28 maio 2025
No final de 2020, investigadores monitoravam conversas de mafiosos do clã de San Luca, da ‘Ndrangheta, em um aplicativo criptografado quando uma sequência de mensagens vindas do outro lado do Atlântico chamou a atenção. “Eu tenho o Brasil e o Equador, compá”, escreveu o italiano Vincenzo Pasquino, demonstrando sua influência como representante da ‘Ndrangheta na América Latina. Na época, Pasquino percorria cidades do litoral brasileiro, como Guarujá (SP) e João Pessoa (PB), buscando alianças com o Primeiro Comando da Capital (PCC) para facilitar o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro. A reportagem é do jornal “O Globo”.
Em maio de 2021, ele foi preso pelas autoridades brasileiras e, no ano passado, extraditado para a Itália, onde firmou um acordo de delação premiada. Suas revelações subsidiaram investigações no Brasil, permitindo que a Polícia Federal e o Ministério Público mapeassem a presença das máfias italianas no país.
Além de usar o Brasil como uma rota estratégica para o tráfico de drogas, essas organizações criminosas são suspeitas de utilizar empresas fantasmas e o garimpo ilegal na Amazônia para lavar dinheiro. Elas contam, inclusive, com “concierges do crime” — brasileiros que atuam como facilitadores para os traficantes europeus.
Uma investigação do GLOBO, baseada na análise de mais de 3 mil páginas de relatórios de autoridades brasileiras e europeias, revelou que as máfias italianas movimentaram aproximadamente R$ 12 bilhões desde 2009. Nos últimos dez anos, pelo menos 25 italianos ligados a grupos como Cosa Nostra, ‘Ndrangheta e Camorra foram presos no Brasil.
Entre os suspeitos de atuar como concierge da máfia italiana está Anselmo Limeira de Oliveira, ex-assessor parlamentar da Câmara Municipal de João Pessoa e candidato a vereador em 2022, embora não tenha sido eleito. De acordo com a Polícia Federal, ele figura como sócio de uma construtora que fechou contratos com o governo da Paraíba e a prefeitura de Queimadas (PB) entre 2017 e 2019. No entanto, o inquérito aponta que a empresa não tinha funcionários nem sede física, sendo usada para lavar dinheiro do tráfico de drogas. Procuradas, as defesas de Oliveira e dos órgãos públicos não se manifestaram.