19 maio 2025
Com articulação da “bancada da bola”, a Comissão de Esporte da Câmara dos Deputados retirou de pauta um requerimento que previa uma audiência pública que convidaria o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues. O pedido foi feito pelo União Brasil, pelo PSB e pelo Podemos e teve a participação de um dos principais aliados de Ednaldo no Congresso, deputado José Rocha (União).
O requerimento tinha sido apresentado pelo deputado Sargento Gonçalves (PL-RN). O parlamentar queria discutir o acordo que manteve Ednaldo na CBF passa por um questionamento. Uma perícia indica que uma das assinaturas é falsa.
A análise é sobre a assinatura de Antônio Carlos Nunes de Lima, o coronel Nunes, ex-vice-presidente da CBF e que foi presidente interino da entidade em duas ocasiões.
Além de Ednaldo, o requerimento quer ouvir o ex-vice-presidente da CBF coronel Nunes; Maria Venina Rosa de Lima, mulher do coronel; Ricardo Nonato Macedo de Lima, presidente da Federação Baiana de Futebol e vice-presidente eleito da CBF; João Paulo di Carlo Conde Perez e Matheus Senna Silveira do Santos, testemunhas do acordo judicial que garantiu a permanência e Jorge Roberto Pagura, atual chefe da comissão médica da CBF.
A alegação feita por União Brasil, PSB e Podemos, segundo a presidente do colegiado, Laura Carneiro (PSD-RJ) é que parlamentares queriam ampliar o foco da discussão.
Deputados da oposição protestaram contra o “lobby” da CBF na Câmara. “Qual outro motivo, senão um lobby por parte da entidade de frear essa audiência pública?”, questionou Gonçalves. “O lobby que a CBF faz nessa Casa é impressionante. É triste”, afirmou Luiz Lima (Novo-RJ). “A pressão que a CBF tem nessa Câmara e até no STF é vergonhosa.”
O deputado Douglas Viegas (União-SP), disse que apresentou o requerimento de retirada de pauta a pedido do deputado federal José Rocha (União), que está em missão oficial. Rocha é o principal aliado de Ednaldo no Congresso Nacional.
Rocha é ex-presidente do Esporte Clube Vitória, um dos principais clubes da Bahia, e já disse em vários momentos na Câmara que é amigo de Ednaldo. “Em momento algum, vou deixar de afirmar que sou amigo pessoal do senhor Ednaldo Rodrigues. Isso é para ficar bem claro, bem claro”, disse Rocha, em sessão da CPI da Manipulação de Resultados em Partidas de Futebol, em 2023.
Rocha, segundo a revista Piauí, ganhou da CBF um regalo na Copa do Catar: hospedagem, passagem aérea e ingressos de graça para três jogos com direito a levar sua mulher. Os gastos com o agrado ao deputado baiano teriam sido de R$ 364 mil.
Uma bancada de pelo menos 22 deputados e senadores no Congresso participam da “bancada da bola”, uma base de apoio a Ednaldo na CBF. Parte da estratégia, inclusive, envolve uma casa de lobby da CBF em Brasília.
No Senado, Ednaldo não teve a mesma sorte. A Comissão de Esporte dessa Casa legislativa aprovou, também nesta quarta-feira, 7, um requerimento de convite a Ednaldo Rodrigues a prestar esclarecimentos à comissão.
O requerimento, de autoria do senador Eduardo Girão (Novo-CE), diz que decisão do STF que manteve Ednaldo no cargo teve Gilmar como relator, e aponta possível conflito de interesses, já que o magistrado é fundador do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), o qual tem parceria comercial para as formações da CBF Academy.
Essa proposta já tinha sido barrada de votar no Senado na semana anterior, por uma articulação nos bastidores. Dessa vez, a matéria foi aprovada sem demais dificuldades, em votação simbólica.
Ednaldo Rodrigues foi reeleito presidente da CBF neste ano em votação por aclamação e vai comandar a entidade até 2030.
Estadão