29 maio 2025
A jornalista Míriam Leitão, 72, foi eleita nesta quarta-feira (30) para a cadeira número sete da Academia Brasileira de Letras. Ela passa a ocupar a vaga do cineasta Cacá Diegues, que morreu em fevereiro deste ano, aos 84 anos.
“Cacá Diegues é um gigante da cultura brasileira que conheceu e mostrou o Brasil profundamente em épocas de dificuldade. Fez um cinema de resistência às polarizações e radicalizações. E antes dele, Nelson Pereira dos Santos e Euclides da Cunha também estiveram na cadeira sete. Minha responsabilidade é grande”, diz Leitão à reportagem.
Leitão foi eleita com 20 dos 34 votos —os outros 14 foram para o economista Cristovam Buarque. Com isso, ela se torna a 12ª mulher a integrar a ABL desde sua fundação, há 128 anos. A primeira foi a escritora Rachel de Queiroz, que se tornou imortal em 1977.
“Quando Heloísa Teixeira foi eleita, ela lembrou que era a décima mulher a entrar na ABL. Eu quero seguir os passos como a décima segunda —o que é pouco para uma história de 128 anos”, afirma Leitão. “O tempo para a mulher chegar à sua conquista é longo, mas eu sei que a história está mudando”.
Jornalista há mais de 50 anos —hoje em veículos como o jornal O Globo e a TV Globo— Leitão também é autora de livros dos mais diversos gêneros literários. Entre suas 16 obras infantis, de não ficção, crônicas e romances, se destaca o “Saga Brasileira: a Longa Luta de um Povo por Sua Moeda”, que venceu o Jabuti em 2012.
Em seu primeiro romance, “Tempos Extremos”, de 2014, escreveu sobre a ditadura militar. Acusada de se opor ao regime, ela foi presa e torturada enquanto grávida, aos 19 anos.
Sobre a eleição, Leitão afirma que representa “a realização de alguém que amou os livros e sonhava em ser escritora”. Nascida em Caratinga, Minas Gerais, em 7 de abril de 1953, é a sexta entre os 12 filhos de Uriel e Mariana. Ela conta que foi introduzida à literatura ainda em casa, desde a infância.
Ela chega à ABL no que considera um “grande momento”. “Eu quero me somar a tudo o que a Academia está fazendo. Chegando bem devagarinho, como diz a música”.
Além de Leitão e Buarque, outros 16 candidatos concorreram na eleição. Entre eles, o escritor e colunista do jornal Folha de S.Paulo, Tom Farias. Ele também participou da mais recente eleição da ABL, quando Edgar Telles Ribeiro foi escolhido para ocupar a cadeira que pertenceu a Antonio Cicero.
Agora, a Academia prepara mais duas eleições, para as posições que pertenceram a Heloísa Teixeira e Marcos Vilaça. As votações acontecem nos dias 22 e 29 de maio, respectivamente, e já despontam favoritos.
Para a cadeira de Teixeira, já circula o nome do poeta e tradutor Paulo Henriques Britto, que concorre com nomes como Salgado Maranhão e Arlindo Miguel. Já a vaga deixada por Vilaça tem como favorito o advogado e especialista em Shakespeare, José Roberto de Castro Neves, que disputa com candidatos como Rodrigo Lacerda e Diego Mendes Sousa.
Leitão lamenta a morte de Heloísa e diz que queria ter convivido com a escritora. “Ela estava fazendo uma parte importante do trabalho de abrir a Academia e fará falta. Heloísa nunca será substituída”.
Isadora Laviola/Folhapress