19 junho 2025
Às vésperas da eleição interna do PT na Bahia, marcada para julho deste ano, o vice-presidente nacional do partido, Everaldo Anunciação, reforçou a importância de preservar os princípios da democracia interna e do fortalecimento da relação com as bases. A declaração foi feita durante encontro com lideranças petistas e membros da imprensa, nesta quinta-feira (22), em Salvador.
Questionado por este Política Livre se as suas críticas à condução do Processo de Eleição Direta (PED) do Partido dos Trabalhadores foi voltada ao senador Jaques Wagner, Everaldo destacou que as divergências internas fazem parte da própria essência do PT desde sua fundação, quando foi criado o conceito de “direito de tendência”, que permite que grupos organizados dentro do partido apresentem propostas e caminhos diferentes.
“As diferenças internas no PT existem desde sua fundação. Por isso, o PT oficializou o direito de tendência, que é a possibilidade dos grupos se organizarem. Nós queremos chegar todos no mesmo lugar, mas há grupos que pensam de forma diferente. Esse é um debate saudável que a gente faz”, afirmou.
O dirigente também chamou atenção para os riscos de o partido absorver práticas comuns em legendas tradicionais, onde o peso de autoridades políticas — como governadores, senadores e deputados — costuma determinar as decisões internas.
“O PT foi formado diferente dos partidos tradicionais. Quem usa a força do espaço político, da autoridade política, são os partidos de centro e de direita. É o governador que escolhe sua direção, ou um deputado, ou um senador. No PT, não. A gente faz eleição direta, onde cada filiado tem o mesmo peso que Lula. Somos muito cuidadosos com esse exercício”, explicou.
Everaldo reconhece que o partido está passando por um processo natural de transição, após décadas no cenário institucional, mas alerta que os métodos precisam ser ajustados sem abrir mão dos princípios que diferenciam o PT no campo político brasileiro. “O PT não pode perder seu princípio. E um deles é a democracia interna, onde ninguém manda no PT. Lula é a maior liderança do partido, mas ele consulta, constrói. Indicação direta e pessoal não é uma boa cultura para o PT. É isso que nós estamos combatendo”, enfatizou.
O vice-presidente nacional também frisou que as divergências atuais, especialmente no processo de definição da direção estadual na Bahia, não rompem as relações pessoais nem os projetos políticos maiores do partido, tanto no estado quanto no país. “A relação pessoal com Wagner, com Rui, com Jerônimo é extraordinária. Eles têm o mesmo objetivo que todos nós no PT. Vamos estar juntos nas lutas de 2026. O que estamos divergindo agora é de um método. E esse método precisa ser debatido para que o PT não se iguale aos partidos tradicionais”, pontuou.
Para Everaldo, outro desafio fundamental é aproximar ainda mais o partido da sociedade, não apenas dos filiados, mas dos milhões de eleitores que historicamente apoiam o PT.
“O PT precisa estar cada vez mais inserido na sua base social, dialogando com seus diretórios, formando seus dirigentes e dando um salto de qualidade. O PT não é um partido apenas dos seus 100 mil ou 200 mil filiados na Bahia. Somos um partido de quase 5 milhões de votos. O PT tem que criar mecanismos novos e modernos de ouvir essas pessoas, aceitar críticas e construir uma caminhada dentro dos princípios da democracia e da busca por uma sociedade mais justa e igualitária”, afirmou.
Política Livre