Foto: Fox 24/Arquivo
Javier Milei 21 de abril de 2025 | 10:29

Com câmbio flutuante, segurar inflação é desafio de Milei na Argentina

economia

O presidente libertário da Argentina, Javier Milei, fez uma mudança estratégica de alto risco na semana passada, abandonando uma política cambial que sustentava sua batalha contra a inflação, mas que deixava os investidores nervosos.

Milei tem contado, em parte, com os rigorosos controles cambiais de longa data da Argentina para conter os aumentos crônicos de preços. O banco central fortaleceu drasticamente o peso em termos reais, mas esgotou suas escassas reservas de dólares para fazê-lo.

A maioria dos analistas esperava que Milei mantivesse essa estratégia até as cruciais eleições legislativas de outubro, porque a desaceleração da inflação é central para sua campanha. Durante meses, ele parecia ignorar a inquietação dos investidores sobre a política e planejava apenas pequenos ajustes.

Mas, na segunda-feira (14), Milei arrancou o curativo. Após garantir um empréstimo inesperadamente grande de US$ 20 bilhões (R$ 117 bilhões) do FMI para reabastecer o banco central, ele afrouxou significativamente os controles, permitindo uma flutuação parcial do peso e reduzindo as restrições para argentinos comprarem dólares.

O presidente argentino, Javier Milei, enquanto chega a uma feira agrícola, realizada em San Nicolas de los Arroyos, na província de Buenos AIres, em março deste ano – Stringer via AFP
Milei respondeu à surpresa sobre a decisão com sua típica exuberância. “Sempre prometi que se eu tivesse [muitos dólares] em mãos, suspenderia os controles”, disse em uma entrevista de rádio. “Como eu poderia não fazer isso se significa libertar os argentinos? O que um ano eleitoral tem a ver com isso?”

A decisão foi, pelo menos parcialmente, forçada pelos cofres quase vazios do banco central. Uma onda de vendas do peso nas últimas semanas forçou o banco a usar mais de suas reservas em dólares para defender a moeda, aumentando o risco de uma desvalorização oficial desestabilizadora.

Com o apoio do FMI, Milei conseguiu aliviar essa pressão. O peso caiu 6% na primeira semana de sua flutuação parcial, muito menos do que os economistas esperavam e ainda bem mais forte do que o novo limite superior do banco central de 1.400 por dólar.

No entanto, manter essa calma será crucial em um país onde até pequenas quedas na taxa de câmbio podem alimentar a inflação, porque as empresas estão acostumadas a aumentar os preços para proteger suas margens. A maioria dos economistas espera um pequeno aumento na taxa mensal de inflação no curto prazo, após um aumento significativo de 2,4% em fevereiro para 3,8% em março.

“Este é o grande desafio”, disse Cristián Buttié, diretor da empresa de pesquisas CB Consultora. “Se virmos mais inflação, o governo conseguirá manter a sensação de que as coisas estão melhorando? Ou começará a surgir um clima de dúvida?”

“Para governos que vivem ou morrem pela confiança das pessoas, este último pode ter consequências incontroláveis”, acrescentou.

Ciara Nugent/Folhapress
Comentários