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Isaac Albagli, ex-secretário de Planejamento e Infraestrutura da Prefeitura de Ilhéus 21 de abril de 2025 | 08:03

Porto Sul: as ameaças continuam, por Isaac Albagli*

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O economista Claudio Frischtak é uma referência nacional em temas ligados à infraestrutura e logística, com atuação destacada à frente da Inter.B Consultoria, sediada no Rio de Janeiro. Sua experiência é inegável, mas também é público que sua empresa presta serviços a diversos agentes do setor ferroviário, incluindo concessionárias. Essa posição, embora legítima, exige que suas opiniões sobre a malha ferroviária brasileira e os destinos logísticos das cargas sejam recebidas com a devida cautela.

Quando Frischtak defende, de forma reiterada, o desvio das cargas oriundas do interior da Bahia — especialmente do oeste e sudoeste — e do Centro-Oeste do Brasil para os portos da Baía de Todos os Santos, em detrimento do Porto Sul, em Ilhéus, sua análise ultrapassa os limites do debate técnico e entra no campo político e estratégico. Seu artigo publicado no Valor Econômico é recheado de dados técnicos, mas pobre na análise do ganho social para uma região relegada ao esquecimento em termos econômicos. Trata-se de uma proposta que favorece a concentração da infraestrutura logística na região metropolitana de Salvador, já amplamente beneficiada por décadas de investimentos, enquanto enfraquece o esforço histórico de diversificação econômica e equilíbrio territorial dentro da Bahia.

Sob a justificativa de ganhos de eficiência, essa mudança poderia representar, na prática, o esvaziamento do principal projeto estruturante do Sul do estado. O Porto Sul não é apenas um equipamento logístico: é a âncora de um modelo de desenvolvimento regional há muito esperado. Substituí-lo por rotas mais longas, mais sobrecarregadas e potencialmente mais custosas, implica um retrocesso estratégico e um enfraquecimento da interiorização do progresso baiano.

Além disso, a defesa dessa mudança por parte de consultores ligados a interesses do setor ferroviário pode refletir preferências de grupos econômicos que, naturalmente, buscam maximizar ganhos dentro da estrutura atual. Por isso, é essencial que o poder público, a sociedade civil e os representantes regionais analisem com profundidade os impactos dessa proposta e reafirmem o compromisso com um projeto de Bahia mais justa, integrada e descentralizada.

O Porto Sul não pode ser preterido em nome de conveniências logísticas momentâneas ou interesses setoriais. O desenvolvimento do Sul da Bahia está em jogo — e com ele, a construção de um novo equilíbrio econômico para todo o estado.

Em seu artigo, o economista adentra até em questões ambientais, mas apenas em relação à FIOL 1, cujo trecho ele condena. Esquece que esse tema está superado na medida em que as licenças ambientais tanto da FIOL como do Porto Sul foram amplamente debatidas e aprovadas com condicionantes rigorosas.

Muito estranho que um consultor renomado apresente proposta de esvaziamento de um projeto greenfield (nascido do zero) em benefício de outro cuja concessão pertence à gigante VLI, concessionária da Ferrovia Centro Atlantico (FCA), cujo traçado passa pelos portos da Região Metropolitana de Salvador. Profissional de consultoria, em princípio, não externa opinião sem vínculo com algum interesse econômico. Difícil acreditar o contrário.

(*) Isaac Albagli foi secretário de Planejamento e Infraestrutura da Prefeitura de Ilhéus-BA. 

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