15 maio 2025
O advogado Marco Aurélio Carvalho, filiado ao PT e coordenador do Prerrogativas, figura entre os advogados da ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia. Ela chegou ao Brasil na última quarta-feira, 16, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem o criminalista é próximo, autorizar o seu asilo diplomático no País. Nadine e o marido, o ex-presidente Ollanto Humala, foram condenados a 15 anos prisão por lavagem de dinheiro, em um desdobramento da Operação Lava Jato no Peru.
O coordenador do Prerrogativas é um dos mais vocais críticos da Lava Jato no País. Integrantes do grupo, que acolhe “advogados progressistas”, atuaram em diversos casos que culminaram na anulação de decisões tomadas por juízes relatores de processos da Lava Jato no Brasil.
Mais recentemente, Carvalho chegou a ser cotado para assumir o Ministério da Justiça, após a saída de Flávio Dino, pela proximidade com Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. O alinhamento ao governo é tanto que fez o coordenador do Prerrogativas se colocar contra um integrante do grupo, o criminalista Kakay, que criticou a postura de Lula em seu terceiro mandato.
Carvalho passou a integrar a equipe de advogados do casal Humala-Heredia após realizar simpósios sobre “ativismo judicial” no Peru e em outros países da América Latina. Em uma dessas viagens ao país vizinho, o ex-presidente peruano pediu que ele integrasse a sua defesa. Os advogados de Nadine no Peru estenderam o convite para que ele também a representasse e fosse a interface do processo no Brasil.
Carvalho diz trabalhar “de forma espontânea, voluntária e gratuita no caso da Nadine por acreditar que há paralelismo entre a Lava Jato brasileira e a peruana”. Ainda segundo o advogado, esse seria um dos processos “humanitários” que ele assume eventualmente pro bono (sem remuneração) por se alinhar à causa em curso.
Segundo o advogado, Nadine está submetida a um processo “de natureza política”. “Ela está sofrendo uma perseguição. Ela foi orientada pelos advogados do Peru e tomou a decisão no momento em que foi feita a leitura da sentença”, afirmou.
A Corte Superior Nacional concluiu nesta terça-feira, 15, que Humala e Nadine receberam quase US$ 3 milhões em contribuições ilegais da Odebrecht e do governo do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para campanhas presidenciais. O juiz Nayko Coronado determinou a prisão imediata dos condenados, mas só Humala estava presente na leitura da sentença. Ele foi cercado por policiais e escoltado para fora do tribunal. A defesa de Nadine, por sua vez, disse que ela acompanhou o julgamento online e alegou problemas de saúde.
Fora do tribunal em que a sentença foi proferida, Nadine se deslocou para a Embaixada do Brasil na manhã de quarta-feira, 16, onde permaneceu até ter o pedido de asilo acatado pela diplomacia brasileira.
Apesar da proximidade com o governo brasileiro e da sua presença na equipe de defesa de Nadine, Carvalho negou envolvimento no processo que, no mesmo dia, conferiu asilo à ex-primeira-dama. A velocidade com que a negociação ocorreu gerou especulações de que os dois governos tivessem acertado a medida. Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) já estava em Lima na última quarta-feira para trazer Nadine a Brasília.
Para o criminalista, o que houve foi um “show da diplomacia brasileira” ao aceitar o asilo da política após a concessão de salvo conduto pela presidente do Peru, Dina Boluarte.
“Não tenho relação direta ou indireta com o pedido (de asilo). Não estava representando ela quando ela se apresentou na Embaixada. Foi uma solicitação dela que tramitou de acordo com as regras do tratado internacional”, afirmou. “A decisão do governo brasileiro deve ser reconhecida, louvada e aplaudida”.
Porém, Carvalho disse que, caso tivesse sido consultado, teria defendido que Nadine procurasse amparo na Embaixada do Brasil no Peru, como ocorreu. A ida à Embaixada foi o vetor para que ela recebesse o salvo conduto presidencial e, posteriormente, o asilo diplomático em território brasileiro. O advogado disse que só soube posteriormente da presença da cliente no local. A decisão teria sido tomada por Nadine em conversa com os advogados peruanos.
“Eu teria orientado ela a fazer exatamente isso, porque o Brasil já viveu esse ambiente perverso na Lava Jato, já reviu os excessos cometidos, e ela adotou um caminho que eu recomendaria como advogado dela”, afirmou.
Weslley Galzo/Estadão