Foto: Raphael Ribeiro/BC/Arquivo
Reunião do Copom 13 de maio de 2025 | 09:22

Copom calcula efeito inicial do consignado CLT e alerta para estímulo da política fiscal, mostra ata

economia

O Copom (Comitê de Política Monetária) calculou o efeito inicial do novo consignado privado em suas projeções e alertou para o estímulo significativo da política fiscal sobre a economia nos últimos anos, mostrou ata divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira (13).

No documento, o colegiado afirmou que uma política fiscal que contribua para a redução do prêmio de risco (rentabilidade adicional cobrada pelos investidores no Brasil) e atue de forma contracíclica –ou seja, que ajude a estabilizar a economia no atual período de expansão– colabora para o trabalho do BC de levar a inflação à meta.

O comitê disse ter incorporado em seu cenário de referência “algum impacto” das alterações do consignado privado sobre o crescimento, em especial pela elevação da renda disponível para a população a partir da troca de dívidas (mais caras por mais baratas). Segundo o Copom, isso tem um efeito mais comedido sobre a projeção.

“Ainda há muita incerteza sobre qual será o efeito total do programa, que ainda se encontra em período inicial, então o comitê acompanhará os dados atentamente para refinar os impactos estimados sobre o mercado de crédito e sobre a atividade”, afirmou.

O colegiado do BC disse também que essa medida representa “possivelmente” uma alteração estrutural no mercado. “Tais medidas serão devidamente incorporadas para a determinação apropriada da restrição monetária necessária para a convergência da inflação à meta”, acrescentou.

O alvo perseguido pelo BC é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta de inflação é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Na quarta (7), o Copom elevou, em decisão unânime, a Selic em 0,5 ponto percentual, de 14,25% para 14,75% ao ano –maior nível registrado em quase duas décadas. No último encontro, desacelerou o ritmo de alta após três movimentos de um ponto percentual.

Ao todo, o colegiado do BC já realizou seis aumentos consecutivos da Selic, que acumula elevação de 4,25 pontos percentuais desde o início do ciclo, em setembro de 2024, quando estava em 10,50% ao ano. A taxa básica está agora no mesmo nível observado entre julho e agosto de 2006.

Na ata, o comitê mostrou mais confiança sobre o processo de desaceleração da atividade econômica. Segundo ele, os juros elevados já têm contribuído e seguirão colaborando para a moderação de crescimento da economia.

Foram observados impactos no mercado de crédito, nas sondagens empresariais, no mercado de câmbio, nos balanços das empresas, além de moderação em alguns indicadores de atividade e de mercado de trabalho. “Tais impactos são esperados e requeridos para a convergência da inflação à meta”, destacou.

O Copom manteve em aberto seus próximos passos, o que tem levado o mercado financeiro a ver possibilidade de término do ciclo de alta de juros em junho, e repetiu mensagem do comunicado.

“O cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, afirmou.

O comitê também reforçou que o cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na política de juros no Brasil.

Segundo o colegiado, há um impacto bastante incerto com relação ao choque das tarifas impostas pelos Estados Unidos. A incerteza do ambiente externo envolve o próprio tarifaço do governo de Donald Trump, a resposta dos outros países à política tarifária norte-americana, a resposta das empresas, com possíveis impactos sobre as cadeias globais de produção, e a resposta os consumidores às mudanças de preços.

“O cenário então se apresenta com incerteza muito maior, o que já tem provocado mudanças nas decisões de investimento e consumo”, disse. “Ainda é cedo para concluir qual será a magnitude do impacto sobre a economia doméstica, que, por um lado, parece menos afetada pelas recentes tarifas do que outros países, mas, por outro lado, é impactada por um cenário global adverso.”

Nathalia Garcia/Folhapress
Comentários