também definiu como “grave” o fato de o vídeo ser divulgado no momento em que o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha no governo Bolsonaro, entrou na lista dos militares indiciados por tentativa de golpe.
Em dezembro de 2022, na transição de governo, Garnier não quis receber Múcio, à época já indicado por Lula para a Defesa. No inquérito da PF, o então comandante da Marinha aparece colocando as tropas “à disposição” do golpe.
Vera Rosa/ Estadão