14 maio 2025
A Páscoa deste domingo (20) deve ser 12% menos doce. Essa é a queda no volume de vendas de chocolates sazonais no Brasil este ano projetada pela Euromonitor International, em comparação com 2024, segundo dados obtidos com exclusividade pela Folha. De acordo com a consultoria, serão vendidas 7.320 toneladas este ano, em comparação com 8.320 no ano passado. É o primeiro recuo desde 2021, período mais agudo da pandemia.
A Páscoa representa até 70% da venda de chocolates sazonais, que neste caso são basicamente ovos, coelhos e todas as embalagens que façam alusão à data.
A disparada na cotação do cacau no mercado internacional no último ano levou a uma alta de 21,7% no preço de chocolates em barra e bombons no país no acumulado de 12 meses até março, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Diante deste cenário, a indústria decidiu reduzir em 22,5% a produção de ovos para a Páscoa 2025, com a fabricação de 45 milhões de unidades. Além de exigir maiores custos de embalagem e logística, com entrega em caminhões refrigerados, o ovo tradicional demanda mais chocolate –daí a aposta em mais opções recheadas com doces ou biscoitos neste ano.
Por outro lado, os fabricantes aumentaram o número de itens, de 611 para 803, segundo a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados). Entram em cena mais caixas de bombons, mini coelhos e até barras de chocolate como sugestão de presente.
A Hershey’s levou uma campanha à TV para falar das barras presenteáveis de Páscoa, item que também foi alvo de lançamento da Ferrero no Brasil neste ano. Do lado do varejo, grandes redes como Carrefour e Americanas parcelam a compra dos chocolates de Páscoa em até dez vezes.
De acordo com a Scanntech, plataforma que mede as vendas do varejo alimentar, o movimento de diversificar os formatos de chocolate para baratear o desembolso na Páscoa não é novo. No ano passado, os bombons representaram 52% do volume vendido de chocolate na semana de Páscoa, período em que os tabletes (18%) praticamente empataram com os ovos (18,5%).
Neste ano, quando faltavam duas semanas para a Páscoa, os bombons estavam representando 44% das vendas de chocolate, os tabletes 31%, enquanto os ovos somavam apenas 1,4% em volume.
“A cada ano, vemos os itens da linha regular de chocolates, em especial barras e bombons, ganharem mais espaço sobre a venda de ovos de Páscoa”, diz Marco Alcolezi, diretor executivo de operações hiper, super e proximidade do Carrefour. De acordo com o executivo, em volume, a rede deve crescer entre 1% e 3% nesta Páscoa, mas em valor a venda avança em dois dígitos, por causa dos reajustes de preços.
Cerca de 30% das compras de Páscoa são parceladas. No cartão da loja, o Carrefour divide em até dez vezes, com parcelas mínimas de R$ 20. Nos demais cartões, as compras podem ser parceladas em até três vezes. A varejista conta com ovos de marca própria (a partir de R$ 35 a unidade de 160g), que costumam ser as opções mais baratas do mix.
PRODUTO DE PREÇO MÉDIO PERDE LUGAR PARA O PREMIUM
“O consumidor migra não só de loja e de marca em busca do mais barato, como também de produto”, diz Alcolezi. Como exemplo, ele cita as demais categorias tradicionais desta época, como azeite, conservas, vinhos e pescados. “Se o cliente não pode pagar pelo bacalhau, vai para o salmão. Se não dá para comprar salmão, escolhe a tilápia. E se não dá para comprar tilápia, leva sardinha. É preciso ter o mix todo.”
Na rede Chama Supermercados, com lojas na zona leste da capital paulista e Grande São Paulo, a busca tem sido pautada por preço. “A marca mais vendida é a Lovare, com ovos a partir de R$ 6 na versão de 50 gramas”, diz Fabio Iwamoto, diretor da rede. Em volume, as vendas de ovos de Páscoa subiram pouco, cerca de 4% no acumulado de 30 dias até o último dia 14, em comparação a período equivalente de 2024.
Por outro lado, as vendas de peixes frescos e de bacalhau avançaram 20% neste intervalo. Segundo Iwamoto, esses produtos não tiveram tanta variação quanto o chocolate no último ano. “Além disso, o período em que cai a Semana Santa costuma impactar as vendas”, diz ele. “No ano passado, caiu no fim do mês, quando o consumidor está com menos dinheiro. Neste ano, foi mais favorável.”
Priscila Ariani, diretora de marketing da Scanntech, concorda. “O efeito calendário da Páscoa deste ano tende a amenizar em parte o impacto inflacionário”, diz. Ainda assim, o consumo vem “andando de lado”. “Não cresce porque a inflação vem sobre uma base que já estava alta”, diz ela. “O consumidor vai procurar o que for mais barato.”
Priscila chama a atenção, no entanto, para o efeito “high-low” (alto e baixo): a maior parte dos consumidores busca o preço mais em conta, mas existe uma fatia que decide migrar para o produto premium. “São clientes de marcas de médio preço que, diante da inflação, preferem pagar um pouco mais para levar um produto de maior qualidade.”
BRASIL É O QUINTO MAIOR MERCADO GLOBAL DE CHOCOLATES
Esta é a aposta da Ferrero no Brasil. Para Fernando Careli, diretor de relações institucionais da empresa para a América do Sul, o consumidor com orçamento limitado se dá menos chance de errar. “Ele vai escolher os produtos nos quais confia”, diz o executivo, que espera um aumento de dois dígitos nas vendas de Páscoa deste ano.
O país está entre os dez maiores mercados mundiais da fabricante italiana, dona da Nutella, que lidera a venda de doces na Europa. “Nossa receita de chocolate é a mesma no mundo todo, não adaptamos preço por causa de mudança de ingrediente”, afirma.
Diante da alta do cacau, a empresa decidiu ampliar o portfólio para produtos mais acessíveis: lançou tabletes de 90g, com preço sugerido de R$ 25. A título de comparação, um Kinder Ovo de 100g custa R$ 79. Outra novidade para orçamentos enxutos foi o Coelho Kinder, uma embalagem com três miniaturas (15g cada uma) por R$ 23.
O carro-chefe da companhia são as embalagens de bombons Ferrero Rocher, com 3, 4, 8, 12 e 24 unidades (de R$ 11 a R$ 86). “Nos últimos quatro anos, dobramos a produção tanto das linhas regulares quanto das de Páscoa”, diz Careli.
Daniele Madureira, Folhapress