Foto: Kiko Scartezini/PSDB
Aécio Neves e Marconi Perillo participam da reunião que autorizou início de discussão para fusão com Podemos 01 de maio de 2025 | 19:00

Casamento entre PSDB e Podemos prevê novo nome, revezamento de poder e candidato ao Planalto em 2026

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A executiva nacional do PSDB autorizou na terça-feira, 29, o início oficial das negociações para o “casamento” com o Podemos e agendou para 5 de junho a decisão final sobre a formação de um novo partido. As duas siglas já começaram a discutir os detalhes da junção, que é vista com otimismo por ambos os lados. Se sair do papel, a nova legenda deve ter rodízio de presidente, projeto nacional para 2026 e uma nova denominação.

O nome da nova legenda que poderá surgir da aliança ainda está em discussão, mas uma das possibilidades é adotar a combinação “PSDB+Podemos”, de modo a preservar a história e o reconhecimento das siglas junto ao eleitorado. Outras opções, no entanto, também estão sendo avaliadas, como os nomes “Juntos”, “Moderados”, “Independente” e “Centro Democrático” (que levaria o apelido “CD”).

“Defendo que façamos uma consulta ampla aos filiados dos dois partidos, acompanhada de uma pesquisa científica para identificar tendências”, diz Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB e ex-governador de Goiás.

Outra discussão diz respeito ao número e ao logotipo que serão adotados pelo novo partido. A possibilidade considerada mais provável é manter o número 20, atualmente usado pelo Podemos, e adotar o tucano — símbolo histórico do PSDB — como logomarca. Mas assim como o nome da nova sigla, esses elementos também devem ser objeto de consulta aos filiados.

Quanto ao comando, o mais provável é que o primeiro mandato na presidência fique com a deputada federal Renata Abreu (SP), atual presidente nacional do Podemos. A proposta é que, nos três primeiros anos, haja um rodízio: cada partido assumiria a presidência por seis meses, em sistema de revezamento. Após esse período, a escolha do presidente passaria a seguir o rito convencional, de votação em convenção partidária.

Segundo Paulo Serra, presidente do PSDB paulista, a ideia é que as Executivas sejam compostas por 50% de membros oriundos de cada partido e que os quóruns para as tomadas de decisão sejam de dois terços ou três quartos. “O objetivo é ter uma relação equilibrada e que sempre um precise do outro, no bom sentido”, declarou.

Modelo jurídico será de incorporação, e não fusão

O comunicado divulgado pelo PSDB utiliza o termo fusão, que nada mais é do que a extinção de dois ou mais partidos para formar uma nova legenda, com outro nome e número. Na fusão, os órgãos nacionais de deliberação dos dois partidos precisam votar, em reunião conjunta e por maioria absoluta, os projetos comuns de estatuto e programa, além de eleger o órgão de direção nacional que ficará responsável por promover o registro do novo partido. Como há uma mudança substancial no programa partidário, os deputados de ambos os partidos podem migrar para a nova legenda sem perder o mandato.

Apesar do discurso de fusão, na prática o processo será uma incorporação, com o Podemos sendo absorvido pelo PSDB. Ao contrário da fusão, a incorporação não exige alteração de nome ou número, mas ambos os partidos já sinalizaram a intenção de realizar essas mudanças. Além disso, somente os parlamentares do partido incorporado têm direito a alegar justa causa para desfiliação.

“O processo é de fusão, mas em relação à parte jurídica, está sendo avaliado caso uma incorporação seja mais prática. Existe essa possibilidade, mas não há definição de quem incorpora quem”, diz Rodrigo Gambale (PODE-SP), líder do Podemos na Câmara dos Deputados.

Integrantes das cúpulas dos dois partidos, no entanto, admitem que o Podemos deve ser incorporado ao PSDB. Isso ocorre porque o PSDB integra uma federação com o Cidadania até maio de 2026, o que torna mais simples absorver o Podemos. Caso contrário, a operação precisaria da aprovação do Cidadania. Há uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) questionando se a federação pode ser encerrada antes dessa data, o que contornaria esse obstáculo.

PSDB+Podemos, Juntos, Moderados, Independente ou Centro Democrático — seja qual for o nome escolhido — nasce sob a perspectiva de se colocar como alternativa às candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) em 2026. A ideia é lançar uma candidatura própria à Presidência, provavelmente encabeçada pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, hoje filiado ao PSDB.

“Nosso foco é que o Eduardo seja o nosso candidato. Se ele não disputar, aí vamos avaliar se lançamos outro nome. O que queremos é estar no centro das discussões do País”, diz Marconi Perillo.

Renata Abreu, inclusive, fez esse apelo durante uma participação rápida na reunião da executiva tucana desta terça-feira. Ela defendeu que a futura legenda não abra mão de lançar um nome ao Planalto e citou nominalmente Eduardo Leite como possível candidato. A mesma posição é defendida por tucanos como o deputado federal Aécio Neves (MG).

“Ela fez uma participação ao final”, disse o ex-senador José Aníbal (PSDB). “Que tenhamos candidato, todos defendem. Mas alguns colocaram o desejo, que eu acho que é compartilhado por todos, de ter o Eduardo como esse nome”, acrescentou ele.

No PSDB, há consenso de que a ausência de um candidato próprio em 2022 contribuiu para o encolhimento do partido. Naquele ano, a sigla apoiou o nome da então senadora Simone Tebet, do MDB, que hoje ocupa o ministério do Planejamento no governo Lula.

Apesar do otimismo em relação a uma candidatura própria em 2026, há dúvidas sobre a permanência de Leite no novo partido. Apesar de ter votado a favor da discussão sobre a fusão nesta terça-feira, o tucano já admitiu que poderia trocar de partido. Em fevereiro, o gaúcho já havia afirmado ao Estadão: “Quero ajudar o PSDB a construir o seu caminho antes de tomar a minha decisão individualmente. Estou filiado há 24 anos no partido”.

Agora, questionado pela reportagem, Leite não garantiu a permanência no novo partido. “Ainda é um período de avaliação. Minha decisão envolve um grupo político ao qual pertenço e lidero regionalmente, além das perspectivas nacionais”.

Eduardo Leite flertou no passado com uma filiação ao PSD, partido liderado por Gilberto Kassab, assim como o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, cujo destino também permanece incerto. Riedel tem afirmado a aliados que aguardará uma possível nova definição antes de tomar qualquer decisão. Ao contrário de Leite, ele não participou da reunião da Executiva.

Bianca Gomes/Pedro Augusto Figueiredo/Estadão
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